ARTIGO

Infância violada

Uma menina de Sorocaba (SP) viu o mundo fora de sua casa, pela primeira vez, aos 6 anos. Ela foi resgatada de cárcere privado no início deste mês.

. -  (crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press; )
. - (crédito: Lucas Pacífico/CB/D.A Press; )

Os primeiros seis anos de vida são extremamente sensíveis para a evolução cognitiva, física e emocional das crianças — assim enfatizam os especialistas. As experiências que têm na chamada primeira infância influenciam toda a existência delas, inclusive a capacidade de aprendizado e socialização. Imagine, então, os impactos para quem chegou a essa idade sem ter contato com o mundo exterior, sem jamais ter interagido com outras crianças.

Uma menina de Sorocaba (SP) viu o mundo fora de sua casa, pela primeira vez, aos 6 anos. Ela foi resgatada de cárcere privado no início deste mês. Conselheiros tutelares contaram que a garotinha ficava deslumbrada com tudo que olhava após ser libertada.

Ela não sabe falar, apenas emite sons. Estava apática e desnutrida. Segundo as investigações, nunca se alimentou com comida sólida, somente líquida, numa seringa. Os cabelos não eram lavados ou cortados. Obviamente, também jamais foi à escola nem teve acesso a atendimento médico. Uma situação aterradora, de uma negligência inimaginável. Os pais dela estão presos.

As informações mais recentes são de que a criança, acolhida num abrigo, está recebendo tratamento de uma equipe multidisciplinar. Os primeiros exames apontaram infecção urinária e no sangue. Ela também passa por avaliação para verificar a extensão dos impactos causados pelo isolamento.  

O drama da garotinha só foi descoberto por causa da denúncia de vizinhos. Eles relataram abusos do homem contra a mulher — segundo disseram, ele raspou o cabelo dela e a obrigava a usar roupas masculinas — e contaram que ouviam gritos da criança, mas nunca a haviam visto. Agora, essa menina, que teve todos os seus direitos violados, certamente passará por um lento processo de recuperação e corre o risco de sofrer com danos irreversíveis. Mas o socorro chegou para ela. Graças a uma denúncia. E se os vizinhos tivessem ignorado a situação?

Manter crianças e adolescentes a salvo de todos os tipos de violência e negligência é um dever da família, da sociedade e do Estado, determinado pela Constituição, em seu artigo 227. Eles têm o direito de crescer livres de toda forma de crueldade e opressão.

Se souber ou desconfiar de casos de violência contra crianças ou adolescentes, denuncie. Registre a ocorrência pelo número 100, disponível também pelo Whatsapp 99611-0100; pelo Telegram (digitar "direitoshumanosbrasil" na busca do aplicativo), ou em delegacias e conselhos tutelares. Um gesto seu levará socorro a quem não consegue se defender sozinho.

 

 

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postado em 25/09/2025 06:00
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