Infância

A tragédia de Alícia

A menina foi brutalmente espancada por cinco colegas dentro de um banheiro da escola. O boletim de ocorrência registra queum garoto iniciou as agressõespor que Alicia não quis "ficar com ele"

Veio de Belém do São Francisco, no Sertão de Pernambuco, uma notícia daquelas que nos deixam devastados, que provocam dor na alma. Impossível não sentir uma profunda comoção com o sofrimento e a morte de Alícia Valentina, 11 anos.

A "menina doce" — como descreve a mãe — foi brutalmente espancada por cinco colegas dentro de um banheiro na escola em que estudava. O boletim de ocorrência registra que um garoto iniciou as agressões, porque Alícia não quis "ficar com ele". Três meninos e uma menina o teriam ajudado. A violência ocorreu na quarta-feira da semana passada.

Socorrida por funcionários da escola, Alícia foi levada ao hospital devido a um sangramento no nariz. Em seguida, mandada para casa. Mas voltou a ter sangramento, desta vez pelo ouvido. De novo, foi atendida e liberada. A terceira ida a hospitais aconteceu quando passou a vomitar sangue. Ante a gravidade do quadro, acabou sendo transferida para outra unidade de saúde e de lá para um hospital no Recife. No domingo, teve morte cerebral. No atestado de óbito consta que a criança não resistiu a um traumatismo cranioencefálico produzido por instrumento contundente. O crime segue sob investigação. 

A violência nas escolas tem aumentado assustadoramente. Levantamento do Observatório Nacional dos Direitos Humanos mostra que os casos mais que triplicaram em 10 anos — os registros passaram de 3.771, em 2013, para 13.117, em 2023. A maior parte das notificações foi de violência física, seguido de violência psicológica/moral e violência sexual.

Discursos de ódio e conteúdos violentos nas redes sociais, que impactam a sociedade, acabam se manifestando, também, na escola, como destacou a professora Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Unicamp, em entrevista ao programa Expressão Nacional, da TV Câmara.

Ela disse que diante de tamanho desafio provocado pelas mudanças rápidas e intensas na sociedade, não há uma fórmula definida para lidar com isso. "O que temos é uma urgência de ações que sejam coordenadas, porque a escola sozinha não vai dar conta", alertou. Telma ressaltou, como exemplos, a necessidade de regular as big techs e de investir em políticas públicas voltadas para esse enfrentamento.

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Mais do que um espaço de ensino formal, a escola tem de ser um local de proteção, de acolhimento e de respeito. Mas foi justamente em um lugar no qual deveria se sentir segura que Alícia foi alcançada pela violência. Os familiares se despediram dela na terça-feira, ainda atônitos com tanta  violência, ainda à espera de respostas.

 


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