
A cada eleição, a corrida política fica marcada por pautas específicas. Temas como o combate à corrupção, à pandemia e às fake news marcaram os pleitos mais recentes, por exemplo. Para 2026, as últimas semanas mostram que a ordem do dia precisa passar pelo enfrentamento ao crime organizado.
O último tentáculo exposto do Primeiro Comando da Capital (PCC) mostra que a maior facção criminosa do país pode ter relação com a adulteração de bebidas alcoólicas antes da venda, a partir da mistura desses produtos com o metanol, um líquido incolor e altamente tóxico para o corpo humano, capaz de matar. Até então, um braço do crime organizado que boa parte da população desconhece.
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Para além do inquérito aberto pela Polícia Federal na história do metanol; da execução do ex-delegado Ruy Fontes em Praia Grande (SP), em 15 de setembro; e da operação, no começo do mesmo mês, que revelou lavagem de dinheiro nas fintechs da Faria Lima; os fatos das últimas semanas escancaram um paradoxo lamentável: de um lado, estão facções criminosas extremamente organizadas e em plena ascensão, com atuações em mercados diversificados; de outro, um Estado inoperante e falho para representar e proteger a população, ainda que amparado pela Constituição.
Ficam três perguntas principais diante das repercussões dos últimos dias. Como frear o crime organizado diante da complexidade e do poder que o envolve? Com a anuência de quem essas pessoas conseguiram tamanho espaço no poder decisório do país, tendo a ousadia de até mesmo executar um ex-delegado-geral em uma rua movimentada do litoral paulista? Por último e não menos importante: se as facções criminosas estão no mercado financeiro, no tráfico de drogas e de armas, nos postos de combustíveis e, talvez, até mesmo no comércio de bebidas alcoólicas, onde mais atuam?
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São perguntas importantes que precisam ser respondidas por quem pretende concorrer nas eleições de 2026. Se a segurança pública depende cada vez mais dos estados, os governadores, administradores das polícias Civil, Militar e Penal, além do Corpo de Bombeiros, precisam apresentar políticas públicas eficientes nessa área, capazes de dar alguma saída para a população desprotegida.
É preciso pensar, sobretudo, em uma solução para o enorme deficit do sistema carcerário, as divisões de base das facções criminosas. Lá, jovens, principalmente pretos e pardos, entram como traficantes de buchas de maconha e ladrões de celular e saem assaltantes de banco e narcotraficantes.
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Aqui, não deve se eximir também a responsabilidade do governo federal e do Congresso Nacional. É necessário lembrar que boa parte da atuação do crime organizado é internacional — portanto, de responsabilidade, sobretudo, da Polícia Federal e da articulação diplomática.
Com menos ou mais responsabilidade de cada fatia do poder público, o certo é que o enfrentamento ao crime organizado exige uma união de diferentes atores, inclusive da sociedade em sua capacidade de pressão. É preciso se organizar, como as facções já têm feito há anos e anos.
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