ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista
Tempos atrás, um importante membro do PSDB foi ao Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, para trocar ideias com o governador Tarcísio de Freitas. Saiu do encontro convencido de que o governador não será candidato à Presidência da República por consequência de algumas circunstâncias especialíssimas: a primeira é a candidatura de Lula à reeleição. O governador de São Paulo não pretende enfrentar, nas urnas, o atual presidente; segundo item é que ele trocaria eleição relativamente tranquila por uma aventura arriscadíssima. Terceiro e último argumento: se candidato, ele ficaria nas mãos do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma pessoa imprevisível, cheia de mimos e exigências pessoais difíceis de serem atendidas. Melhor se recolher a São Paulo, que, afinal, comanda o segundo Orçamento da República.
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Essa decisão do governador de São Paulo abre o caminho para a candidatura de Carlos Roberto Massa Junior, 44 anos, natural de Jandaia do Sul, governador do Paraná, PSD, muito bem-avaliado pela população. Contra ele, numa primeira análise, tem o nome, Ratinho Junior, pelo qual é conhecido em todo o estado e em parte do Brasil. Sua atividade no Paraná é referência nacional pelo forte apoio ao agronegócio e pela preocupação com o sistema educacional. Ratinho Junior é o apelido herdado do pai, Ratinho, que comanda programa de televisão, em rede nacional, no SBT, com relevante índice de audiência. Ele também é proprietário das emissoras retransmissoras do SBT no estado do Paraná. Além disso, tem várias emissoras de rádio.
No primeiro momento, o nome Ratinho Junior provocava reação negativa nos seus interlocutores. Mas as primeiras pesquisas de opinião se encarregaram de mudar a percepção. Elas indicam que o nome é conhecido em todo o país, por força da televisão. No Nordeste, em especial, o nome é familiar aos eleitores. Há um funil natural que vai digerir os governadores candidatos à Presidência da República. Todos vão mostrar suas credenciais, seus objetivos e seus respectivos programas de governo. Neste momento, contudo, o possível candidato do PSD apresenta interessantes credenciais, pessoais e eleitorais, para se impor como candidato de oposição. Ele representa o novo, favorável à privatização de estatais e menor tamanho do governo. É uma novidade para enfrentar o PT, que está a cinco mandatos presidenciais consecutivos no poder, com a breve interrupção do governo Temer e Bolsonaro.
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Os governadores vão apresentar suas expectativas e terão que buscar a conciliação para que seja construída uma chapa forte, com boa representação nos principais estados da Federação. É fundamental construir bons palanques por todo o país. O presidente Lula aguarda a saída de ministros e integrantes do Centrão após o ultimato dado pela cúpula do União Brasil e do PP. O presidente sabe que não terá apoio integral do Centrão nem do MDB, mas espera conquistar fatias destes partidos.
Os movimentos de Lula são feitos sob medida para tentar sua recondução ao cargo, embalados por uma agenda positiva, que inclui a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Pelos cálculos do Palácio do Planalto, de 18 a 20 ministros devem sair no início de abril para concorrer às eleições de outubro. A portas fechadas, o presidente tem dito que pretende ver Geraldo Alckmin (PSB) de novo como vice de sua chapa em 2026, por considerá-lo extremamente leal.
Nesse cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad pode ser forte opção para concorrer ao Senado. Preocupado com a possibilidade de bolsonaristas fazerem maioria no Senado, Lula tem se dedicado a conversas sobre essas candidaturas. A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), por exemplo, deve tentar uma vaga no Senado — por Mato Grosso do Sul ou por São Paulo.
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A terceira margem desta travessia presidencial é a família Bolsonaro, que insiste em colocar um de seus membros na Presidência da República. Jair está inelegível e condenado à prisão. Depende de uma difícil anistia. Eduardo Bolsonaro ameaça deixar o PL, incomodado com a falta de estrutura para continuar a articulação que tem feito a partir dos Estados Unidos. Em bom português, isso se chama falta de dinheiro para arcar com as despesas no exterior. Ele, aliás, está ameaçado de perder seu mandato parlamentar por ter prejudicado a economia nacional com sua interferência junto ao presidente Trump de que resultou na taxação das exportações brasileiras. Prejudicou, inclusive, o agronegócio, um dos segmentos que mais apoiou Jair Bolsonaro.
Não esqueçamos dos americanos. Eles gostam de interferir na eleição alheia. Donald Trump já demonstrou ser capaz das maiores vilanias. Existe o risco de manobras de Washington tentarem modificar o resultado da eleição de 2026. Eles são especialistas em relações públicas e ultimamente estão com o cofre cheio. É o perigo que vem do Norte.
