ARTIGO

Desafios da transformação digital para o DF e a Periferia Metropolitana de Brasília

Em indicadores de transformação e inclusão digital, cidades como Brasília e Cristalina estão bem atrás de municípios pequenos e com menor nível de renda e desenvolvimento

ANDREA CABELLO e GUILHERME VIANA, pesquisadores do Observa DF e professores da Universidade de Brasília (UnB)

A transformação digital da sociedade é um processo que está em curso desde a segunda metade do século 20, mas cuja velocidade se acentuou muito recentemente, inclusive impulsionada pela pandemia da covid-19. Ela envolve a integração de tecnologias digitais nos mais diversos aspectos da vida cotidiana, seja de governos, empresas ou do cidadão em sua casa. 

Para que ocorra, é importante que as pessoas estejam incluídas digitalmente. O primeiro passo para a transformação e inclusão digital é a conectividade das cidades. Entretanto, não basta estar conectado, é importante que essa conectividade garanta uma experiência digital significativa — ou seja, permita não só o acesso, mas também o uso adequado das ferramentas digitais. 

Idealmente, cidadãos com acesso à internet rápida, de qualidade, segura e com preços acessíveis devem ter acesso a uma ampla gama de serviços públicos e informações sobre seus governos de forma fácil e disponível, e de maneira que estejam capacitados a utilizar e compreender. Mas essa não é a realidade das cidades que compõem o Distrito Federal (DF) e a Periferia Metropolitana de Brasília (PMB). 

Não há uma relação direta entre o avanço da transformação e da inclusão digital e o nível de renda e desenvolvimento local ou o tamanho populacional dos municípios. Para alguns indicadores importantes, cidades como Brasília e Cristalina estão bem atrás de municípios pequenos e com menor nível de renda e desenvolvimento. É preciso avançar bastante para alcançar a conectividade universal e significativa em todas as suas dimensões. Hoje, boa parte da população acessa a internet por meio de dispositivos móveis, que tende a ser mais cara e com velocidade inferior. Além disso, a implantação de uma indústria digital de ponta requer uma infraestrutura de banda larga e fibra ótica de alta velocidade em grande escala, algo que ainda não se alcançou de forma efetiva no DF e na PMB. 

É preciso também equipar escolas, treinar professores, trabalhadores e cidadãos em geral. O fomento de habilidades digitais é imprescindível para que a população consiga fazer o uso adequado dessas tecnologias e se beneficiar de todas as oportunidades.

Deve-se ter em conta que alguns grupos têm dificuldades maiores que outros. A inclusão digital não pode significar a exclusão social. A implantação de bilhetes eletrônicos no DF, deixando de aceitar dinheiro, dificultou o acesso da população não bancarizada, mais socialmente vulnerável. Por isso, nem sempre a digitalização significa a abolição do físico ou do presencial. É importante que se mantenham mecanismos de acesso para aqueles que têm dificuldades digitais. Ou seja, é importante promover a inclusão digital, mas também que o digital seja inclusivo.

O processo de transformação digital e inclusão digital exige políticas que direcionam esse processo. Em termos internacionais, o Brasil é relativamente avançado para seu nível de renda e desenvolvimento em questões digitais, mas há gargalos importantes em alguns municípios, regiões e setores que precisam ser sanados para que haja inclusão e transformação verdadeiras.

Não há, no DF e na PMB, uma relação direta entre participar da Rede Nacional de Governo Digital, a Rede GOV.BR, e o avanço da  transformação e da inclusão. Ou ainda entre ter políticas específicas para a transformação digital e ser um município mais inclusivo digitalmente. Isso possivelmente ocorre porque algumas iniciativas podem estar sendo realizadas sem planejamento, à medida que as necessidades locais surgem. Não significa que as políticas sejam desnecessárias, mas que os avanços poderiam ser ainda maiores e melhores caso elas existissem, fossem planejadas e executadas de forma eficiente e poderiam ter avançado mais com o apoio de outros entes federativos. 

Está na hora, portanto, da transformação digital ocorrer de forma planejada e coordenada entre os todos os atores, garantindo, assim, conectividade e inclusão a todos.

 


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