Não sei se sou maioria ou minoria, mas a verdade é que a ascensão das diversas plataformas de Inteligência Artificial (IA) que surgiram ao longo de 2025 me assustou. A princípio, temi que elas tomassem incontáveis empregos — inclusive o meu. Depois, passei a recear o impacto das respostas incorretas e o quanto poderiam prejudicar a sociedade. Recentemente, contudo, conheci entusiastas das ferramentas e fiquei confuso: afinal, a IA vai nos derrotar ou nos ajudar?
Há cerca de um mês, participo de um laboratório que mergulha nos usos e nas possibilidades das IAs. Aos poucos, tenho aprendido que essas plataformas não representam apenas ameaças, mas também oportunidades. É como mirar uma lanterna no olho de um dragão dentro de uma caverna — mas, inexplicavelmente, não ser engolido.
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Essas "oportunidades" dizem respeito, sobretudo, à substituição de tarefas repetitivas e demoradas por processos automatizados. No laboratório — apelidado de "lab" por simpáticos paulistas —, entendemos que as IAs ainda têm falhas, vieses e dependem de comandos claros, detalhados e precisos. Ou seja, estão longe da perfeição.
Nas primeiras semanas, vivi uma estranha dicotomia ao ponderar os lados positivos e negativos da tecnologia. Sentia que precisava de uma resposta definitiva: ou eu seria um entusiasta, ou um crítico ferrenho da inteligência artificial.
É surpreendente perceber que o medo das máquinas diz menos sobre elas e mais sobre nós. A IA é um espelho sofisticado — reflete intenções, ansiedades e até vaidades. Quando pedimos a ela algo, é uma forma de acelerar o tempo, de pular etapas, de driblar o esforço humano. A pressa por resultados perfeitos pode nos afastar da beleza das imperfeições humanas — erros, hesitações e descobertas que sempre moveram o conhecimento. Ao mesmo tempo, esse tempo salvo pode significar mais produtividade, resultados. Esse é exatamente o ponto central da discussão: não escolher um lado.
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A IA apresenta inúmeros riscos, mas também oferece avanços e soluções. Precisamos reconhecer as duas faces dessa moeda e encontrar equilíbrio. Se você acredita que as inteligências artificiais vão engolir o mundo e levar ao caos, está enganado. Se pensa que elas salvarão a humanidade e resolverão todos os problemas, também está. A IA pode libertar o ser humano da parte mecânica da criação, mas jamais substituirá o instinto de contar histórias. Pode ser usada como ferramenta — não como substituta.
Ignorar a presença das IAs já não é uma opção. Elas estão aí para ficar, assim como outros recursos técnicos que surgiram ao longo da história. Ainda que importantes, nossas trajetórias nunca se resumiram às ferramentas. É impensável imaginar a humanidade sem o fogo ou sem um martelo — e o mesmo vale para a tecnologia que agora se apresenta.
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A IA, por si só, não vai muito longe. A melhor forma de não temer essa ferramenta é compreender que ela depende mais de nós do que o contrário. Sem alma, o prompt não existe. Sem perguntas, todo o conhecimento acumulado nas plataformas não serve para nada.
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