Um episódio dentro de uma escola no Distrito Federal, na segunda-feira passada, chamou a atenção do país. O pai de uma aluna foi ao Centro Educacional 4 do Guará e, descontrolado, atingiu um professor com socos. A filha do agressor teria dito ao seu responsável que o docente estava proferindo xingamentos contra ela — motivo apontado para o ataque. O caso acabou na polícia e, durante as investigações, outros estudantes teriam dito, em depoimento, que essa postura do educador era comum. A Corregedoria da Secretaria de Educação do DF entrou na história para averiguar a conduta do professor. Desfecho à parte, o fato evidencia um grave problema que se arrasta sem solução no Brasil: a violência escolar.
Há décadas, essas ocorrências são registradas e, mais recentemente, transformaram-se em um fenômeno social preocupante. Segundo o Sistema de Informações de Agravos e Notificações (Sinan/SUS), que monitora esse tipo de atendimento nos serviços de saúde pública e privada, houve 60.985 vítimas de violência interpessoal em instituições de ensino de 2013 a 2023.
Por sua vez, o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania aponta que, em 2013, foram 3.771 registros de violência interpessoal no âmbito escolar, número que subiu para 13.117 em 2023, revelando um pico significativo pós-pandemia de covid-19.
Já os dados organizados no relatório Ataques de violência extrema em escolas no Brasil (2025) indicam que, entre 2001 e 2024, foram registradas 42 agressões desse tipo no país. O levantamento apresenta um recorte que assusta: os casos se concentram em um período curto, também após a crise sanitária. Dos episódios, 64% ocorreram de 2022 a 2024.
A escalada revelada em pesquisas torna urgente a discussão sobre o tema. Estudantes, professores, demais membros da comunidade educacional e a sociedade como um todo não podem seguir cercados por esse cenário de violências que vem sufocando um ambiente que deveria oferecer segurança e respeito mútuo.
A banalização das agressões físicas e verbais, incluindo a prática de bullying, precisa ser combatida — e, muitas vezes, a tentativa de solução apenas a partir dos envolvidos não é eficaz. Arrancar as raízes sociais que sustentam a violência escolar exige um esforço amplo de ações, além de conscientização. A escassez de políticas para melhorar a convivência no espaço das instituições, assim como no entorno delas, e a precarização geral do ensino são pontos fundamentais a serem resolvidos.
Está claro que diversas condições colaboram para o avanço desse cenário perturbador, o que, consequentemente, escancara a necessidade de uma articulação entre educação, saúde, assistência social e Judiciário. A garantia de que as iniciativas sejam contínuas também é fundamental.
O desenvolvimento do país depende de uma transformação estrutural do ensino e que, sem dúvida, atravessa a questão da violência escolar. Não se pode relativizar esse quadro. Discursos não resolvem o problema, muito menos propostas fáceis e rápidas. Os desafios se interseccionam, e um debate aberto precisa ser feito, instigando a participação da sociedade. A escola tem função social multifacetada, que vai além da instrução acadêmica. O Brasil não pode mais permitir que a violência siga presente nas salas de aula, prejudicando o presente e comprometendo o futuro.
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