ARTIGO

Meus desacontecimentos

Como sair do looping de melancolia e frustração que acompanha os jovens adultos? É possível chegar aos 30 anos com mais confiança do que temos aos 20?

Estou com 27 anos. Mais perto dos 30 do que dos 20. Mais para lá do que para cá. Na minha bolha social, há quem enxergue essa idade como ideal para se dedicar à vida profissional, estudar para um concurso público ou até tentar um mestrado.

Desde adolescência, perdi a conta de quantas vezes escutei que ser funcionário público, "acredite, é o melhor caminho em Brasília. Garantia de vida". Tenho amigos, porém, que se dedicam a outras prioridades, como planejamentos de casamentos e chás-de-bebê. Com a minha idade, por exemplo, meu pai já era meu pai.

Fato é que, nessa miscelânea de (des)acontecimentos, me sinto uma criança perdida da mãe em uma loja de departamento num dia de promoção. Sinto desespero. Afinal, não sei qual caminho seguir. Por sorte, conto com aliados que compartilham da minha aflição.

Lendo o clássico A sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han, constatei que esse desespero e senso de urgência — para conquistar o melhor emprego, financiar um carro, comprar uma boa casa e mostrar aos nossos pais que vencemos — tem nome: sociedade do desempenho. Trata-se de um modo de vida que valoriza a produtividade e a busca incessante por sucesso. O cansaço, portanto, é a resposta do corpo a essa cobrança.

Daí o desespero que mencionei no início, pois raras vezes agimos com a certeza de que estamos no "rumo certo" e de que não iremos fracassar. Nossos pais, quase sempre tão cheios de confiança, gostam de frisar que, no tempo deles, apesar da vida mais simples, todos eram mais felizes. Mesmo com as dificuldades financeiras, conquistaram o que hoje nos parece tão distante. É verdade que os tempos mudam e o mundo dá voltas. Mas há mais pedras no caminho.

Certa vez, perguntei a uma colega psiquiatra o que tem acontecido com as últimas gerações (das quais, me incluo). Afinal, tenho a impressão de que estamos todos exaustos o tempo inteiro. E digo mais: dificilmente encontraremos pessoas nessa faixa etária que dispensaram a terapia ou não tomam psicotrópicos.

Segundo ela, além de termos sido pegos de surpresa por uma pandemia, numa fase da vida fundamental para a construção e consolidação de laços, nos afogamos em uma enxurrada de informações, em sua maioria, negativas, e vindas quase sempre das redes sociais que, por sua vez, alimentam o sentimento de competitividade e fracasso.

Como sair, então, desse looping de melancolia e frustração? É possível chegar aos 30 com mais confiança do que temos aos 20? É de bom-tom fugir de comentários familiares a respeito de casamentos e concursos públicos? Eu não sei. Mas suspeito que o primeiro passo rumo a uma juventude menos desesperadora seja, sempre que possível, procurar refúgio no que verdadeiramente nos faz bem.

Tenho amigos que encontram paz de espírito treinando e participando de maratonas. Outros, se dedicam a hobbies diversos (crochê, jogos, culinária) e ainda há aqueles que apenas desaparecem das redes sociais mesmo. Eu, por exemplo, aprecio ter tempo de qualidade com meu cachorro e gosto de montar, minuciosamente, playlists que, para mim, são terapêuticas. E você, onde procura refúgio nos dias mais difíceis?

 


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