Divulgado, ontem, pelo Instituto Trata Brasil, o estudo Demanda futura por água em 2050: desafios da eficiência e das mudanças climáticas trouxe números alarmantes do saneamento básico no país. Segundo a pesquisa, extensos períodos de racionamentos de água podem virar uma realidade no país. A previsão é de que brasileiros e brasileiras enfrentem, em média, até 12 dias de interrupção total do abastecimento de água por ano até 2050 caso a oferta atual do serviço não se altere. Em regiões mais secas, como Nordeste e Centro-Oeste, o racionamento poderia chegar até mesmo a um mês.
O cálculo sintetiza um problema de dimensões complexas. De um lado, há as significativas perdas de água na distribuição por parte do sistema de abastecimento — estima-se que 40% da água tratada no país não chega às torneiras; de outro, uma projeção de aumento de 59,3% na demanda pelo serviço nas próximas duas décadas, diante do crescimento populacional e da expansão econômica, especialmente da indústria.
Nesse último recorte, pesam também as mudanças climáticas, que elevam as temperaturas e, consequentemente, o consumo — o estudo indica que, a cada 1°C adicional na temperatura, eleva-se o consumo per capita de água em 24,9%. Sem contar com a possibilidade clara de diminuição da chuva nas próximas décadas, uma peça-chave da equação.
Vale lembrar que o Marco Civil do Saneamento estabelece o ano de 2033 como meta para universalizar o acesso à água e ao esgoto tratado no país. No entanto, o maior desafio para alcançar o objetivo é levar o serviço para os rincões interioranos, onde a falta de investimentos em tecnologia, pessoal e planejamento se impõe.
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Em nota, Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil, alerta que o momento para reverter esse cenário é agora. "É fundamental agir agora para promover eficiência e preparar o país para enfrentar os desafios que as mudanças climáticas trarão nos próximos anos". Os desdobramentos, continua, terão "impactos severos na saúde e na qualidade de vida das pessoas". O ponto de partida, segundo ela, é melhorar a eficiência no sistema, reduzindo perdas e equilibrando ofertas e demandas.
Parte da solução passa pelos chamados consórcios intermunicipais. Em vez das prefeituras menores atuarem de maneira isolada, a formação de conglomerados fortalece os municípios na busca por investimentos. Essa união pode, inclusive, facilitar a concessão à iniciativa privada, apesar dessas empresas, historicamente, não prestarem um serviço necessariamente melhor do que as autoridades públicas. Há, ainda, outro desafio óbvio: como atrair investimentos também para as regiões mais vulneráveis?
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No plano nacional, a administração de Lula corre contra o tempo para cumprir a meta prevista pelo Marco Civil do Saneamento - o que também será incumbência de quem assumir o Planalto a partir de 2027. No Congresso, a classe política até tentou ampliar o prazo traçado para 2033, mas a repercussão negativa fez o projeto caducar. O recado da sociedade é direto: não dá para falar em país desenvolvido sem saneamento básico para 100% dos brasileiros.
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