ARTIGO

Incluir para resistir: o futuro das cidades

Cidades só serão resilientes se forem também inclusivas: proteger os mais vulneráveis, construir com os cidadãos e integrar a perspectiva de gênero é o caminho para um futuro urbano justo

 A biodiversidade urbana desempenha um papel crucial nas cidades brasileiras. -  (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
A biodiversidade urbana desempenha um papel crucial nas cidades brasileiras. - (crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

 

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Claire Markgrafdiretora C40 para Financiamento de Cidades; Ana Zornig Jaymepresidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC)Suzanne Spoonerresponsável do Pólo de Territórios no Brasil na Agência Francesa de Desenvolvimento

O mundo se urbaniza rapidamente: hoje, metade da população mundial vive em cidades e, em 2050, serão 70%. A ONU-Habitat alerta que, sem mudanças, o número de pessoas em áreas precárias pode dobrar até 2030, atingindo 2 bilhões. No Brasil, os impactos da crise climática recaem de forma desigual: moradores de assentamentos informais, famílias de baixa renda, mulheres e idosos estão mais expostos a ondas de calor, enchentes e deslizamentos. O acesso à moradia, transporte, energia, água e saneamento permanece desigual. Para que a transição climática seja eficaz, precisa ser também justa. 

A biodiversidade urbana desempenha um papel crucial nas cidades brasileiras. A urbanização desordenada fragmenta habitats e agrava ilhas de calor. Desde 2007, o Grupo AFD (Agência Francesa de Desenvolvimento) mobilizou 1,2 bilhão de euros para proteger e restaurar ecossistemas urbanos. Soluções baseadas na natureza, como parques urbanos, agricultura urbana e fachadas verdes, fortalecem a saúde pública, a promoção de ecossistemas saudáveis, melhoria da qualidade da água e do ar, e resiliência. Um guia técnico de biodiversidade urbana ajuda as cidades a integrarem essas abordagens no planejamento. Cidades só serão resilientes se forem também inclusivas: proteger os mais vulneráveis, construir com os cidadãos e integrar a perspectiva de gênero é o caminho para um futuro urbano justo.

Projetos concretos ilustram como esses princípios podem se transformar em resultados reais, como o da Caximba Resiliente, em Curitiba. Cofinanciado pela AFD e apoiado pelo C40 com 38 milhões de euros, o projeto garante acesso a serviços urbanos essenciais para os mais vulneráveis, leva saneamento, parques lineares e participação comunitária a mais de 10 mil pessoas, tornando o bairro modelo em resiliência urbana.

O projeto do Bairro Novo do Caximba é um marco da adaptação climática em Curitiba, integrando infraestrutura, natureza e participação comunitária em uma área vulnerável, e tornando-se referência para o desenvolvimento urbano sustentável da cidade. Além dele, o Centro 4D, em Porto Alegre, com o apoio de 52 milhões de euros da AFD e do Banco Mundial, adapta o centro urbano às mudanças climáticas, reduz riscos de inundação e promove transporte sustentável para 279 mil habitantes.

Redes de cidades globais, como a C40 Cities, desempenham um papel crucial ao conectar líderes municipais, trocar experiências, disseminar soluções inovadoras e apoiar cidades na preparação de projetos climáticos que podem ser conectados em plataformas de parcerias para financiamento, como a AFD e outras instituições financeiras.

Estratégias financeiras bem elaboradas podem transformar rios, corredores verdes e outras soluções baseadas na natureza em motores de inclusão e resiliência urbana. Investir nessas soluções não é apenas bom para o clima, é bom para as pessoas e para as economias locais. Parcerias entre C40 e AFD, por exemplo, estão ajudando a mobilizar financiamento em grande escala para que esses projetos pioneiros se tornem transformações em toda a cidade, e não sucessos isolados. 

Em clima da COP30, em andamento em Belém, e da C40 World Mayors Summit, realizada no começo deste mês, no Rio Janeiro, lançamos um chamado à ação: não podemos pensar no clima sem pensar nas pessoas. Cidades melhores são cidades mais inclusivas e justas para todos. 

Mobilidade, habitação, lazer e serviços devem ser projetados para que cada pessoa possa usufruir plenamente da cidade. Esses devem ser integrados com planejamento de soluções baseadas na natureza e na promoção de resiliência local. E isso só é possível ao envolver as comunidades locais no desenho de projetos de desenvolvimento urbano.

O futuro urbano decide-se nos bairros, com a participação das comunidades e, em especial, das mulheres. As cidades brasileiras têm um grande potencial pela riqueza cultural, social, ambiental e econômica que elas têm. É agora que devemos agir para garantir cidades brasileiras verdes, prósperas e resilientes para as próximas décadas.

 

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Por Opinião
postado em 21/11/2025 06:00
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