
Quando se é jornalista, a gente rema mesmo em terra firme. Aquele exercício diário e repetitivo, às vezes sem parecer que sai do lugar, porque as notícias são diferentes, mas a prática é recorrente. No sentido figurado, remar significa esforçar-se muito, lutar ou trabalhar persistentemente para alcançar um objetivo, especialmente em face de dificuldades, diz o Google. É assim na Redação; é assim na vida. Mas não é necessariamente assim quando estamos de fato remando.
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Há um tempinho, adotei a prática da canoa havaiana e descobri o que é remar e, de fato, sair do lugar. Em todos os sentidos. Sair de um lugar de aperreio e ganhar tranquilidade. Sair da inatividade e ganhar de brinde um nascer do sol esplendoroso. Sair da solidão dos dias comuns e ganhar parceiros de treino que me ensinam como a canoa pode melhorar meu trabalho, além de todo o resto.
Mas o que há em comum entre o jornalismo de qualidade, a apuração de uma notícia e um treino de canoa havaiana? Cada remador tem funções específicas, definidas pela localização do barco. Aquele que vai na frente chama voga e o que está atrás, na posição 6, é o leme. Cada posição tem funções de sincronia, ritmo, potência, vigilância e manobra. Todos com coluna ereta, ombros relaxados e usando a força do core e do tronco, e não apenas dos braços.
Nesse compasso, entendemos como é uma equipe completa e unida que dita a harmonia. Assim como numa Redação, em que cada um deve fazer o melhor dentro de sua função, para que o jornal saia no dia seguinte ou a todo momento, que é o ritmo de hoje. Creio que sou uma profissional melhor, que entende não apenas o ritmo da notícia, mas também da vida e das parcerias que importam desde que comecei os treinos.
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Contraditoriamente, neste sábado, levei uma invertida da canoa. Eram 6h e já estava no Lago Paranoá para um treino maravilhoso de 14 quilômetros, ida e volta da nossa base no Clube do Exército até a Ermida Dom Bosco. Às 6h20, uma fonte me ligou para contar sobre a prisão de Jair Bolsonaro. E eu na canoa. Ligou de novo. E eu ainda na canoa. A fonte tirou onda. Disse que eu falhei como lemista, uma alusão à minha função no jornal, que é chefiar a Redação. O remador 6 (Leme) é o capitão da canoa, que comanda a direção da embarcação usando um remo específico. Podíamos ter dado a notícia em primeira mão, uma das taras de jornalistas, mesmo em tempos da informação em tempo real.
Pois é. Acontece. Era um respiro necessário. Na quarta-feira, houve a prisão do presidente do Master, Daniel Vorcaro, e o afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. Na quinta-feira, em pleno feriado, o presidente Lula indica Jorge Messias para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Dizem que ele enfrentará trovoadas na sabatina no Senado. Mas como bom pernambucano, o conterrâneo Messias parece ser resiliente, teimoso e cheio de pirraça, expressão usada no filme O agente secreto, do também recifense Kleber Mendonça Filho. A semana foi muito intensa. Todo dia, um susto, e eu adoro isso até hoje.
Notícia não para, mas, em algum momento, a vida pede passagem — e eu sigo por ela remando, respirando, flertando com a natureza, mas ainda amando a notícia incondicionalmente e agradecendo às minhas fontes pela lembrança de sempre e a insistência para me resgatar de um momento bom para outro, que eu confesso também amar. Como disse o ex-presidente José Sarney a mim e à Denise Rothenburg, ambos atentos repórteres e filhos de pernambucanos, no nosso tradicional café da manhã, na sexta-feira, uma boa amizade é a melhor coisa da vida.
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