
Denise Santana — teóloga, doutora em teologia, jornalista e historiadora
Os evangélicos ganharam destaque e chamam a atenção dos políticos nas eleições por causa do aumento numérico do segmento: de 21,6%, segundo Censo de 2010, para 26,9 %, em 2022, com crescimento de 5,2 p.p., de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tomaram a iniciativa de ocupar os espaços públicos como uma estratégia para influenciar a sociedade brasileira. Em muitas igrejas evangélicas, sempre foi comentado que os crentes deveriam estar em lugares altos, de acordo com a linguagem bíblica. Lugares altos são cargos de destaque na sociedade.
A Teologia do Domínio, o Dominionismo, existe para colocar em prática a expansão. É uma corrente teológica que defende que cristãos exerçam influência sobre as estruturas sociais porque Deus deu aos seres humanos a capacidade de dominar sobre a criação. As características dessa teologia são a cosmovisão que Deus ordenou que as pessoas dominassem a Terra, e isso inclui controle político e social. Adeptos da corrente baseiam-se no texto bíblico de Gênesis 1:26-28. Há, ainda, o mandato cultural que diz que a missão cristã não é somente fazer proselitismo religioso, que chamam de evangelizar, mas governar a sociedade para moldá-la aos valores cristãos, o que prepararia o caminho para a segunda volta de Jesus Cristo.
Como se daria esse domínio? A crença é de que a igreja cristã, principalmente evangélica, deve ocupar áreas sociais, culturais e políticas, alinhando esses setores aos princípios bíblicos. A doutrina fala em influenciar as sete áreas da sociedade, que são: o governo, a educação, a economia, a mídia, as artes, a família e a religião. No Brasil, a ênfase nas sete áreas recebe apoio das igrejas neopentecostais, de movimentos politizados, das redes de líderes que se autointitulam apóstolos, de pastores independentes, que não são ligados a nenhuma denominação, e de instituições internacionais. Quanto aos apóstolos, esses homens geralmente são adeptos do neopentecostalismo. Defendem que os apóstolos trariam valores de justiça, prosperidade, paz e amor ao mundo. Em troca, esses líderes receberiam a transferência de riqueza dos perversos para a igreja.
Há sinais que ajudam a reconhecer a difusão da Teologia do Domínio. Poderíamos falar das sete áreas, mas vamos citar somente o aspecto político. Por exemplo, frases como "ocupar as sete áreas da sociedade". Também há discursos sobre tomar o controle da nação com frases como "o Brasil é do Senhor, e nós iremos governar", "a igreja vai assumir o governo desta nação" e "Deus levantará cristãos para dominar a política". Existem fortes indícios de adequação à Teologia do Domínio se o discurso religioso, chamado de ministração ou pregação, falar sobre governo, ocupação política, leis alteradas e autoridade nacional.
Mas não podemos generalizar. Os evangélicos têm a cultura de orar pelas autoridades baseados em textos bíblicos. Por isso, nem toda pregação que cite governo e autoridades deve ser interpretada como adepta da corrente. Cada caso deve ser analisado separadamente. Não é toda a igreja evangélica que defende o Dominionismo. São alguns segmentos dentro do grupo que pensam que o país deve ser governado por princípios bíblicos, que cristãos têm o dever de assumir posições de poder e que a política é território espiritual a ser conquistado. Essas visões podem aparecer em partidos, frentes parlamentares e movimentos evangélicos com mobilização política.
Outro sinal claro da corrente é a defesa da batalha espiritual ligada à política com a demonização de partidos, ideologias ou políticos afirmando que existe um espírito maligno no governo. Há a oração contra autoridades específicas, para quebrar cadeias espirituais sobre o Congresso Nacional e tomar o território político. Existe uma mistura explícita entre púlpito e campanha política. A teologia não se caracteriza somente pelo apoio a um candidato específico. É mais do que isso. No Dominionismo, a política vira parte da missão espiritual, o culto se torna comício e pastores ou apóstolos dizem que votar é uma guerra espiritual. A ideologia política da liderança da igreja é mostrada como parte do plano de Deus para dominar a Terra.
É comum ver promessas proféticas sobre domínio social ou estatal com adeptos dizendo que teve revelação especial de Deus de que a igreja teria maioria no Congresso Nacional e que governaria a educação do país.
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