O Natal é uma celebração associada à partilha e esperança, quando, tradicionalmente, famílias e amigos se unem para festejar. Porém, no Brasil, a data também coloca em evidência uma realidade incômoda: a desigualdade social. Enquanto parte da população se junta ao redor de mesas fartas e troca presentes, milhões de pessoas enfrentam a fome, o desemprego e a insegurança.
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Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 48,9 milhões de brasileiros (cerca de 23,1% da população) viviam abaixo da linha da pobreza e 7,6 milhões (aproximadamente de 3,5%) estavam em situação de extrema pobreza ou miséria em 2024. Os números, baseados em critérios do Banco Mundial, representam os menores níveis da série histórica iniciada em 2012, mostrando avanços significativos.
As estatísticas, porém, continuam elevadas e extremamente preocupantes, não podendo ser ignoradas. Estudo global divulgado, neste mês, por um grupo de 200 economistas, alerta que a desigualdade brasileira "permanece entre as mais altas do mundo", com os 10% mais ricos acumulando 59% dos rendimentos nacionais, e os 50% mais pobres, 9%.
O período de festas de fim de ano, que desperta a solidariedade, também expõe de maneira contundente os contrastes e, principalmente, mostra o tamanho do desafio que o país precisa enfrentar para alcançar uma sociedade mais justa. O espírito natalino, nesse contexto, deixa de ser simbólico e passa a exigir respostas concretas.
As campanhas, as doações e as diversas ações voluntárias são importantes, só que não bastam diante do problema estrutural e histórico. A questão é que, passado o mês de dezembro, a dura realidade das diferenças sociais e da exclusão permanece assombrando quem não tem acesso a uma vida digna. O chamado coletivo à responsabilidade social precisa ser permanente, já que as disparidades não se resolvem com gestos periódicos.
Cabe aos governos assumirem seu papel nessa luta, fortalecendo políticas públicas de combate à pobreza, à fome e à desigualdade. Programas de transferência de renda, acesso a serviços básicos e oportunidades de trabalho não podem depender de compaixão. A ajuda efetiva exige continuidade, planejamento e compromisso das mais diversas instituições.
O setor privado, por sua vez, não pode se limitar a atitudes esporádicas. As empresas devem assumir o papel de participar da promoção de práticas justas, por meio de empregos dignos e apoio consistente a iniciativas sociais transformadoras. Fato é que a desigualdade exige ações consistentes e duradouras para garantir uma redução sustentável.
A concentração de renda afeta diretamente o desenvolvimento econômico e humano, causando um persistente atraso no crescimento. Nos tempos atuais, então, os desafios no combate às diferenças ganham novos contornos. A era digital globalizada apresenta ferramentas e oportunidades com potencial de contribuição relevante na construção de uma sociedade brasileira com maior igualdade. No entanto, se as possibilidades não forem verdadeiramente universalizadas, os benefícios se transformam em obstáculos e tendem a agravar a situação.
Superar a desigualdade social exige um programa nacional integrado e de longo prazo. Sem esse enfrentamento, o país seguirá limitado em seu potencial de desenvolvimento. Com esse cenário que salta aos olhos diariamente, o Natal deve ser um momento de reflexão também sobre o coletivo, motivando políticas públicas, inspirando a sociedade e alertando sobre a urgência de proporcionar condições dignas para todos os brasileiros.
