Roberto Amorim — diretor-superintendente da Ecovias Capixaba
Dizem que o Espírito Santo existe apenas para separar o Rio de Janeiro da Bahia, ou, em algumas versões, para ser a pausa discreta entre o Sudeste e o Nordeste. Quem repete essa brincadeira talvez nunca tenha cruzado a BR-101. Porque é ali, no asfalto que corta o estado de ponta a ponta, que o Espírito Santo mostra a sua verdadeira força: a de ligar o Brasil, literalmente.
Desde a década de 1970, a BR-101 é o eixo que conecta o Sul e Sudeste ao Nordeste do país. Cerca de 90% do PIB capixaba está em sua área de influência: dos cafés do norte aos blocos de granito, da celulose às frutas tropicais, dos caminhões que seguem rumo aos portos até os carros que chegam das montadoras do Sudeste. A rodovia não é apenas uma via de transporte. É um fio condutor da economia capixaba, um corredor por onde circulam oportunidades, empregos e desenvolvimento.
E essa importância pode ser medida em números quando são analisados os impactos diretos, indiretos e induzidos das obras de duplicação da BR-101, e como influenciam o PIB, o PIB per capita e o emprego nos municípios e microrregiões às margens da rodovia. Nos últimos anos, com a sua duplicação, esse papel ganhou uma nova dimensão, como aponta o Estudo de Impacto Ecovias Capixaba, da Futura, consultoria especializada em pesquisa e análise econômica. O Espírito Santo consolidou-se como um hub logístico nacional. Só em 2024, as exportações para outros estados somaram mais de R$ 512 bilhões, e as importações, mais de R$ 395 bilhões. E toda essa riqueza trafega pela BR-101.
As obras somam R$ 7,3 bilhões de impacto no PIB estadual, geram mais de 109 mil empregos diretos e indiretos e injetam R$ 2,9 bilhões em salários e remunerações. Além disso, movimentam
R$ 519 milhões em impostos, dos quais R$ 222 milhões em ICMS retornam diretamente aos cofres públicos. Em termos simples: a cada R$ 100 investidos na BR-101/ES/BA, o Espírito Santo ganha R$ 114,25 em PIB, dos quais R$ 40,25 são refletidos diretamente em renda para os capixabas.
Mas o impacto vai além dos números. A duplicação que está em andamento já deu os primeiros sinais de mudanças no ritmo da vida de quem mora e trabalha ao longo da rodovia. É menos tempo no trânsito, mais segurança nas viagens e mais oportunidades para quem depende dessa estrada para produzir, vender, transportar e sonhar. Para se ter uma ideia, o PIB per capita capixaba supera o nacional desde 2008 — com R$ 51.907 contra R$ 51.530 em 2023 —, promovendo maior desenvolvimento socioeconômico no estado, com a BR-101 cumprindo papel de protagonista nesse cenário.
A importância da BR-101 é tal que o governo federal e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) compreenderam a necessidade de modernização contratual do modelo de concessão, com novos parâmetros e regras claras e seguras juridicamente para viabilizar mais de R$ 7 bilhões em investimentos em infraestrutura, segurança e tecnologia para a rodovia. Trata-se de uma grande evolução em uma estrada por onde passa uma verdadeira revolução na economia capixaba.
Há quem enxergue o Espírito Santo como um estado discreto. Mas os dados mostram outra realidade: a cada quilômetro duplicado na BR-101, ele amplia a sua relevância nacional. Nosso território pode ser pequeno no mapa, mas é grande na capacidade de gerar riqueza, distribuir produtos e integrar regiões.
Entre 2025 e 2029, estão previstos R$ 137 bilhões em novos investimentos no estado, e boa parte deles se concentra exatamente ao longo da BR-101. O que significa que essa rodovia continuará sendo o palco do desenvolvimento capixaba por muitos anos.
Mais do que uma estrada, a BR-101 é um elo entre pessoas, mercados e ideias. É uma síntese do Espírito Santo: reservada, eficiente e absolutamente essencial. Talvez o país ainda leve um tempo para reconhecer isso plenamente. Mas quem dirige por aqui, quem vive por aqui, quem trabalha por aqui já sabe: o Espírito Santo não separa nada — ele conecta o Brasil.
