Francisco Christovam — diretor executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e vice-presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)
Na Arena ANTP, congresso da Associação Nacional de Transportes Públicos realizado em outubro de 2025, especialistas do setor debateram as perspectivas e tendências para o transporte público coletivo de passageiros para 2026. Com o objetivo de se realizar uma análise conjuntural, os painelistas destacaram que o novo ano será estratégico para o desenvolvimento do setor, diante de oportunidades para inovação e modernização e de um ambiente regulatório mais maduro, além de um novo ciclo de investimentos.
Entretanto, persistem desafios estruturais de financiamento e uma necessidade de adaptação às demandas sociais e ambientais, exigindo dos "stakeholders" uma análise estratégica para navegar entre tecnologia, economia e política.
O transporte coletivo é um serviço público essencial, fundamental para a organização urbana e para a qualidade de vida nas cidades, mas a capacidade do setor de cumprir sua função está diretamente ligada ao preparo dos órgãos gestores e à existência de fontes de recursos para investimentos e custeio. O contexto eleitoral de 2026 torna ainda mais relevante a definição de estratégias para superar os desafios, influenciando o futuro da mobilidade urbana nas próximas décadas.
A segurança jurídica deve ser fortalecida pelo Marco Legal do Transporte Público Coletivo, em fase final de discussão no Congresso Nacional, que trará exigências operacionais e de fiscalização mais rigorosas. Entre os avanços, destaca-se a diversificação dos modelos de contratação, como parcerias público-privadas (PPPs) e novos tipos de contratos de concessão, permitindo dissociar parte do risco tarifário do risco do investimento em infraestrutura e no material rodante.
O aumento dos investimentos públicos e privados está sendo promovido por uma estratégia federal coordenada, com destaque para o papel do BNDES como indutor de investimentos. O Estudo Nacional de Mobilidade Urbana, desenvolvido em parceria com o Ministério das Cidades, mapeou cerca de 200 projetos, de média e alta capacidades, em 21 regiões metropolitanas, totalizando quase R$ 450 bilhões de investimentos no setor e oferecendo previsibilidade ao mercado para novos tipos de contratação. A predominância de projetos em regiões metropolitanas reforça a necessidade de coordenação entre as diferentes esferas de governo, estimulando estados e municípios a fortalecerem ou a criarem autoridades metropolitanas, essenciais para integração modal e tarifária módica e eficiente.
O uso de novas tecnologias será o principal catalisador de eficiência, sustentabilidade e atratividade do transporte coletivo em 2026. A coleta de dados possibilita a otimização de rotas e de horários, enquanto a inteligência artificial (IA), incorporada não apenas à gestão de frotas, mas também para aprimorar a experiência do passageiro, deverá oferecer previsões mais precisas e integração entre os diferentes modais.
Na agenda ambiental, a eletrificação da frota é apontada como vetor de sustentabilidade; porém, em 2026, o principal desafio será a infraestrutura de recarga dos veículos elétricos. Atualmente, menos de 1% da frota de transporte coletivo é movida à tração elétrica, e a expansão depende de investimentos na adequação das redes de energia locais. A utilização de outras tecnologias, como o ônibus movido a biometano, amplia a capacidade de substituição da frota diesel por veículos menos poluentes. Essa substituição depende da estruturação de projetos de infraestrutura para a transição energética do setor.
Em ano eleitoral, com eleições majoritárias, certamente o financiamento do transporte coletivo estará no centro das discussões. A Tarifa Zero, implementada em mais de 170 municípios (a maioria de pequeno e médio porte), divide opiniões e será tema das discussões em 2026. Estudos apontam para o aumento expressivo da demanda e de benefícios sociais, mas o custo operacional é o principal entrave. Propostas como a adoção de um Sistema Único de Mobilidade (SUM), inspirado no SUS e previsto na Proposta de Emenda à Constituição - PEC 25/2023, sugerem custeio compartilhado entre União, estados e municípios, oferecendo alternativa para o dilema das receitas extraordinárias nos orçamentos municipais.
A análise desses cenários leva à conclusão de que o ano de 2026 trará oportunidades para inovação e modernização do setor, mas o progresso depende da convergência entre tecnologia, investimentos e ação política, transformando demandas sociais em compromissos duradouros, promovendo um transporte coletivo de qualidade, acessível e sustentável para todos.
