PRESIDENTE DA CÂMARA

"Reação desproporcional", diz Maia sobre ameaça de Bolsonaro a jornalista

Ao deixar a Catedral de Brasília, Jair Bolsonaro foi inquirido sobre os repasses de Fabrício Queiroz à Michelle Bolsonaro. "Vontade de encher tua boca de porrada", disparou o chefe do Executivo contra o profissional

Luiz Calcagno
postado em 24/08/2020 14:00

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reprovou os ataques do presidente da República a um repórter nesse domingo (23/8). Ao deixar a Catedral de Brasília, Jair Bolsonaro foi inquirido sobre os repasses de Fabrício Queiroz à Michelle Bolsonaro. “Vontade de encher tua boca de porrada”, disparou o chefe do Executivo contra o profissional. Maia afirmou que se ofender com uma pergunta “é da natureza humana”. Mas, para ele, a reação foi desproporcional.

“Não é bom. Claro que muitas vezes as perguntas que vocês fazem, a gente não gosta. Fica com raiva. É da natureza humana. Mas, não cabe uma reação desproporcional como a do presidente. A gente tem que entender que as nossas liberdades, a liberdade individual, de imprensa, de expressão, religiosa, tem importância fundamental em qualquer civilização e sociedade. Não podemos esquecer disso”, afirmou.

Maia também destacou que o ataque de um presidente da República a um jornalista que está fazendo o próprio trabalho gera impactos negativos “internamente e externamente”, e lembrou que o presidente, mais recluso desde que apoiadores passaram a serem investigados por fake news e manifestações antidemocráticas, obteve ganhos com o período de calma institucional. “Os últimos 66 dias foram muito positivos para o Brasil e próprio governo, e seria bom que a gente mantivesse o mesmo caminho, sempre tratando a liberdade de imprensa como uma questão inegociável para a democracia”, reforçou.

As falas ocorreram em entrevista à rádio gaúcha Zero Hora. Questionado sobre os repasses feitos pelo ex-policial militar, amigo da família Bolsonaro e ex-assessor de um dos filhos do presidente, à Michelle Bolsonaro, porém, Maia não quis responder.

“Não vou entrar nesse caso. É uma questão que está na Justiça, Ministério Público. Cabe a eles tratar desse assunto. Não cabe trazer esse tema para dentro da política que vai gerar mais atrito”, disse. “Importa pra todo mundo (o assunto). Mas não cabe ao presidente da Câmara tratar desse problema”, completou.

Impeachment

Sobre impeachment, o parlamentar manteve a tônica do que vem dizendo ao ser questionado sobre os diversos pedidos de impeachment contra Bolsonaro na presidência da Câmara. Esse não é o momento e a pandemia é mais urgente. “Vamos chegar a 120 mil mortos, milhões de contaminados, uma crise econômica, e prefiro focar a pauta da Câmara nesses assuntos. Não acho que o impeachment possa ser um instrumento usado a qualquer momento, Tem que ser pensado com calma, avaliar, em momento adequado, se há crime de responsabilidade ou não, e decidir. Mas, acho que nesse momento não cabe ampliar a crise política dentro do Brasil”, argumentou.

Sobre o risco de fracasso de um processo de impeachment, Maia não respondeu diretamente ao questionamento. “Eu acho que o julgamento do impeachment não é só jurídico. É político também. Então, temos que tratar tudo com muito cuidado para que não amplie e crie mais crise na política brasileira, temos que tratar tudo com muito cuidado, para que não amplie mais a crise política, e não tirarmos o foco do que é fundamental no momento, que é o enfrentamento à pandemia, que não vai acabar nos próximos dias. Ainda vamos ter meses até que a vacina chegue e a gente vacine a sociedade”, destacou.

Maia também comentou a relação com Bolsonaro, os ataques feitos pelo presidente a ele, e a influência desses ataques na pauta da Câmara. “A sociedade não pode pagar a conta dos conflitos entre políticos e entre poderes. Não posso transferir para o cidadão a conta das críticas que muitas vezes não são corretas, que eu recebo, recebi ao longo do ano passado e início deste ano do presidente da República. Ele me agride e eu faço uma votação e crio uma despesa de R$ 20 bilhões para o estado, e o cidadão paga a conta da dívida? O governo não está limitado ao Executivo. O parlamento precisa compreender seu papel e responsabilidade”, ponderou. “Cada votação tem impacto na vida das pessoas. Tento me colocar no papel do poder Executivo que organiza o orçamento público, mas temos uma grande responsabilidade, que me impõem a responsabilidade das pautas que eu coloco para votar na Câmara”, continuou.

“Nas conversas pessoais, sempre foi muito positiva. Quando ia nas entrevistas, ele me atacava demais. Parou nos últimos meses. Espero que continue assim, espero que o episódio de ontem não se repita. Não é bom. Causa tensionamento. Mas minha relação com ele no pessoal sempre foi positiva. Ele sabe da minha posição de independência com o governo, da minha convergência na maioria das pautas econômicas, tirando criação de impostos, que sou contra. E na pauta de valores, divergimos. Eu nunca disse que pautaria essas matérias, e coloque na minha campanha para a presidência independência e diálogo, que a gente faz sempre”, acrescentou Maia.

 

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