O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afastado do cargo nesta sexta-feira (28/8) pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por 180 dias, afirma que está sendo vítima de uso político do caso investigado. A apuração, no âmbito da Operação Placebo, investiga apura irregularidades na contratação de hospitais de campanha, compra de respiradores e medicamentos durante a pandemia da covid-19.
Witzel ainda acusou a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, figura próxima do procurador-geral, Augusto Aras. O caso que o envolve é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). De acordo com ele, o ministro Benedito Gonçalves, que decidiu pelo afastamento, foi induzido por Lindora.
“Que está se especializando em perseguir governadores, desestabilizar estados, com investigações rasas, buscas e apreensões preocupantes, e eu, assim como outros governadores, estamos sendo vítimas de uso político”, disse.
O governador do Rio afirma que Lindôra é próxima da família Bolsonaro, citando especificamente o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e insinuou que o afastamento se dá por vontade do presidente Jair Bolsonaro que, segundo ele, já declarou que quer o Rio de Janeiro. “Diferentemente do que ele imagina, aqui a polícia civil é independente, o Ministério Público é independente”, disse.
Novo procurador
Witzel insinuou, ainda, que o seu afastamento pelo prazo de 180 dias se dá pelo fato de que no fim do ano ele teria que escolher o novo procurador-geral da Justiça, que comanda o Ministério Público estadual. O órgão está investigando o senador Flávio Bolsonaro no âmbito do esquema das ‘rachadinhas’, de desvio de salário de servidores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) na época que Flávio era deputado estadual.
Saiba Mais
- Política STJ negou pedido de prisão contra o governador do Rio, Wilson Witzel
- Política Pastor Everaldo é preso na mesma operação que afastou Wilson Witzel
- Política Bolsonaro ri ao comentar afastamento de Witzel: 'Rio está pegando hoje, hein?'
- Política PGR denuncia Witzel e mais 8 por pagamentos a escritório da primeira-dama
“A Polícia Civil do Rio prendeu há três dias mais de 400 milicianos. Eu estou incomodando? Estou incomodando prendendo miliciano? Estou incomodando prendendo tráfico de drogas? A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio estão investigando sim, e não vão parar. Afastamento de 180? Por que em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça? Isso é um ultraje à democracia”, disse.
Ainda se direcionando ao MPF, na pessoa da subprocuradora-geral Lindôra, Witzel desafiou a apresentar qualquer prova contra ele. “Ela me adjetivou como chefe de organização criminosa. Eu quero que ela apresente um único e-mail, telefone, prova testemunha, um pedaço de papel em que eu tenha pedido qualquer tipo de vantagem ilícita para mim”, disse.
Sobre os contratos da sua esposa, Helena Witzel, cujo escritório é apontado como local para lavagem de dinheiro, ele questiona de onde vem a vantagem indevida. “Para haver lavagem de dinheiro tem que ter vantagem ilícita.Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Estão criminalizando a advocacia”, afirmou.
Investigação
Foi deflagrada nesta sexta-feira a uma operação, intitulada Tris in Idem, com atuação do Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e Receita Federal. Após autorização do STJ, que decidiu pelo afastamento de Witzel, foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra o governador, o vice-governador, Cláudio Castro, e o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).
Segundo o MPF, a investigação aponta que a partir da eleição de Witzel, se estruturou uma organização criminosa no governo, dividida em três grupos, que disputavam o poder por meio de pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos. Eles seriam liderados por empresários e lotearam secretarias estaduais, como a da Saúde.
Witzel questiona a investigação. “Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Qual foi o ato que eu pratiquei para impedir as investigações? Eu desafio quem quer que seja a dizer qual foi o ato que eu pratiquei pra atrapalhar as investigações? Mudei o secretário de saúde, eu determinei o banimento das organizações sociais (OSs) do nosso estado, porque entendi que elas, infelizmente, não atendem os interesses públicos; determinei auditoria em todos os contratos e a suspensão do pagamento”, disse.
Segundo o governador afastado disse, as buscas e apreensões foram baseadas na delação premiada do ex-secretário de Saúde de Witzel, Edmar Santos, “um homem desesperado, um bandido que nos enganou a todos”. “Esse vagabundo entrou na Saúde do Rio quando eu avisei que não toleraria corrupção. Tentou ludibriar a todos nós, e no meu governo, corrupto rapidamente é identificado”, disse.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.