Governador afastado

Witzel acusa subprocuradora e diz que está sendo vítima de "uso político"

"Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei?", questionou governador do Rio de Janeiro afastado em pronunciamento

Sarah Teófilo
postado em 28/08/2020 11:49 / atualizado em 28/08/2020 13:35
 (crédito: Carl de Souza/AFP)
(crédito: Carl de Souza/AFP)

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afastado do cargo nesta sexta-feira (28/8) pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por 180 dias, afirma que está sendo vítima de uso político do caso investigado. A apuração, no âmbito da Operação Placebo, investiga apura irregularidades na contratação de hospitais de campanha, compra de respiradores e medicamentos durante a pandemia da covid-19.

Witzel ainda acusou a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, figura próxima do procurador-geral, Augusto Aras. O caso que o envolve é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). De acordo com ele, o ministro Benedito Gonçalves, que decidiu pelo afastamento, foi induzido por Lindora.

“Que está se especializando em perseguir governadores, desestabilizar estados, com investigações rasas, buscas e apreensões preocupantes, e eu, assim como outros governadores, estamos sendo vítimas de uso político”, disse.

O governador do Rio afirma que Lindôra é próxima da família Bolsonaro, citando especificamente o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), e insinuou que o afastamento se dá por vontade do presidente Jair Bolsonaro que, segundo ele, já declarou que quer o Rio de Janeiro. “Diferentemente do que ele imagina, aqui a polícia civil é independente, o Ministério Público é independente”, disse.

Novo procurador

Witzel insinuou, ainda, que o seu afastamento pelo prazo de 180 dias se dá pelo fato de que no fim do ano ele teria que escolher o novo procurador-geral da Justiça, que comanda o Ministério Público estadual. O órgão está investigando o senador Flávio Bolsonaro no âmbito do esquema das ‘rachadinhas’, de desvio de salário de servidores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) na época que Flávio era deputado estadual.

“A Polícia Civil do Rio prendeu há três dias mais de 400 milicianos. Eu estou incomodando? Estou incomodando prendendo miliciano? Estou incomodando prendendo tráfico de drogas? A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio estão investigando sim, e não vão parar. Afastamento de 180? Por que em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça? Isso é um ultraje à democracia”, disse.

Ainda se direcionando ao MPF, na pessoa da subprocuradora-geral Lindôra, Witzel desafiou a apresentar qualquer prova contra ele. “Ela me adjetivou como chefe de organização criminosa. Eu quero que ela apresente um único e-mail, telefone, prova testemunha, um pedaço de papel em que eu tenha pedido qualquer tipo de vantagem ilícita para mim”, disse.

Sobre os contratos da sua esposa, Helena Witzel, cujo escritório é apontado como local para lavagem de dinheiro, ele questiona de onde vem a vantagem indevida. “Para haver lavagem de dinheiro tem que ter vantagem ilícita.Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Estão criminalizando a advocacia”, afirmou.

Investigação

Foi deflagrada nesta sexta-feira a uma operação, intitulada Tris in Idem, com atuação do Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e Receita Federal. Após autorização do STJ, que decidiu pelo afastamento de Witzel, foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra o governador, o vice-governador, Cláudio Castro, e o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).

Segundo o MPF, a investigação aponta que a partir da eleição de Witzel, se estruturou uma organização criminosa no governo, dividida em três grupos, que disputavam o poder por meio de pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos. Eles seriam liderados por empresários e lotearam secretarias estaduais, como a da Saúde.

Witzel questiona a investigação. “Qual foi o ato ilícito que eu pratiquei? Qual foi o ato que eu pratiquei para impedir as investigações? Eu desafio quem quer que seja a dizer qual foi o ato que eu pratiquei pra atrapalhar as investigações? Mudei o secretário de saúde, eu determinei o banimento das organizações sociais (OSs) do nosso estado, porque entendi que elas, infelizmente, não atendem os interesses públicos; determinei auditoria em todos os contratos e a suspensão do pagamento”, disse.

Segundo o governador afastado disse, as buscas e apreensões foram baseadas na delação premiada do ex-secretário de Saúde de Witzel, Edmar Santos, “um homem desesperado, um bandido que nos enganou a todos”. “Esse vagabundo entrou na Saúde do Rio quando eu avisei que não toleraria corrupção. Tentou ludibriar a todos nós, e no meu governo, corrupto rapidamente é identificado”, disse.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação