ELEIÇÕES

No Rio, metade dos eleitores não escolheu candidatos a prefeito

Com 32,79% de abstenção e 19,23% de votos brancos e nulos, apenas 48% dos cariocas efetivamente optaram por algum dos concorrentes à prefeitura da capital fluminense

Simone Kafruni
postado em 16/11/2020 18:05 / atualizado em 16/11/2020 18:08
Eduardo Paes ficou em primeiro lugar, mas número de abstenções foi maior do que o somatório dos seus votos e os do adversário Marcelo Crivella -  (crédito: Alessandro Buzas/Futura Press/Folhapress)
Eduardo Paes ficou em primeiro lugar, mas número de abstenções foi maior do que o somatório dos seus votos e os do adversário Marcelo Crivella - (crédito: Alessandro Buzas/Futura Press/Folhapress)

Segundo maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro teve a segunda maior abstenção do país, de 32,79%, atrás apenas de Porto Alegre, com 33,08%, que é apenas o oitavo colégio eleitoral. No Rio, no entanto, o agravante é que o índice de ausências, quando somado com brancos e nulos (19,23%), totaliza 52,02%. Ou seja, mais da metade dos cariocas preferiu se eximir de escolher um dos candidatos à prefeitura da capital fluminense.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 4.851.887 de eleitores aptos a votar na cidade do Rio, 1.590.876 não compareceram às urnas. Entre os que foram a uma seção eleitoral, 413.962 optaram por anular e 213.138 apertaram a tecla do voto em branco. O total de cariocas que preferiu não escolher candidatos foi de 2.217.976.

O montante é muito superior ao número de votos dos dois candidatos que vão para o segundo turno: o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Paes conquistou 37,01% dos votos válidos (974.804), confirmando a liderança que já era apontada desde as primeiras pesquisas. Crivella chegou a 21,90% (576.825 ). Portanto, somente a abstenção foi maior do que os votos somados (1.551.629) dos dois.

Para o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ), desembargador Cláudio Brandão de Oliveira, a ausência dos eleitores foi acima da média, mas isso era esperado por conta do ambiente de pandemia. “O sentimento não é de frustração, não, porque a nossa missão maior era realizar as eleições. Então, acho que o tempo é um detalhe diante do que foi entregue à população do estado do Rio de Janeiro. As pessoas puderam se deslocar para o local de votação e exercer o seu direito”, disse.

Desafio para segundo turno

Do ponto de vista político, no entanto, isso será um desafio para os candidatos que vão disputar o segundo turno, segundo Paulo Baía, sociólogo e cientista político, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Como no sistema eleitoral brasileiro, o voto é obrigatório, mais da metade não ter escolhido candidato é um sinal significativo de descontentamento com todos. Ao mesmo tempo em que essa situação torna o segundo turno difícil de fazer a previsão. Os dois candidatos vão tentar sensibilizar metade dos eleitores em suas candidaturas”, disse.

Para o especialista, é difícil cravar o motivo da abstenção em 32,79%. “Pode ter sido a pandemia, doença, não encontrar a seção eleitoral, porque isso ocorreu no Rio, onde trocaram muitas de lugar. Não dá para dizer que significa rejeição aos candidatos. Já os mais de 12% nulos e 6% de brancos são de eleitores que deliberadamente rejeitaram as opções”, avaliou. O professor disse que nem é possível arriscar que, em termos proporcionais, mais votos iriam para Eduardo Paes, porque o Rio de Janeiro guarda surpresas na sua história. “Em 1992, Benedita da Silva (PT) quase venceu no primeiro turno, com 49% dos votos, mas César Maia (DEM), que tinha tido só 10%, venceu a eleição”, lembrou.

Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o aumento das abstenções ocorre desde 2004. “Esse crescimento é esperado, porque tem a ver com os registros eleitorais. Muitos eleitores faleceram, outros se mudaram e justificaram a ausência. Há problemas de cadastro e muitos idosos não são mais obrigados a votar, mas continuam registrados”, enumerou. “Este ano, ainda tivemos um fator novo que foi a pandemia”, completou.

Monteiro explicou que, geograficamente, a abstenção foi maior em bairros onde se concentram mais idosos no Rio de Janeiro, como Copacabana e Barra. “Já a questão dos brancos e nulos trata-se de protestos distintos. (Voto em) Branco, a gente entende que o eleitor está protestando contra a falta de oferta política, que nenhum dos candidatos o representa. Nulo é um protesto contra tudo e contra todos, de pessoas com aversão ao sistema político”, analisou.

Escalada da ausência

Veja a evolução da abstenção no município do Rio:

1996: 16%
2000: 19%
2004: 16%
2008: 18%
2012: 20%
2016: 24%
2020: 32,79%

Fonte: TRE-RJ

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