DISPUTA PELO 5G

Presidente da Huawei no Brasil diz que quem faz espionagem são os EUA

Depois que Eduardo Bolsonaro acusou a China de espionagem por meio da tecnologia 5G, Sun Baocheng, CEO da gigante chinesa, afirmou acreditar que as críticas do parlamentar não atrapalham os negócios da empresa no Brasil

Sarah Teófilo
postado em 03/12/2020 22:45 / atualizado em 04/12/2020 00:11
Sun Baocheng, presidente da Huawei no Brasil, em lançamento experimental da rede 5G em Goiás  -  (crédito: Sarah Teófilo)
Sun Baocheng, presidente da Huawei no Brasil, em lançamento experimental da rede 5G em Goiás - (crédito: Sarah Teófilo)

Em meio a críticas e receios de banimento, a gigante chinesa Huawei lançou pela primeira vez no Brasil, nesta quinta-feira (3/12), a conexão 5G para o agronegócio, ainda em fase experimental. O sinal foi ligado pela Claro em dois pontos no município de Rio Verde, em Goiás, estado governado por Ronaldo Caiado (DEM), aliado do presidente Jair Bolsonaro. No âmbito do governo federal, a empresa tem críticas, sendo que recentemente o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), acusou a China de espionagem via 5G.

Em entrevista ao Correio, o presidente da empresa no Brasil, Sun Baocheng, afirma que quem comete espionagem são os Estados Unidos. A disputa comercial entre os dois países no âmbito tecnológico ficou mais evidente no governo do presidente Donald Trump, que chegou a aplicar sanções contra a empresa que fornece o serviço de 5G.

“Todo mundo sabe que quem está fazendo espionagem é os Estados Unidos. Todo mundo conhece o Snowden”, disse Baocheng, referindo-se ao Edward Snowden, ex-analista da NSA (Agência Nacional de Segurança) dos EUA que divulgou informações sobre programas de vigilância do governo norte-americano ao redor do mundo.

Mercado livre

Questionado se críticas feitas no âmbito do governo federal atrapalham os negócios da empresa no Brasil, o presidente disse que não vê nenhum impacto, por acreditar que o mercado brasileiro é livre e sem discriminação. Além disso, ele ressalta ter confiança que o governo do Brasil “vai fazer o que é mais correto”, referindo-se a um possível banimento da empresa no país.

“A Huawei já está aqui no Brasil há 22 anos e nunca aconteceu nenhum acidente de segurança cibernética, e as críticas dos Estados Unidos têm falta de evidência. Então, isso não vai impactar a Huawei nos negócios aqui do Brasil”, disse. Para ele, não há nenhum tipo de desconfiança do Brasil com a Huawei, afirmando que até o momento, o governo não falou oficialmente em banir a empresa.

“O governo só disse que qualquer fornecedor pode participar da implementação do 5G se essa fornecedora respeita a proteção de dados, a segurança cibernética e a soberania”, frisou. Baocheng pontuou, ainda, que os ataques dos EUA à Huawei ocorrem em razão da alta tecnologia desenvolvida pela empresa, que ele diz ser a mais avançada do mundo. O CEO afirmou, ainda, que esta não é a primeira vez que os EUA agem assim, lembrando que antes havia resistência a uma empresa francesa. “Também não sei se no futuro haverá um dia em que o país vai fazer resistência a uma empresa brasileira”, disse.

Baocheng frisou que Huawei só presta serviço para as operadoras como Claro, Vivo e Tim. “E eles têm o controle de suas próprias redes. Os operadores também já falaram que não existe nenhuma evidência de espionagem da Huawei aqui no Brasil”, disse. O presidente ressaltou que, por ser 100% privada, a empresa tem capacidade de garantir a segurança da rede. “Como a Huawei é uma empresa multinacional também não vai acontecer nenhum tipo de acidente de segurança cibernética”, assegurou.

Nesta semana, o Reino Unido proibiu que as operadoras instalem novos equipamentos da Huawei na rede 5G a partir de outubro do próximo ano, além de ter determinado que os já instalados sejam removidos até 2027. Sobre isso, o presidente afirmou que a medida não causa nenhum impacto no Brasil.

Eduardo Bolsonaro

Sun Baocheng evitou críticas às recentes afirmações do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista coletiva após o evento, ressaltou que o Brasil é um país “jurídico” e que o governo lidera um “mercado livre e sem discriminação”. “Eu acredito que o governo brasileiro vai fazer a opção certa”, pontuou, falando ainda sobre as críticas advindas dos EUA. “Não existe nenhuma evidência. E essa resistência dos EUA contra a Huawei é porque a Huawei é uma empresa de alta tecnologia, então o que os EUA querem fazer é essa alta tecnologia”, disse.

Recentemente, Eduardo iniciou uma crise diplomática entre o Brasil e a China ao acusar o país de espionagem via 5G. Em uma série de tuítes, que ele depois apagou, disse que “o Brasil apoia o projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa", e que o governo de Bolsonaro já “declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China".

Depois disso, a embaixada da China no Brasil emitiu uma dura nota criticando o parlamentar, dizendo que suas palavras sobre a China eram "inaceitáveis", e que ele e outras personalidades têm feito declarações "infames" e que "solapam a atmosfera amistosa entre os dois países". O Itamaraty, por sua vez, enviou uma carta na qual chamou a resposta chinesa de ofensiva e desrespeitosa, dizendo não ser apropriado que “agentes diplomáticos” tratem assuntos dos dois países pelas redes sociais e que tal atitude não é construtiva e gera “fricções”.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação