Investigação

Ação da Abin na Receita é "inaceitável", diz Sindifisco

Agência Brasileira de Inteligência teria elaborado dois relatórios para auxiliar a defesa de Flávio Bolsonaro no escândalo das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro

Renato Souza
postado em 11/12/2020 17:46 / atualizado em 11/12/2020 17:48
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Sindifisco Nacional, que representa os auditores da Receita Federal, reagiu contra a suposta investida da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre os trabalhos da instituição fiscal. O sindicato chamou de "inaceitável" que um órgão de governo tenha atuado para "interferir em um órgão de Estado".

O jornalista Guilherme Amado, da revista Época, revelou que a Abin produziu dois relatórios para colaborar com a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, que é alvo de uma investigação sobre um suposto esquema de rachadinha montado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

As diligências apontam que o esquema ocorreu quando Flávio era deputado estadual, e que ele teria chefiado a arranjo, montado no gabinete dele. Os relatórios da Abin teriam o intuito de orientar a defesa do senador para tentar anular o caso — citando supostos acessos indevidos de dados fiscais do investigado por funcionários da Receita. O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), admitiu que ele e o presidente Jair Bolsonaro se reuniram com os advogados de Flávio, e que os defensores solicitaram auxílio da inteligência do governo. No entanto, Heleno havia afirmado que o caso não foi levado adiante, e que a Abin não tinha atuado em prol do parlamentar.

"Sobre as notícias publicadas pela imprensa de ingerência da Abin na Receita Federal, o Sindifisco Nacional, que representa os auditores fiscais da RFB, afirma que, caso se confirmem as informações divulgadas, o fato é inaceitável em todos os sentidos. Se não bastasse a gravidade de se ter uma agência de inteligência mobilizada para defender o filho do presidente da República, acusado de atos ilícitos, como a “rachadinha” na Alerj, não se pode admitir que um órgão de governo busque interferir num órgão de Estado, protegido pela Constituição Federal, sugerindo afastamentos de servidores públicos", informou o Sindifisco, em nota..

O presidente do Sinfisco, Kleber Cabral, afirmou que a agência de inteligência ultrapassou limites. “Ao estar a serviço de uma causa que não é republicana, a atuação da Abin passou de qualquer limite. A Receita Federal, diante do que vem sendo noticiado pela mídia, tem resistido às pressões políticas, tentativas de ingerência que precisam ter um fim imediato. É preciso uma reação por parte do próprio órgão, do Congresso Nacional e da imprensa contra esse que pode se configurar no maior escândalo da República”, afirmou Cabral.

Em nova nota, publicada nesta sexta-feira (11), o GSI voltou a negar ter atuado em prol do senador. "O GSI reitera que não realizou qualquer ação decorrente, por entender que, dentro das suas atribuições legais, não lhe competia qualquer providência a respeito do tema", informou o órgão. "As acusações são desprovidas de veracidade e abordam supostos documentos, que não foram produzidos pela Agência Brasileira de Inteligência", alegou o GSI.

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