POLÊMICA

Valor de mansão de Flávio é bem maior que patrimônio declarado em 2018

Senador diz que casa foi adquirida com recursos próprios oriundos de financiamento e venda de imóvel no Rio, cuja negociação não tem registro em cartório

Sarah Teófilo
Ingrid Soares
postado em 02/03/2021 22:59 / atualizado em 02/03/2021 23:00
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

Depois de vir a público a compra de uma mansão no Lago Sul, em Brasília, por R$ 5,97 milhões, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho número “01” do presidente da República, se explicou por meio de nota. Afirmou que “a casa foi comprada com recursos próprios, oriundos da venda de imóvel no Rio de Janeiro e com intermédio de financiamento imobiliário”. O parlamentar ainda se disse vítima de especulação pela imprensa.

O valor da casa que adquiriu é três vezes maior que o do patrimônio declarado pelo senador, nas eleições de 2018, quando era deputado estadual e buscava uma cadeira no Senado. Na época, ele declarou R$ 1,7 milhão. Entre os bens descritos, está um apartamento na Barra da Tijuca avaliado em R$ 917 mil, uma sala comercial, também na Barra da Tijuca, no valor de R$ 150 mil, 50% da participação em uma franquia de uma rede de lojas de chocolates (vendida no começo do mês passado), no valor de R$ 50 mil, e um carro da marca Volvo, que valeria R$ 66,5 mil.

A divulgação do caso ocorre em “má hora”, conforme analisaram fontes palacianas, por conta do caso das rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), na época em que era deputado estadual. O senador foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, apontando-o como "líder de organização criminosa".

Mas, no mês passado, a defesa de Flávio conseguiu anular, junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), as quebras de sigilo bancário e fiscal que constavam do inquérito. Os dados basearam diversas outras ações na investigação.

Justificativa

O senador gravou um vídeo, nesta terça-feira, no qual voltou a dizer que o fato noticiado é uma exploração, por ser perseguido pela mídia. “Mais uma vez, a imprensa tenta construir uma narrativa criminosa em cima de uma simples compra e venda de imóvel. Eu já sabia que isso podia acontecer porque é comigo. Mas eu não vou deixar de fazer nada na minha vida por medo de como a imprensa vai explorar ou distorcer isso”, disse.

Ele explicou, também, que utilizou o valor da venda de uma franquia de chocolates para compor a quantia investido na casa em Brasília. “Vendi um imóvel que eu tinha no Rio, vendi uma franquia que eu possuía também no Rio e dei entrada numa casa, aqui em Brasília. E a maior parte do valor dessa casa está sendo financiada num banco, numa taxa que foi aprovada conforme meu rendimento familiar, como qualquer pessoa no Brasil pode fazer. Então, eu lamento essa exploração com um fato simples. Isso tudo está em uma escritura pública acessível”, garantiu.

De acordo com Flavio, a venda do imóvel no Rio ainda não tem registro porque foi um instrumento particular de compra e venda que está em fase de elaboração de certidões. O senador relatou, ainda, ter oficiado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para que aumentasse a segurança no entorno da residência recém-adquirida e reclamou da exposição do endereço.

“Lamento que a imprensa exponha onde moro. Em função disso, já oficiei ao GSI, órgão responsável pela segurança do presidente e de sua família, para que intensifique a segurança aqui no entorno da minha residência. Qualquer coisa a mais é pura exploração por parte da imprensa. Tá tudo redondinho, dentro da lei e sem problema nenhum”, afirmou.

Bolsonaro também tem demonstrado preocupação de que a exposição do filho possa interferir em sua popularidade. Ele pediu que o núcleo do governo evite comentários sobre o caso.

Benfeitorias

As informações sobre a compra do imóvel foram divulgadas pelo portal O Antagonista, em 1º de março. A compra foi registrada em 2 de fevereiro no 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal.

Segundo o anúncio da casa, entre as benfeitorias são 2,4 mil m², dois pavimentos, jardim e piscina, dentro de um condomínio com apenas três residências. No piso superior, sala e copas íntimas, uma brinquedoteca, quatro suítes amplas, sendo a master com hidromassagem para o casal, closet e academia. “Na área externa, piscina e spa com aquecimento solar, iluminação em led e deck, banheiros do espaço gourmet, depósito, quatro vagas de garagem cobertas e mais quatro descobertas”.

Em nota ao Antagonista, a assessoria do Banco de Brasília (BRB) defendeu a lisura do financiamento de R$ 3,1 milhões concedido ao senador. “O banco disponibiliza às pessoas físicas um programa de financiamento imobiliário indexado ao IPCA, que oferece taxas a partir de 3,40%, ao ano, adicionado o índice de IPCA”, diz trecho da nota.

O BRB afirmou, ainda, que disponibiliza um percentual de financiamento de “até 80% do valor total do imóvel”. Sobre perguntas específicas a respeito do acordo com Flavio, a assessoria da instituição afirmou que “o BRB não comenta casos específicos de seus clientes”.

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