A nomeação do novo diretor da Polícia Federal, Paulo Gustavo Maiurino, repercutiu entre agentes, delegados e associações da corporação. A escolha incomodou grupos de delegados de concursos mais recentes, que apontam que o novo chefe passou muito tempo fora, como assessor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. Nos bastidores, alguns chegaram a chamar Maiurino de “Nunes Marques da PF”, fazendo referência jocosa ao ministro do Supremo nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Os mais receptivos destacaram que Maiurino teve experiência como delegado antes de ir para o Supremo e argumentam que o ministro da Justiça, o também delegado da PF Anderson Torres, fez uma escolha por antiguidade, com um membro de turmas de formação de delegados de 1998, e colocou no cargo alguém que tem boa relação com o Judiciário e com o Ministério Público, o que é bom para o entrosamento entre as corporações.
O novo diretor-geral ocupou cargos de chefia da Interpol e participou como investigador no Mensalão Mineiro, foi corregedor-geral do Departamento Penitenciário Nacional e, além de ter trabalhado junto com Toffoli, atuou nas Secretarias de Segurança Pública de São Paulo, do Rio de Janeiro e do DF. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) e a Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Fenadepol) divulgaram uma nota parabenizando Maiurino e destacando a trajetória do policial, afirmando que a corporação foi abandonada pelo governo de Jair Bolsonaro.
No texto, a associação e a federação também mandaram recados ao novo diretor-geral. Afirmaram que “se colocam à disposição para ajudar no objetivo de proteger e fortalecer a Polícia Federal”, e que “desejam que sua gestão deixe também como legado uma efetiva atuação que consolide a valorização da instituição e de seus profissionais, que fazem da PF um órgão de excelência reconhecido por todos”.
“Paradoxalmente, tais servidores se sentem hoje abandonados pelo governo, em momento de emergência de saúde pública nacional, diante de reformas constitucionais que injustamente lhes retiram direitos e ameaçam a continuidade da Polícia Federal como órgão forte e capaz de executar suas funções constitucionais”, segue o texto, que também parabeniza o diretor que deixou o cargo, o delegado Rolando Alexandre de Souza.
Polícia de Estado
A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) também divulgou um texto parabenizando Maiurino e mandando alguns recados ao novo diretor-geral. A federação propõe uma reunião com o indicado para “reforçar pontos que entendem como essenciais”. A Fenapef elencou três tópicos: o primeiro deles é que “a Polícia Federal é polícia de Estado, não de Governo”; o segundo, que a instituição “defende o combate incessante à corrupção; e, por último, “entende que o mais importante patrimônio da corporação é o seu componente humano”.
“A Federação Nacional dos Policiais Federais não se furtará à defesa intransigente de todos os policiais federais e da melhoria e independência das investigações no nosso país. Também seguirá na defesa dos interesses da categoria e de todos os integrantes das forças de segurança civis do país, que já foram duramente afetados por reformas anteriores e se veem agora ameaçados pela proposta de reforma administrativa”, afirmou a entidade na nota.
Maior pacificação
Ao Correio, o presidente da Fenapef, Luís Antônio de Araújo Boudens, defendeu a escolha de Paulo Gustavo Maiurino, lembrou que ele entra em um momento de maior pacificação que o ex-diretor-geral, Rolando Alexandre de Souza, e que a fiscalização é parte do trabalho da federação. “Respeito a escolha da antiguidade para fazer a escolha do nome. Ele (o ministro da Justiça) pegou alguém que não trabalhava necessariamente nas investigações, estava cedido ao STF, mas resgatou um nome anterior, que simboliza um tempo maior de corporação”, destacou.
Boudens lembrou, ainda, que havia, por parte da população, um medo de ingerência do presidente da República na corporação na nomeação de Rolando, o que não se confirmou. “ O Rolando Alexandre fez uma direção discreta. E temos processos internos para fiscalizar (as ações da direção-geral) como entidade representativa. E apesar de o Paulo Maiurino entrar em uma situação melhor, com menos tensão, o nome foi anunciado pelo próprio ministro da Justiça, e isso tirou muito o peso dos ombros dele”, avaliou. “Mas temos que manter essa vigilância para que a PF não passe por nenhum processo de interferência”, disse.
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