CPI da Covid

CPI convoca secretária da Saúde conhecida como 'capitã cloroquina'

Quando Amazonas estava à beira de um colapso, com unidades de Saúde sem oxigênio, Mayra Pinheiro foi com uma comitiva ao estado e pressionou por uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus

Sarah Teófilo
postado em 13/05/2021 11:48
 (crédito: Anderson Riedel/PR)
(crédito: Anderson Riedel/PR)

Os senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 aprovaram nesta quinta-feira (13/5) a convocação da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde para depor. A convocação exige que a pessoa compareça à comissão, diferentemente do caso de um convite, e foi feita pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pelo vice-presidente da CPI, Humberto Costa (PT-PE), e pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL).

Mayra é chamada nas redes sociais de 'capitã cloroquina'. No início do ano, ela foi juntamente com uma comitiva para o Amazonas, poucos dias antes de o sistema de Saúde do estado entrar em colapso com falta de oxigênio, e chegou a enviar um ofício à secretaria de Saúde de Manaus pressionando a gestão municipal a utilizar medicamentos antivirais orientados pelo Ministério da Saúde contra a covid-19. No documento, ela chamava de "inadmissível" a não adoção da referida orientação.

A pasta federal vinha orientado a utilização de medicamentos como ivermectina e cloroquina, ambos sem eficácia comprovada contra a covid-19, não sendo considerados como tendo potencial efeito antiviral contra covid-19. No mesmo ofício, Mayra solicitava autorização para que pudesse realizar “visita às unidades básicas de saúde destinadas ao atendimento preventivo à covid-19, para que seja difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença”.

“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus, a não adoção da referida orientação”, pontuou.

Durante o evento em Manaus, ao falar sobre recursos executados no estado do Amazonas, a secretária Mayra Pinheiro afirmou que foram distribuídos e entregues em janeiro “120 mil comprimidos de hidroxicloroquina para o tratamento precoce da doença e mais de nove mil unidades de medicamentos para uso durante a intubação".

Na época, o Ministério da Saúde também lançou em Manaus, com a presença do ex-ministro Eduardo Pazuello, um aplicativo que incentivava o uso de remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19.

Mayra confirmou em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), revelado pelo jornal O Globo na semana passada, que a visita a Manaus tinha como objetivo orientar colegas médicos, e que dentre as recomendações feitas estava o uso de cloroquina contra a covid-19.

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, afirma que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina) sejam eficazes e seguros no tratamento da covid-19”.

Convites

A CPI também aprovou convites para que compareçam à CPI a oncologista e imunologista Nise Hitomi Yamaguchi, e os médicos Ricardo Dimas Zimmermann, Francisco Eduardo Cardoso Alves e Flávio Cadegiani, e, também, a convocação de Jurema Werneck, representante do Movimento Alerta. Nise foi citada em depoimento do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Braga Torres, que afirmou ser a média a responsável por sugerir a recomendação da cloroquina contra a covid-19 na bula do remédio.

 

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