Deportação de missionários

Republicanos pressiona Bolsonaro sobre missionários deportados de Angola

Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil/Angola disse que vai renunciar ao cargo e que o partido fará obstrução e oposição a qualquer acordo com o país na Comissão de Relações Exteriores na Casa

Israel Medeiros
postado em 13/05/2021 14:54 / atualizado em 13/05/2021 19:30
 (crédito: Divulgação/Câmara dos Deputados)
(crédito: Divulgação/Câmara dos Deputados)

A deportação de nove missionários evangélicos brasileiros em Angola, na quarta-feira (12/5), repercutiu na Câmara dos Deputados. O presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil/Angola, deputado Márcio Marinho (Republicanos-BA), anunciou que renunciará à presidência do grupo e que seu partido vai obstruir e ser oposição a qualquer acordo com Angola na Comissão de Relações Exteriores da Casa.

O parlamentar, que é evangélico, cobrou uma posição do presidente Jair Bolsonaro e revelou insatisfação com o que ele chamou de "silêncio" por parte do Ministério das Relações Exteriores. "O embaixador Rafael (de Mello Vidal) disse que deu toda a atenção. Era para a Embaixada do Brasil em Angola ter dado toda a atenção, e não foi isso que aconteceu", bradou.

"É importante que o presidente Bolsonaro fale, porque o que nós vimos nos dias anteriores foi o presidente recebendo o motorista Robson, que foi preso na Rússia. O presidente apareceu do lado dele dizendo que fez todos os contatos diplomáticos para resolver o problema. E com a gente não?", questionou o parlamentar, referindo-se ao motorista Robson Oliveira, que ficou preso por dois anos na Rússia por ter em posse um medicamento liberado no Brasil, mas proibido no país europeu.

"Hoje, nós estamos renunciando à presidência do Grupo de Amizade Brasil Angola, do qual eu sou presidente. Lá, na Comissão de Relações Exteriores, meu partido, o Republicanos, e eu estaremos obstruindo todas as matérias relacionadas a acordos tratados entre Brasil e Angola. Estaremos obstruindo e sendo oposição às ações do governo brasileiro com relação à Angola", declarou.

A situação cria um clima de instabilidade naquele que é o eleitorado mais fiel do presidente Jair Bolsonaro e foi fundamental para sua vitória nas urnas em 2018. O mandatário ainda não se pronunciou sobre o tema.

Deportação

Na última terça-feira (11), nove missionários brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus — do bispo Edir Macedo, um dos principais aliados de Bolsonaro — foram deportados de Angola, chegando ao país na tarde de quarta-feira (12). Macedo os recebeu no aeroporto pessoalmente, junto a um grupo de membros da igreja.

Segundo a comunicação da Igreja Universal, os brasileiros foram convocados pela Procuradoria-Geral da República de Angola. Ao chegar ao local marcado, eles teriam sido surpreendidos com testes de covid-19 e ficaram sob a responsabilidade de agentes de imigração sem alimentação por 12 horas. O grupo teria sido mandado de volta ao Brasil sem os pertences e sem as famílias — alguns deles estariam no país há anos.

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, afirmou que vai apurar, junto à Embaixada de Angola, quais as circunstâncias da deportação. "Também solicitarei ao Itamaraty informações sobre o ocorrido e sobre a atuação da diplomacia brasileira em relação a essa questão", disse o parlamentar.

O Ministério das Relações Exteriores foi procurado pela reportagem e emitiu uma nota detalhando que foi notificado da deportação de outros 26 brasileiros e que pedirá explicações à embaixada de Angola.

 

Leia a íntegra:

Na tarde de hoje, o Ministro de Estado das Relações Exteriores convocou o embaixador de Angola para solicitar esclarecimentos sobre a deportação de nacionais brasileiros em 11/05 e os aspectos legais associados ao caso.

Desde que a Embaixada do Brasil em Luanda tomou conhecimento da notificação de deportação dos 34 cidadãos brasileiros, manteve permanente contato com as autoridades angolanas para assegurar a devida proteção consular, que foi prestada em cada ocasião em que foi necessária. Na noite de 11/05, nove dos 34 cidadãos brasileiros embarcaram para o Brasil. O embarque transcorreu com tranquilidade, por meio de apresentação voluntária, e deu-se na presença de dois funcionários consulares brasileiros, que acompanharam o processo ao longo de todo o dia, prestando a plena assistência consular a que fazem jus os cidadãos do nosso país.

A pedido do embaixador do Brasil, foi assegurado aos demais brasileiros, que não conseguiram embarcar na noite de 11/05, o direito de aguardar o embarque em suas residências".

 

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