As investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 ainda vão bater nos estados, como mostrou o questionamento do líder do MDB, o senador amazonense Eduardo Braga (AM), ao ex-chanceler Ernesto Araújo na oitiva desta terça-feira (18/5). Porém, não há garantia que, mesmo nessa etapa dos trabalhos, o governo vá encontrar um cenário confortável para lidar com o colegiado e com o desgaste político que a CPI vem provocando em Jair Bolsoanro.
O líder partidário questionou Ernesto sobre o socorro do governo ao Amazonas, e criticou o governador amazonense, Wilson Lima (PSC), a quem chamou de “incompetente”. Porém, terminou dizendo que o requerimento de convocação do ex-chanceler deixou claro que há “um equívoco da política externa brasileira, de negacionismo e de defesa não dos interesses do povo brasileiros em salvar vidas e obter vacina e insumos”, mas de posicionamento e ideologias do governo Bolsonaro.
Ele lembrou, ainda, que a convocação do ministro foi de autoria do governista senador Marcos do Val (Podemos-ES), que também não poupou críticas ao ex-ministro no documento. “‘É fato público e notório que o senhor Ernesto Henrique Fraga Araújo, durante o período em que foi ministro das Relações Exteriores, executou na política externa o negacionismo de Bolsonaro na pandemia. Ele fez o Brasil perder um tempo precioso nas negociações por vacinas e insumos para combater o covid-19’. Quem diz é o Senador Marcos do Val”, leu Braga.
“O senhor Ernesto Araújo está na posição de ex-chanceler do povo brasileiro. O que esperar? A defesa do interesse do Brasil e do povo brasileiro, e não a defesa partidária ou de governos temporariamente no poder. A diplomacia brasileira é competente e apartidária. Estamos falando do ministro das Relações Exteriores, que trata das relações do Brasil com outros países”, lembrou. Braga pediu que o chanceler se colocasse claramente e contraditasse o negacionismo do governo no combate à pandemia “de forma clara e objetiva, dando a entender que ele não tinha se posicionado até o momento.
“Qual o interesse do país diante de uma pandemia? Salvar vidas, ter vacinas”, destacou o emedebista. “O senhor Ernesto não esclareceu isso. E o Brasil, que poderia ser primeiro, segundo, terceiro (na aplicação de vacinas), discute se é o quarto, muito atrás”, criticou, lembrando que 436.682 brasileiros morreram de covid-19 no Brasil até o último balanço.
“E no Amazonas, mais de 12.800 brasileiros morreram. Quando houve a crise de oxigênio no Amazonas, tivemos a oportunidade de falar com o embaixador da Venezuela no Brasil, que não poderia estar em Brasília, pois o governo rompeu relações diplomáticas com a Venezuela. Eu não defendo o governo Maduro, ou ‘A’, ‘B’ ou ‘C’, mas o povo brasileiro e do Amazonas. A independência ou autonomia dos venezuelanos que estabeleça o destino de seu povo”, criticou. “O governo brasileiro mandou que os representantes da Venezuela saíssem do Brasil, dando um prazo até maio de 2020, e o ex-chanceler tem que responder isso”, lembrou.
Braga afirmou que, com a crise do oxigênio no Amazonas, morreram mais de 3 mil pessoas, em janeiro último, por falta de oxigênio no estado. “A distância que nos separa da Venezuela serão alguns quilômetros asfaltados. Chegou oxigênio (da Venezuela) no Amazonas, em 20 de janeiro. E do Brasil para o Amazonas, como se o estado não fizesse parte do país, em 24 de janeiro, para ser distribuído no dia 25. Morriam mais de 200 amazonenses por dia. 30 de janeiro foram 225 mortos”, narrou.
O senador questionou, também, o ex-chanceler sobre porque a chancelaria não agiu proativamente para levar oxigênio para salvar vidas. Afirmou que o governador do estado “é inepto, incompetente, e pelo que diz o Ministério Público e Polícia Federal, não agiu com correção”. “E essa CPI terá que apurar a resposta dos que deixaram os brasileiros e amazonenses morrerem. Não apenas Bolsonaro. O ex-ministro (Henrique) Mandetta disse que não faltou dinheiro. E nós vamos perguntar ao governo (federal) e até ao governo do Amazonas, o que faltou. Faltou competência, capacidade de gestão, planejamento e vontade de salvar a vida dos amazonenses”, disparou. Segundo Braga, não houve uma ação proativa do Ministério das Relações Exteriores para facilitar esse transporte de oxigênio.
Sem resposta do Amazonas
O ex-ministro respondeu que o Itamaraty não tinha como, de maneira autônoma, avaliar o momento e as condições para responder à falta de oxigênio no estado, o que caberia ao Ministério da Saúde. Mas disse que trabalhou para providenciar um avião com capacidade para transporte de oxigênio, que viria dos Estados Unidos, que pediu especificações do produto para o governo do estado, mas que não obteve resposta.
Braga voltou a disparar contra o governador do Amazonas, mas não abandonou as críticas ao governo. “É mais criminoso ainda. Havia o avião, as tratativas, e o avião não foi utilizado para salvar vidas por não ter havido informações complementares. E, por outro lado, o Ministério da Saúde, substituindo o papel do governo do estado, também não o fez, e brasileiros, amazonenses, morriam por falta de oxigênio”, afirmou.
Ernesto também disse que o Itamaraty monitorou a vinda de oxigênio da Venezuela, para garantir que o produto não fosse retido na fronteira. “Em relação ao oxigênio vindo da Venenzuela, assim que chegou a notícia da disponibilidade de doação, determinei que se fizesse tudo que cabe ao Itamaraty para viabilizar o mais rápido possível essa situação sem percalços. Monitoramos, inclusive à noite, para comunicar que era uma doação, fizemos nosso papel sem impedimento de natureza política”, garantiu.
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