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Izalci Lucas: CPI permite ao país evitar novos equívocos com a covid

Em entrevista ao Correio, nesta segunda-feira (24/5), líder do PSDB no Senado afirma que os trabalho da CPI são importantes para questões urgentes, como o risco de uma terceira onda. Os depoimentos ressaltam, ainda, segundo Izalci, como o Brasil perdeu oportunidades com as vacinas

Pedro Ícaro*
postado em 24/05/2021 18:43 / atualizado em 24/05/2021 19:10
 (crédito: Ed Alves)
(crédito: Ed Alves)

O Governo do Distrito Federal deveria estar tomando providências preventivas no sentido de ter uma triagem nos aeroportos e nas estradas, mesmo que por meio de testagem, visto que há riscos de uma terceira onda da covid-19 em razão da suspeita da presença da nova cepa indiana em Brasília. É o que diz Izalci Lucas, líder do PSDB no Senado, em entrevista ao CB.Poder desta segunda-feira (24/5). O programa é uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília. Confira a seguir:

A CPI da Pandemia no Senado completa um mês na próxima quinta-feira (27). O que a gente pode tirar de lição neste primeiro mês? O que já foi apurado, o que acha que precisa de mais investigação em relação ao governo federal, que foi o primeiro foco da CPI nesse período?

Ouvindo todos os ministros, a gente pôde perceber claramente alguns equívocos, algumas coisas que nós agora podemos evitar. Por exemplo, está vindo uma terceira onda, inclusive a cepa da Índia que começou agora pelo Maranhão. A gente teve também a experiência de Manaus. Nós do DF, inclusive, recebemos pacientes que vieram de Manaus. O GDF já deveria estar tomando providências preventivas no sentido de ter uma triagem nos aeroportos, nas estradas. A experiência de Manaus nos dá essa oportunidade de se precaver no sentido de tomar as providências antes de que ela (nova cepa indiana) se espalhe aqui. Então, acho que tem que ter, sim, uma triagem no aeroporto, nas entradas, na parte de ferrovia, transporte de cargas. Brasília recebe muita gente de fora, então acho que, preventivamente, o GDF já deveria estar fazendo isso.

O aeroporto é questão do governo federal, inclusive, lá atrás, os estados tentaram fazer e não conseguiram. O trânsito nos aeroportos é uma atribuição do governo federal. O senhor já pediu isso ao governo?

O Estado também tem que ter a testagem. O que o GDF precisa providenciar, assim como os aeroportos, Infraero e Ministério da Saúde, é que todos os aeroportos sejam dotados de instrumentos e testes para evitar que espalhe essa cepa. A gente tem informações de que algumas vacinas já cobrem isso, mas que outras não. Então, a gente precisa se precaver.

Por falar em vacinas, a CPI investigou muito essa questão. Tivemos vários depoimentos sobre esse tema. Que conclusão a gente pode tirar a partir do que já foi ouvido e apurado na CPI?

Bem, ficou claro que nós poderíamos já ter a vacina, pelo menos 500 mil em dezembro do ano passado. Em janeiro, mais 1,5 milhão, mais três milhões. Acho que, pelo menos 5 milhões de vacinas a mais, nós perdemos justamente por não ter assinado o contrato com a Pfizer. Mas agora vem o Dimas (Covas, diretor do Butantan), no próximo depoimento, semana que vem, que vai falar inclusive sobre a questão da CoronaVac, do IFA, que infelizmente são matérias primas importadas que a gente tem que ficar na dependência da China ou da Índia. A gente vai ter que tomar a vacina, não tenha dúvida. Provavelmente todo ano ou de dois em dois anos, então, nós precisamos do domínio da vacina, não dá para ficar dependente da China ou da Índia. Temos hoje um sistema no Brasil totalmente capaz de produzir a vacina própria.

E o ritmo de vacinação aqui no DF. As pessoas estão muito ansiosas para receber a vacina e até agora estamos com dificuldades. Como o senhor vê isso e o que a CPI pode ajudar nisso?

Impressionante. O primeiro lugar hoje em vacinação é o Mato Grosso do Sul. Quem conhece o Mato Grosso sabe as dificuldades entre um município e outro. Depois, vem Rio Grande do Sul, Minas Gerais, que tem mais de 800 municípios. E aqui, em Brasília, esse quadradinho, nós estamos em nono lugar com relação à segunda dose.

É falta de vacina ou falta de logística para vacinação?

Acho que é falta de competência e de planejamento, porque a distribuição da vacina é proporcional para todos os estados, tanto é que é um sistema nacional de imunização. São Paulo, apesar de ter o Instituto Butantan, não pode usar as vacinas primeiro em São Paulo. Vai para o Ministério da Saúde e o ministério distribui proporcionalmente. Então, o DF recebeu proporcionalmente a mesma coisa do Mato Grosso do Sul, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, só que não conseguiu aplicar corretamente. Por isso, nós estamos nessa posição.

Mas o DF não tem uma situação até melhor do que em muitos estados? Uma vez que tem aqui um fundo constitucional? Como está isso? Porque não se consegue acelerar a vacinação? O senhor está dizendo que é incompetência. Se é incompetência, está faltando alguma coisa.

Por exemplo, o pessoal que está previsto agora, (do grupo de risco) de comorbidades, tem que cadastrar on-line na Secretaria de Saúde. Só que eles não conseguem se cadastrar, consequentemente não conseguem tomar a vacina. Então, tem vacina, porém tem gente que não tem condição de tomá-la. Inclusive, me preocupa muito que Brasília tenha muita gente que tomou a primeira dose e que não tomou a segunda. Tinham que fazer uma campanha na televisão, nos jornais, falando da importância da vacina e onde é que tem a vacina, como você pode ter acesso a vacina, coisa que você não vê. Então, falta isso, falta planejamento. O que me preocupa mais é uma atenção realmente com a população, muita gente na rua passando fome, as pessoas não conseguem acessar o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) para ter a cesta básica. A fome não espera o dia seguinte então o governo precisa olhar a parte social. Você vê que não só no Plano Piloto, mas em todas as cidades aumentou muito o número de moradores de rua e que estão passando fome. Essa parte social, o governo precisa ter uma atenção especial para isso.

Voltando à CPI, a comissão pretende fazer um relatório inicial já sobre essa parte, fechando, nesse primeiro mês, um relatório sobre essa questão, tanto da imunidade de rebanho quanto da vacinação. O senhor acha que tem que fazer o relatório agora ou um relatório fatiado e depois vê o dos estados. Ou esperar e fazer tudo junto? Qual sua opinião?

Eu acho que ainda está muito cedo, temos que ouvir mais, temos que entrar na questão dos estados e municípios porque quem recebeu o recurso, o maior número de recursos, foram os estados e municípios. Aqui no DF foram quase R$ 3 bilhões para ajuda na pandemia, e eu fiz já o requerimento através do senador (Eduardo) Girão e do senador Marcos do Val. Foram quase 50 requerimentos. Já recebemos os documentos e estão sendo analisados.

O senhor já analisou essa documentação? O que é possível concluir?

Já analisei e a conclusão é confirmar o que foi feito aqui, as pessoas foram presas e o argumento de defesa para soltá-las foi exatamente que o recurso era federal, portanto, se confirma agora de que existiu realmente a questão do falso negativo. O governo não percebeu que enganou a maioria da população, as pessoas estavam fazendo testes com um material inadequado que não traduzia a realidade.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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