"FRITADA"

"O tal de Queiroga": ministro sofre processo de fritura desde ida à CPI

Ministro tem sido "fritado" por Bolsonaro desde que admitiu, na CPI da Covid, a ineficácia de medicamentos contra o vírus e pregou o uso de máscara e o distanciamento social. Titular da Saúde, porém, tenta ignorar constrangimento

Sarah Teófilo
Maria Eduarda Cardim
postado em 12/06/2021 06:00
O ministro Marcelo Queiroga tem procurado agir como se contasse com o respaldo do presidente  -  (crédito: Tony Winston/MS)
O ministro Marcelo Queiroga tem procurado agir como se contasse com o respaldo do presidente - (crédito: Tony Winston/MS)

Depois de prestar o segundo depoimento na CPI da Covid, Marcelo Queiroga parece ter ficado com a situação abalada no governo. Na quinta-feira, num evento no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou “com um tal de Queiroga” e que o ministro estaria preparando um parecer para desobrigar o uso de máscara por pessoas que estejam vacinadas ou que já foram infectadas pelo novo coronavírus. A atitude do chefe do Executivo lançou dúvidas sobre a permanência do médico no cargo. É prática comum e conhecida de Bolsonaro “fritar” um integrante do governo antes de demiti-lo. O mandatário vai testando os cenários, as reações e, se houver apoio, a demissão logo chega.

“Acabei de conversar com um tal de Queiroga. Não sei se vocês sabem quem é. Nosso ministro da Saúde. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados para tirar esse símbolo (mostrou a máscara), que, obviamente, tem a sua utilidade para quem está infectado”, disse Bolsonaro. A declaração ocorreu dois dias depois que o ministro prestou depoimento na CPI pela segunda vez.

Diferentemente da primeira oitiva, nessa nova ida à comissão, Queiroga admitiu a ineficácia de medicamentos como cloroquina e ivermectina contra a covid-19, contrariando o chefe, que defende o uso do remédio desde o ano passado. No primeiro depoimento, o ministro se esquivou das perguntas dos senadores sobre as medicações, alegando que as decisões cabiam à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Questionado pelos senadores, Queiroga ainda disse que insiste com Bolsonaro para adoção de medidas como uso de máscara e distanciamento social. E afirmou: “Sou ministro da Saúde, não sou censor do presidente da República. As recomendações sanitárias estão postas, cabe a todos aderir a essas recomendações. Primeira atitude minha no Ministério da Saúde foi editar uma portaria para obrigar o uso de máscara.”

Após a declaração de Bolsonaro sobre “o tal Queiroga”, o ministro buscou colocar panos quentes. No mesmo dia, gravou um vídeo no qual afirmou que o chefe do Planalto pediu o estudo sobre a dispensa de máscaras e que isso está sendo feito. “O presidente está muito satisfeito com o ritmo da campanha de vacinação no Brasil, da chegada de novas doses, da distribuição de mais de 100 milhões de doses de vacina”, sustentou. Internamente, no Ministério da Saúde, a avaliação é de que Queiroga quer se manter no cargo, mas ainda precisa decidir como agirá diante de atitudes e declarações do chefe.
Parlamentar da base do governo, o deputado Coronel Armando (PSL-SC) creditou a declaração do presidente a uma brincadeira. “Eu conheço o perfil do Bolsonaro. Ele não estava falando no intuito de ficar ruim. Eu acho que foi na brincadeira, não acho que tornou a situação dele (Queiroga) ruim”, frisou. “Até porque, politicamente, não seria bom mudar o ministro da Saúde agora, logo depois de ter nomeado. Estive com ele (Bolsonaro) ontem e, para mim, foi uma brincadeira. Até porque, ele (Queiroga) não é conhecido ainda.”

O senador Alessandro Vieira (sem partido-SE) avaliou que a postura do presidente é no sentido de desmoralizar o titular da Saúde. “Na CPI, o ministro foi bastante objetivo quando provocado em alguns pontos. Ele se manifestou a favor do uso de máscara, contra aglomerações desnecessárias, a favor das vacinas. Ele rasgou toda a bíblia do bolsonarismo e do combate à pandemia”, ressaltou. “Então, me pareceu que foi, antes de qualquer coisa, um ritual de humilhação que o presidente fez o ministro passar.”

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