CPI da Covid

Bolsonaro quer caos nos estados para fazer intervenção "policialesca", diz Witzel

Após o encerramento prematuro do depoimento na CPI, nesta quarta-feira (16/6), o ex-governador do Rio de Janeiro fez um balanço do que conversou com senadores da comissão. Segundo o depoente, ele decidiu ir embora da sessão após governistas o trataram de forma "chula"

Luiz Calcagno
postado em 16/06/2021 17:35 / atualizado em 16/06/2021 17:35
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), aproveitou seu depoimento como convidado na Comissão Parlamentar de Inquérito da covid-19 para fortalecer a tese de que o governo federal trabalhou para sabotar estados e municípios no combate ao coronavírus. Na hora de responder perguntas sobre os escândalos de corrupção de seu estado, porém, ele decidiu deixar a sessão. Já tinha ouvido acusações do senador governista Jorginho Mello (PP-SC), que usou do próprio tempo mais para falar do que para questionar. À imprensa, Witzel se justificou, e disse que o parlamentar se referiu a ele “de forma ofensiva, leviana, chula”.

“E, infelizmente, não posso continuar dessa forma. Estou aqui para ser respeitado e respeitar. A partir do momento em que a sessão se tornou uma sessão de xingamentos como nas redes, entendemos que seria melhor encerrar”, disse. Witzel, que era convocado, foi liberado de comparecer pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nunes Marques, e acabou indo à sessão na posição de convidado, podendo responder o que quisesse e com liberdade para ir embora, o que, de fato, fez. “O STF entendeu na decisão do ministro Kassio Nunes Marques que minha presença tinha que ser como convidado. Respondi a todas as perguntas. Mas na medida que começa a haver ofensas...”, disse.

Witzel afirmou a senadores que o governo federal trabalhou, todo o tempo, para jogar a responsabilidade das dificuldades econômicas provocadas pela crise sanitária nas mãos dos governadores. Por isso, fez campanha contra o isolamento social. “Construiu-se uma narrativa para responsabilizar os governadores em razão do isolamento social, pelo declínio da economia, que ocorreu pela falta de planejamento no combate à pandemia”, destacou. “Poderíamos ter a vacina com mais antecedência, o soro desenvolvido no RJ em funcionamento, e tudo isso foi solenemente ignorado”, continuou.

“Faz parte dessa narrativa dizer que os governadores usaram a pandemia para praticar desvios, acabar com empregos e mostrar para a população que eles falharam no controle da pandemia. No caso do Rio de Janeiro, os leitos não foram disponibilizados. Quando fui fazer os hospitais de campanha, eles foram sabotados por deputados bolsonaristas. Isso é uma ação coordenada, planejada, para sabotar (o combate contra) a pandemia”, acusou Witzel.

Ele destacou que a demora do governo em viabilizar o auxílio emergencial e o socorro aos estados também prejudicou o combate ao vírus. “O governo não teve a liderança para aprovar o auxílio emergencial e aos estados. Estados não podem fazer empréstimo, rodar dinheiro, e tudo isso foi falado. Você percebe que foi uma construção de ações negacionistas, omissões, para desestruturar, desestabilizar governos de estado, colocar a população contra governadores e provocar algum tipo de movimento social, de situação que pudesse levar a um estado policialesco”, disse o depoente.

Caso Marielle

Sobre o caso Marielle, Witzel disse a jornalistas que as investigações prosseguiram porque ele deu autonomia ao Ministério Público do Rio de Janeiro e à Polícia Civil do estado. O ex-governador sustenta que a prisão dos acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco (PSol) foi o que levou o governo a retaliá-lo, pois, em mais de uma ocasião, o condomínio Vivendas da Barra, onde o presidente da República tem residência, foi citado. “Quando eu assumi como governador do estado, em dois meses, os executores estavam presos”, lembrou.

“A Marielle foi morta na intervenção. A investigação começa durante a intervenção. Após a intervenção, quando assumo, já havia indícios para prisão dos executores do crime. Meu programa dava independência à Polícia, e exigia, no caso Marielle, uma promessa de campanha, que o caso fosse esclarecido. A Polícia chegou aos dois que moravam no condomínio do presidente. A partir daquele momento, o presidente não falou mais comigo”, disse Witzel.

Marielle Franco e o motorista Anderson Pedro Gomes foram assassinados a tiros por disparos de metralhadora 9mm em 14 de março de 2018. O sargento reformado da PM Ronie Lessa é acusado como sendo autor dos disparos, e o ex-PM Élcio Queiroz responde por dirigir o carro dos criminosos. Passados 1.190 dias do caso, ainda não se sabe quem mandou matar Marielle. A vereadora estava combatendo a atuação de milicianos de Rio das Pedras.

Witzel também insistiu durante toda a CPI e depois, com a imprensa, que foi alvo de um processo persecutório e injusto, e disse querer saber quem financiou o processo de impeachment que veio a sofrer.

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