CPI da Covid

CPI da Covid agora mira negociação da vacina chinesa Convidecia

Produzida pelo laboratório CanSino, Convidecia seria vendida a US$ 17, valor mais elevado do que o de outros imunizantes adquiridos pelo governo brasileiro. Representante no Brasil era empresa Belcher Farmacêutica, que teve o contrato rompido unilateralmente, após ser alvo da Operação Falso Negativo

Sarah Teófilo
Bruna Lima
postado em 29/06/2021 10:40 / atualizado em 29/06/2021 11:07
 (crédito: JAVIER TORRES / AFP)
(crédito: JAVIER TORRES / AFP)

Após descobrir fatos relevantes em relação à vacina indiana Covaxin, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 pretende, agora, avançar sobre a vacina chinesa Convidecia, produzida pelo laboratório CanSino, assim como a vacina russa Sputnik V. Houve uma negociação com o Ministério da Saúde para aquisição de 60 milhões de doses da Convidecia, e a pasta chegou a assinar um contrato de intenção de compra, no valor de R$ 5 bilhões, no início do mês de maio.

Cada dose custaria US$ 17, valor mais elevado do que o de outros imunizantes adquiridos pelo governo brasileiro, como a Pfizer (US$ 12) e a própria Covaxin (US$ 15). A contratação era intermediada pela empresa Belcher Farmacêutica, que teve o contrato rompido unilateralmente, por decisão do laboratório chinês. Para conseguir registro, direito de distribuição e negociação no Brasil, a lei exige que haja um representante da fabricante em território nacional, o que explica a intermediação por parte da Belcher.

A empresa farmacêutica Belcher foi alvo da Operação Falso Negativo, no Distrito Federal, do Ministério Público e da Polícia Civil do DF, deflagrada em março deste ano. A operação apurava grupo por suspeita de fraude na compra de testes rápidos para covid-19.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu o comunicado de que a Belcher e o Instituto Vital não mais possuíam autorização para representar a CanSino em 17 de junho. "O comunicado cita a revogação da autorização concedida à Belcher e destaca que as empresas não têm permissão para requerer autorização de uso emergencial, registro, autorização de comercialização, bem como atividades de preparação e distribuição da vacina", diz a agência, acrescentando que o Ministério da Saúde foi comunicado no dia seguinte.

Para obter detalhes sobre as negociações para venda da vacina chinesa Convidecia, o senador Alessandro Vieira apresentou requerimento de informação, solicitando os dados ao Ministério da Saúde e à Belcher Farmacêutica. O pedido deve ser votado nesta quarta-feira (30/6).

O interesse em aprofundar as investigações em torno da Convidecia já está evidente entre os senadores. Líder da bancada feminina no Senado, Simone Tebet (MDB-MS) alertou para a necessidade da CPI "mergulhar, profundamente, na investigação de denúncias de crimes gravíssimos [...] na compra de vacinas", escreveu, enfatizando que as atenções devem se voltar a mais de uma acusação. "Já são duas. Covaxin e CanSino. Faltando por negacionismo, vacinas agora são aceleradas por negociatas? Repugnante", disse.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ressaltou na última segunda-feira (28), em entrevista ao UOL, a intenção de apurar as negociações relativas à chinesa Convidecia e à Sputnik V. "O consórcio Nordeste está comprando Sputnik da Rússia a US$ 9,95. Brasil está negociando a US$ 13", disse.

O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), disse nesta terça-feira (29), que esta é mais uma negociação de vacina que será investigada. "São informações também escandalosas que precisam ser levadas em consideração. Nós estamos debruçados sobre isso", afirmou.

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