CPI da Covid

Depoente chama Blanco de "fdp" e questiona conhecimento de militares na Saúde

Representante da Davati Medical Supply no Brasil teceu duras críticas a militares lotados no Ministério da Saúde. Segundo Cristiano Carvalho, eles não compreendiam noções básicas de comércio exterior para comprar vacinas

Luiz Calcagno
postado em 15/07/2021 18:47 / atualizado em 15/07/2021 18:48
 (crédito: TV Senado)
(crédito: TV Senado)

Em seu depoimento na Comissão Parlamentar de inquérito da Covid-19, o representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, teceu duras críticas aos militares lotados no Ministério da Saúde. Em uma das ocasiões, teve de explicar ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) porque se referiu ao coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística da pasta, como “fdp”.

A ofensa aconteceu em conversa privada com o vendedor autônomo de vacinas o policial militar mineiro Luiz Paulo Dominghetti, recrutado por Cristiano para oferecer vacinas ao governo federal. Ele voltou ao tema ao ser inquirido pela senadora Leila Barros (PSB-DF), e afirmou que os coronéis também não pareciam entender nada de comércio exterior. Senadores investigam suposto pedido de propina de integrantes do governo na compra dos imunizantes.

Calheiros perguntou a Cristiano se ele teve desentendimentos com servidores do Ministério da Saúde. O depoente respondeu que esteve no gabinete do coordenador-geral de planejamento da pasta, coronel Cleverson Boechat. “Se eu não me engano, é no segundo andar. Foi lá que ele nos recebeu. E o Coronel Pires e o Coronel Elcio Franco também nos receberam dentro do gabinete do Coronel Boechat. Dentro dessas tratativas e conversas dentro do Ministério da Saúde, não houve nada que desabonasse nenhum desses coronéis servidores públicos que estavam na reunião”, respondeu.

O relator retrucou. “Porque vossa senhoria afirmou, em mensagem a Luiz Paulo Dominghetti, aspas, que ‘só tem FDP nesse ministério’, após ele afirmar que a CPI chegaria às propostas que a Davati havia feito à pasta. A quem se referia, especificamente?”, inquiriu Calheiros, perguntando ainda o que teriam feito para que ele se referisse aos militares dessa forma. O depoente se desculpou e disse que se excedeu.

Conversas foram retiradas de celular

A conversa em que Cristiano usa o termo “fdp” foi retirada do celular do Dominghetti, que foi espelhado em outro aparelho, após ser apreendido pela comissão fim do depoimento do policial militar à CPI no início de julho.

“Sobre isso, acho que até me excedi, mas, na verdade, ao que eu estava me referindo era... Como eu passei a negociar com o senhor Blanco aqui, eu me referia aqui a esse tipo de negociação que tinha sido instaurada, que aparentemente o Roberto Dias havia indicado o Roberto Blanco para negociar comigo, porque ele falava em nome do Roberto Dias o tempo todo. Entendeu? Então, quando me referia ali, era a esta questão da interferência aqui do Blanco, de que não havia necessidade, então, por isso que eu me referia a isso”, justificou-se.

O depoente voltou a pedir desculpas “por ter mencionado o servidor público desta forma”. “Mas foi a sensação que eu tive por ter mais uma pessoa no negócio, e não havia necessidade. Ele já não era mais um servidor público desde janeiro, porém, a impressão que me deu é de que ele continuava assessorando o Roberto Dias. Foi essa a impressão que me passou. É a única pessoa a quem eu tenho que me referir que me trouxe alguma coisa, vamos dizer assim... Vamos dizer assim: está estranho. Fora isso, não teve absolutamente mais nada”, garantiu Cristiano.

O depoente disse que não teve problemas com o então diretor do Departamento de Logística Roberto Dias, e só soube das suspeitas de propina “através das denúncias do Dominghetti”. “Inclusive, os senhores tiveram acesso ao celular do Dominghetti, antes da oitiva dele aqui aos senhores, eu ainda deixei claro por mensagem: ‘Você tem certeza do que está falando? Ocorreu esse jantar?’ O senhor será acareado com o Roberto Dias’. E ele me respondeu: ‘Estou tranquilo’”, narrou.

Mercado internacional

O termo voltou à baila após uma pergunta da senadora Leila Barros. Ela quis saber se, por “fdp”, Cristiano se referia a um grupo específico, ou a um indivíduo. Então, o depoente admitiu que não criticava apenas Blanco. “Eu me referi especificamente a algumas pessoas. No caso acho que do Laurício, criou-se uma expectativa dentro da empresa, da Davati, de até gerar documentos apoiando a Senah. Isso achei que não coube muito bem à função que ele ocupava no Ministério. E a segunda pessoa que eu mencionei, que volto a mencionar, que eu achei que, vamos dizer assim, tinha uma posição meio dúbia ali era o Coronel Blanco, porque ele era ex-assessor e continuava assessorando, mas não era nem um militar da ativa e nem um servidor no exercício da função”, lembrou.

Leila lembrou a Cristiano que ele foi convocado por conta da pandemia e dos indícios de corrupção no governo na compra de vacinas. Ela quis saber o que o depoente achou do corpo técnico do Ministério da Saúde com que teve contato para negociar vacinas. “Essas pessoas entendiam de saúde?”, questionou. “No contato que eu tive com a cúpula dos coronéis, vamos dizer assim, no dia que eu estive em Brasília, eu percebi que eles não conheciam de comércio exterior”, respondeu Cristiano. “Era a minha segunda pergunta, saúde e comércio exterior”, afirmou a parlamentar.

“Parecia que eles desconheciam absolutamente tudo sobre comércio exterior, o que me surpreendeu, inclusive, porque eu ficava pensando como é que eles estavam negociando vacinas com os fabricantes se eles não tinham aquelas informações básicas. Pelo outro grupo, talvez o mais capacitado ali, que conhecesse um pouco mais, era o Roberto Dias. Ele que tinha um pouco mais de conhecimento”, afirmou o representante da Davati. A senadora fez ainda mais uma pergunta, a pedido do senador Jorge Kajuru (Podemos-GO). Quis saber, “caso esta CPI prove culpados, criminosos e corrupção”, se o depoente ficaria surpreso. “Dados os fatos, provas apresentadas e indícios, não vai ser nenhuma surpresa para mim”, disse.

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