CPI DA COVID-19

TCU conclui que aplicativo TrateCov, do Ministério da Saúde, não sofreu ataque hacker

Informação contradiz depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na CPI. Em maio, ele disse aos senadores que o aplicativo foi "roubado" por um hacker e lançado na internet

Sarah Teófilo
postado em 01/08/2021 21:56 / atualizado em 01/08/2021 22:01
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A)

Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), aprovada na semana passada, concluiu que não há indícios de que o aplicativo do Ministério da Saúde intitulado “TrateCov” tenha sofrido violação. Conforme documento, “qualquer pessoa que tivesse conhecimento do link poderia acessá-lo”, ao menos entre os dias 7 e 22 de janeiro. A auditoria foi feita a pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado, e contradiz informação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que disse à CPI que o aplicativo foi hackeado e colocado no ar.

O aplicativo foi lançado em Manaus, com a presença de Pazuello, no dia 11 de janeiro, pouco antes de o sistema de Saúde na região entrar em colapso por falta de oxigênio nos hospitais. O programa incentivava o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina.

À CPI, Pazuello afirmou que o TrateCov não foi lançado; que tratava-se de uma “calculadora” e era apenas um protótipo. “Não chegou a colocar em operação. A plataforma nunca entrou em operação. Foi apenas apresentado o protótipo em desenvolvimento e foi copiado por alguém”, afirmou.

Além disso, o ex-ministro disse que o aplicativo foi "roubado" por um hacker e lançado na internet.“Fizemos um boletim de ocorrência e (tem) uma investigação sobre isso aí. Esse cidadão fez a divulgação da plataforma com usos indevidos. Quando ficamos sabendo que ela foi copiada e que poderia ser usada por pessoas que não estavam dentro do planejado, determinei que fosse retirada do ar”, disse.

A informação, entretanto, não é verdadeira. No dia 14 de janeiro, por exemplo, o Correio divulgou reportagem sobre o lançamento do aplicativo pelo ministério. O link foi divulgado pela própria pasta, em seu site. No dia 21, a plataforma foi retirada do ar, em meio a diversas críticas.

Dias depois do depoimento de Pazuello, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do ministério, Mayra Pinheiro, conhecida como "Capitã Cloroquina", desmentiu o ex-ministro, afirmando que não ocorreu a suposta invasão do aplicativo.

Mayra acusou um jornalista de ter feito uma “extração indevida de dados”, e depois disse que o profissional teria apenas executado “simulações indevidas”. O link para acesso ao aplicativo, entretanto, estava disponível no site do ministério, e foi acessado por diversos jornalistas que fizeram a simulação disponível na plataforma.

A auditoria do TCU constatou também que “a indicação pelo usuário do TrateCov de quaisquer dois sintomas é suficiente para a aplicação web exibir o diagnóstico ‘provável diagnóstico de COVID-19’”. “Como, por exemplo, ‘dor de cabeça’ e ‘náuseas’, ou ‘lombalgia’ e ‘dor em coluna toráxica’, ou ainda ‘dor de garganta” e ‘dor em membros inferiores’, e consequentemente ocorrer a sugestão de prescrição de medicamentos do denominado tratamento precoce”, explicou em relatório.

Também observou-se que quando o aplicativo recomenda tratamento precoce, apresenta sempre a mesma lista de sete medicamentos: difosfato de cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, doxiciclina, ivermectina, sulfato de zinco e dexametasona. A dose e frequência de uso também é sempre a mesma para os quatro primeiros medicamentos listados.

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