PANDEMIA

CPI da Covid ouve suspeito de intermediar negociação entre Davati e Ministério da Saúde

Amilton Gomes tem um habeas corpus, concedido pelo STF, que lhe permite permanecer em silêncio a fim de não produzir provas contra ele mesmo

Luiz Calcagno
Bruna Lima
postado em 03/08/2021 06:00
 (crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)
(crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)

A segunda temporada da CPI da Covid começa hoje (3/8) com o depoimento de Amilton Gomes de Paula, apontado como intermediador na negociação entre a Davati Medical Supply e o Ministério da Saúde para a suposta compra da vacina da AstraZeneca contra o novo coronavírus — apesar de a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ter o licenciamento para reproduzi-la no Brasil. O intermediador garantiu que tinha 400 milhões de doses para entregar ao governo federal.

O senadores vão querer saber de Amilton como uma organização evangélica privada, a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) — fundada pelo religioso —, recebeu aval do então diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, para representar o governo nas negociações das doses com a Davati. E-mails obtidos pela CPI mostram a delegação dada a ao reverendo.

“Queremos saber sobre essa rede para tentar intermediar a venda de vacinas, o papel que ele (Amilton) desempenhava, por que apareceu nessa história e se essa associação (Senah) iria ter algum tipo de benefício por fazer essa intermediação. Se poderia caracterizar tráfico de influência ou advocacia administrativa”, explicou o senador Humberto Costa (PT-PE).

O depoimento do reverendo estava marcado para antes do recesso, mas, por questões de saúde, foi adiado. Amilton chega para prestar esclarecimentos munido de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que lhe permite permanecer em silêncio a fim de não produzir provas contra ele mesmo.

Drible
Quem também tem driblado o comparecimento à CPI é o sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano. Tido como uma das figuras mais comprometidas nas investigações da comissão, o empresário deporia amanhã, mas viajou para a Índia. Ele pediu para que seja ouvido após 10 de agosto, quando estará de volta ao Brasil — o que, na verdade, faria com que fosse inquérito perto de setembro, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda quarentena de 14 dias em caso de retorno do país asiático.

No lugar de Maximiano deve ser ouvido o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde, apontado por representantes da Davati como um dos membros da pasta que abriu caminhos para a empresa nas negociações junto ao governo federal. Ele estaria no jantar, ao lado do ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, em que o policial militar Luiz Paulo Dominghetti disse à CPI ter recebido pedido de propina de US$ 1 a dose de vacina para fechar o acordo.

Além dos depoimentos, os senadores têm quase 400 requerimentos para votar, cabendo ao G7 — grupo majoritário na CPI — decidir o que entra na pauta.

 

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