CPI DA COVID

Reverendo admite que receberia doação por ajudar em negociação de vacinas

Americana Davati tentou vender 400 milhões de vacinas que não existiam ao governo federal. Amilton Gomes atuou na intermediação da empresa junto ao Ministério da Saúde

Sarah Teófilo
postado em 03/08/2021 16:54
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta terça-feira (3/8), o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), admitiu que receberia doações por ajudar a empresa americana Davati Medical Supply a vender vacinas contra covid-19 ao governo federal.

A empresa admitiu que não tinha os 400 milhões de doses da AstraZeneca que tentou negociar com o governo por meio do vendedor autônomo de vacina Luiz Paulo Dominghetti, cabo da Polícia Militar, e do representante Cristiano Carvalho. Gomes disse que foi procurado inicialmente por Dominghetti, e que chegou a ter duas conversas com o CEO da empresa, Herman Cardenas, que fica nos Estados Unidos.

Questionado pelo senador Fabio Contarato (Rede-ES) sobre qual seria o valor de doação da Davati à Senah. “Ele falou de doação, mas não se referiu à quantidade”, afirmou o reverendo. Contarato, então, pontuou: “Daí, o interesse do senhor em participar dessa negociação. Havia uma promessa de que a Senah ia receber uma doação, óbvio que o senhor teve interesse em que fosse concretizado, tanto é que o senhor enviou cartas aos governadores”. A informação sobre as doações havia sido mencionada por Amilton Gomes em entrevista ao jornal O Globo.

Ao senador Contarato, o reverendo afirmou que o interesse era humanitário. “O senhor estava ali de olho na doação, com todo o respeito. Não era uma questão humanitária, não; era sobre quanto que a Senah ia receber de doação. Agora, muito me admira o governo federal ter esse tipo de relação espúria para a aquisição de vacina com generais, coronéis, reverendo, e negando a aquisição de vacina feita pela Pfizer (...) O interesse, com todo o respeito, não era humanitário, não! O interesse era qualquer outro, menos humanitário”, disse o parlamentar.

Amilton Gomes disse, ainda, que não estava negociando vacinas pela Davati junto ao governo federal, mas apenas “indicando alguém que teria essas vacinas”. Apesar disso, em um e-mail enviado por Laurício Cruz, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, no dia 23 de fevereiro, um dia depois de o reverendo se reunir com ele na Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS), Laurício agradeceu a presença da Senah e a apresentação da proposta de 400 milhões de doses da AstraZeneca, dizendo ainda que os processos deveriam ser direcionados à secretaria-executiva, então comandada pelo coronel Elcio Franco.

Companhias nos EUA

O reverendo afirmou ao ser questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que a Senah não possui contas no exterior. O senador Humberto Costa (PT-PE) pontuou que Amilton tem duas companhias sediadas na Flórida, nos Estados Unidos. Uma chamada Águia Dourada, e a outra, Fundação Humanitária Anjo Dourado. Perguntado se elas receberiam as doações de vacina, ele negou, e explicou que a Angel é uma fundação onde ele realiza projetos humanitários.

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