CPI da Covid

Empresário diz que atuou para pacificar negociação de vacinas junto ao governo

Airton Antonio Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel, acabou admitindo, porém, que Bolsonaro interrompeu as negociações de compra da CoronaVac entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan

Luiz Calcagno
postado em 05/08/2021 14:07
 (crédito: Jefferson Rudy)
(crédito: Jefferson Rudy)

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta quinta-feira (5/8), o empresário Airton Antonio Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel, disse que atuou para pacificar as negociações de vacina no caso da compra da CoronaVac pelo governo federal. O depoente afirmou que não tinha função de lidar com vacinas, mas que foi para São Paulo como interlocutor para fazer a aproximação com o Instituto Butantan. O empresário também negou em oitiva que tenha ocorrido interrupção nas conversas com o instituto na negociação dos imunizantes e disse que o maior problema foi a politização da vacina. Senadores destacaram que foi o presidente Jair Bolsonaro quem trabalhou para politizar as vacinas contra covid-19.

Qualquer tratativa comercial, de relação empresarial, Secretaria Executiva, vacinas, medicamentos, nada é minha função. (...) Fui mandado para São Paulo na função de interlocutor. Nos reunimos numa relação com a equipe do ministério, da Vigilância Sanitária, o setor jurídico, para tratar dessa aproximação necessária, porque era necessário. Naquele momento, nós precisávamos de vacina, e o Butantan tinha 6 milhões de vacinas. Construir esse diálogo, retornar esse diálogo, para que isso viesse a acontecer”, disse. Foi nesse momento que o depoente afirmou que não houve interrupção nas negociações com o Butantan em nenhum momento.

Em 21 de outubro de 2020, Bolsonaro suspendeu as negociações com o que chamava de “vacina chinesa”, desautorizando o então ministro da Saúde, o general do Exército Eduardo Pazuello, que havia afirmado negociar o imunizante. No dia seguinte, o presidente da República apareceu em vídeo ao lado de Pazuello, que afirmava que “um manda e o outro obedece”. Também em depoimento, o diretor do Butantan, Dimas Covas, relatou que após o evento, as conversas com o governo cessaram.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), insistiu na pergunta sobre a interrupção das conversas e o depoente negou reiteradamente. Calheiros perguntou, então, o que ele teria pacificado, então. “Através do Fórum dos Governadores, dirigido e coordenado pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), havia um movimento nacional de todos os governadores para que se chegasse ao bom senso de inserir a compra do Butantan nisso. Não havia porque não. Toda vacina era necessária. Então, foi essa interlocução. E se pacificou. Quero dizer que, naquele momento, se pacificou essa relação, ela voltou publicamente no país, andou. Ficou pactuado entre o Butantan e o ministério”, respondeu.

“Até ali, estava pacificado”

Na cadeira de presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) não se satisfez com a resposta. “Se pacificou, então (a negociação) havia sido rompida”, afirmou. Pouco depois, os senadores insistiram no episódio de outubro de 2020. “Eu quero dizer que dali surge uma pacificação entre todos os governadores, houve um diálogo de todos os governadores, do ministro Pazuello com os governadores. Tanto que se marca uma reunião para anunciar isso no dia 20 de outubro, aqui no ministério com todos os governadores, anúncio da efetivação da vacina do Butantan”, disse.

O fato, no entanto, é anterior ao desmando de Bolsonaro que atrasou as negociações de vacina mais uma vez. Em seguida, o depoente admite que “são dois momentos”. “Até ali deu, tanto que nesse dia (20 de outubro) estava tudo pacificado”, disse. “Pronto, acho que é aí que o senador Renan está chegando. Estava tudo pacificado”, provocou Randolfe. “Até ali estava pacificado”, reiterou Cascavel. “Até que o presidente da República suspendeu tudo. Perfeito”, reiterou o senador. “Até ali, estava pacificado”, defendeu-se o empresário.

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