ENTREVISTA CB.PODER

"Não tem nenhum tom ameaçador", afirma vice-almirante Carlos Chagas

Ele classificou como coincidência o fato de ter ocorrido no mesmo dia em que o Congresso votaria a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso

Vicente Nunes
João Vitor Tavares*
postado em 12/08/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Responsável pela tropa que desfilou na Esplanada dos Ministérios, na terça-feira (11/8), o vice-almirante e comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra, Carlos Chagas, sustentou que o evento não teve conotação política. Ele classificou como coincidência o fato de ter ocorrido no mesmo dia em que o Congresso votaria a proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso — o que foi visto como uma forma de pressão das Forças Armadas no Parlamento para aprovar a matéria de interesse do governo.

“O comandante da Marinha já se manifestou sobre esse assunto. Ele já falou expressamente sobre a coincidência”, frisou Chagas, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília. Veja os principais trechos da entrevista.

O desfile de blindados na Esplanada foi uma ação programada ou decidida de última hora pelo presidente da República?
A segunda fase da Operação Formosa é o deslocamento dos nossos comboios do Rio de Janeiro para Formosa. Passa, obrigatoriamente, pela área de Brasília. Provavelmente, poucos sabiam que os Fuzileiros da Marinha do Brasil faziam um exercício em Formosa. E a ideia foi exatamente dar transparência a esse exercício, ou seja, a presença da Marinha do Brasil no Planalto Central. Então, não tem nenhum tom ameaçador, absolutamente nada.

O desfile coincidiu com a votação da PEC do voto impresso, defendido por Bolsonaro. Por isso, muita gente viu tom ameaçador.
O comandante da Marinha já se manifestou sobre esse assunto. Ele já falou expressamente a respeito da coincidência. A mim, cabe falar do ponto de vista operacional. A passagem ocorreu em um horário tranquilo em Brasília, às 8h30, o que permitiu à tropa caminhar com segurança e transparência. Depois, alguns blindados ficaram expostos em frente à Marinha. Então, não tem tom intimidador, ou algo do tipo. Gente que nunca teve a oportunidade de conhecer essas coisas de perto, conseguiu ver. Ontem (terça) mesmo, a tropa seguiu para Formosa, onde vai ocorrer esse exercício, que é o maior da Marinha no Planalto Central e do qual a gente se orgulha muito. Tal exercício coroa o nosso treinamento, tanto que começa nas fases mais básicas e junta todas as armas, fazendo o emprego coordenado de todas elas. E o campo de Formosa, que pertence ao Exército, tem as dimensões adequadas para a finalidade. Por isso, a gente vem do Rio de Janeiro para cá e segue para outras regiões. Foi essa a coincidência e a nossa presença, que já estava programada desde o ano passado, visto que é um evento planejado com muita antecedência dentro do nosso programa.

O senhor não acredita que atrapalha a imagem das Forças Armadas?
Em relação à imagem das Forças Armadas, meu entendimento é de que houve transparência, algo muito valorizado na Marinha. Todas as discussões que aparecem nas mídias sociais, de certa forma, são interessantes, pois despertam o interesse pelas coisas que existem na instituição.

No desfile, houve a passagem de veículos soltando uma fumaça preta. Daí fica o questionamento se tais blindados estão ultrapassados e se falta investimento nas Forças Armadas.
Os carros lagarta Anfíbio, aqueles maiores, são exatamente os mesmos carros que o corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos utiliza. Nós temos três gerações de carros. O que trouxemos aqui foi um carro de terceira geração. Os outros, os blindados Piranha, foram utilizados com muito sucesso no Haiti e nas operações de garantia da lei e da ordem no Rio de Janeiro. Então, são também veículos bastante novos, atualizados e excelentes. A gente tem os outros veículos que foram mencionados, os M-113, cujo projeto vem próximo da era do Vietnã e que foi feita uma modernização aqui no Brasil há pouco mais de uma década. Eles continuam operando muito bem graças ao esforço e à dedicação de cada um dos nossos militares. Não é só o Brasil que utiliza. O M-113 é o carro blindado mais usado no mundo. As pessoas falam, veem, mas esse carro passa por modificações, e a carcaça dele é de aço. Dura para sempre, vamos dizer assim. E o SK-105 — carro de combate que causou um pouco de dúvida (por soltar uma fumaça muito preta), já está no final de sua vida útil, foram descontinuados, inclusive. Nós mantemos esses veículos com muito esforço, o que mostra a dedicação e o cuidado com o dinheiro público. Os carros poderiam estar parados, não fosse o esforço da tropa em mantê-los ativos. A Marinha tem vários programas estratégicos. Um deles é para modernização dos recursos do Corpo de Fuzileiros Navais. Quando aparecerem recursos, eles (veículos) poderão ser trocados. Nós entendemos o Brasil. Mas quando se fala de orçamento em Defesa, é importante essa transparência, a fim de mostrar a destinação dos recursos.

Não dá para misturar política com os desafios das Forças Armadas, concorda?
Como eu disse, a minha parte é a operacional. No entanto, digo que o povo brasileiro pode ter certeza de que a Marinha está dedicada, o tempo todo, às suas tarefas constitucionais, trabalhando nos mais longínquos lugares do país, a fim de certificar que o Brasil tem a defesa que merece.

* Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa

Assista a entrevista completa:

 

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