CPI da Covid

CPI é interrompida após senador denunciar ofensas do advogado de Hang

Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que um dos advogados do dono da Havan o ofendeu e pediu a retirada do profissional da comissão. Governistas saíram em defesa do profissional e sessão foi interrompida para apuração dos fatos

Tainá Andrade
Raphael Felice
postado em 29/09/2021 13:23 / atualizado em 29/09/2021 13:25
 (crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)
(crédito: Leopoldo Silva/Agência Senado)

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 foi interrompida, nesta quarta-feira (29/9), após o senador Rogério Carvalho (PT-SE) dizer que foi ofendido por um dos advogados do depoente, o empresário bolsonarista Luciano Hang, e pedir a retirada do profissional da comissão. A ação foi defendida por colegas da oposição, mas governistas afirmaram que as ofensas foram iniciadas pelo petista. Ainda não se tem informações sobre o que foi dito e o que será decidido.

O depoimento do dono da Havan está sendo marcado por tumulto e discussões secundárias entre os senadores. Durante os poucos questionamentos feitos pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), até o momento da interrupção, o depoente divagou em respostas pouco objetivas. O cenário da oitiva de hoje é justamente aquele que senadores da oposição temiam com a convocação de Hang. Entre os próprios senadores do G7, há um clima de “eu avisei”, que gerou discussões até entre eles mesmos.

Segundo informações do senador Humberto Costa (PT-SP), o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) estão decidindo o que será feito. O petista disse ainda que o advogado não pode tomar a palavra à frente do depoente e citou Danilo Trento, que pediu licença por diversas vezes para consultar seus advogados durante depoimento à comissão na semana passada. 

Do lado de fora da CPI, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) conversou com os jornalistas sobre a confusão e disse que quem chamou Hang a depor sabia que a confusão poderia acontecer. “CPI é para você aperfeiçoar, ouvir, apurar. Mas fica essa discussão defendendo negócio que não tem nada a ver. Não tem que defender governo e nem ninguém. Já era esperada essa situação. Quem chamou sabia que isso ia acontecer”, disse o senador, que compôs a CPI temporariamente em julho, substituindo Tasso Jereissati (PSDB-CE).

"Circo"

As dificuldades para uma condução serena da comissão ficaram evidentes logo no início da sessão de hoje. Senadores da oposição e do governo já trocavam farpas e faziam menções a circo, palhaços, negacionismo, bobo da corte e morticínio.

A partir do momento em que senadores contrários ao governo, como Rogério Carvalho (PT-SE), Fabiano Contarato (Rede-ES) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) cobraram objetividade nas respostas do empresário bolsonarista, os governistas cobraram liberdade para o depoente responder, o que gerou mais bate-boca.

O senador Randolfe Rodrigues tentou acalmar os ânimos ao trazer questão de ordem. Ele fez leituras do regimento interno do Senado e do código penal. “O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais. Salvo quando inseparáveis da narrativa do fato”, leu. “Para a boa condução deste depoimento, para o melhor que todos estão nessa CPI, inclusive ao depoente, o primeiro encaminhamento que peço à defesa fazer ao depoente é aconselhá-lo. As respostas devem ser feitas com relação aos fatos aqui apresentados”, completou o vice-presidente da CPI.

O clima do depoimento ficou tenso até mesmo entre os próprios senadores contrários ao governo. Otto Alencar (PSD-BA) cobrou do presidente da Comissão, Omar Aziz, autoridade. A cobrança foi feita por outros parlamentares do colegiado. Aziz rebateu Otto e mandou recado para Luciano Hang.

“É muito fácil cobrar, é uma beleza cobrar todo mundo. Passo a palavra ao senador Renan, começa a confusão. O cidadão que está aqui do meu lado direito (Hang) começa a contar historinha. Todo mundo aqui tem uma história para contar. Infelizmente, muitos pais que morreram não tinham condição financeira para dar tratamento digno. Não tem que ficar propagando remédio que matava. Eu em sua condição, que fica cantando de bom galo, fica nesse 'palcozinho' e que alguns aqui ficam dando corda, eu, se tivesse sua condição, levava. Não vem aqui dar uma de mais honesto, que o senhor não é mais honesto que ninguém, não. O senhor gera emprego, mas o senhor ganha dinheiro”, exclamou Aziz.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação