Monitoramento

Relatórios de redes sociais feitos pelo Exército ficaram mais politizados

Durante a batalha virtual pelas redes, o Exército considera os influenciadores digitais como atores estratégicos

Carlos Alexandre de Souza
postado em 01/11/2021 05:43 / atualizado em 01/11/2021 05:44
 (crédito: Cb Estevam/CComSEx/ Exército Brasileiro)
(crédito: Cb Estevam/CComSEx/ Exército Brasileiro)

Os relatórios denominados Acompanhamento e Análise do PL 1645 nas Mídias Sociais avaliam o comportamento dos internautas de forma quantitativa e qualitativa. As informações reunidas nos documentos não se limitam a verificar a quantidade de postagens sobre o projeto de lei que reestruturou as carreiras militares. Os autores do relatório fazem uma leitura política das manifestações registradas no espaço virtual.


Além de assumir posicionamentos políticos em temas estranhos à missão das Forças Armadas, como a defesa da política econômica do governo de Jair Bolsonaro, os documentos revelam avaliações politizadas, como a utilização de termos como “partidos de oposição”, “causa lulista” e “ganhar a narrativa”. Nessa batalha virtual, o Exército considera os influenciadores digitais como atores estratégicos.


As primeiras avaliações, realizadas a partir de 30 de julho, dão maior atenção a dados quantitativos sobre as publicações com menor ou maior repercussão. Relatadas em novembro, durante a tramitação do PL 1645 no Senado, as últimas análises se tornam claramente mais politizadas.


No relatório de nº 17, datado de 31 de outubro de 2019, a investigação considera “anormal” o fluxo de publicações a respeito. O PL 1645 havia sido aprovado na Comissão Especial da Câmara dois dias antes, em caráter conclusivo. O documento afirma que, entre o grupo Cidadãos, há um sentimento negativo em relação ao PL 1645. Mas identifica um tom mais neutro e positivo na mídia. Com uma tarja sobre o nome, o documento destaca a atuação de um “evangelizador positivo ajudando na alteração do cenário de sentimentos nas redes sociais”.


O acompanhamento de nº 19, de 4 de novembro de 2019, apresenta uma leitura menos neutra e mais politizada da movimentação nas redes sociais. Afirma, por exemplo, que “a tentativa de ganhar a narrativa em busca de uma proposição positiva nas redes sociais pode se tornar desgastante e ineficiente, quando se usa os próprios meios”. E reforça a necessidade de contar com a atuação de especialistas em mídias sociais. O documento conclui que “no cenário político, é preciso esvaziar o discurso do (tarja) e dar visibilidade ou chamar à participação, os atores políticos favoráveis ao PL 1645”.

O relatório de nº 20, a partir dos dados coletados entre 4 e 6 de novembro de 2019, também faz considerações políticas. O parecer indica a ocorrência de uma “nova pauta para a imprensa e uma nova pauta de ataques contra o governo para os partidos de esquerda”.

Segundo o documento, “esse novo combate virtual será em torno das propostas econômicas apresentadas pelo (tarja)”. E que “A esquerda tentará qualificar a reforma (da Previdência) como desmonte do serviço público e aprofundadora das desigualdades do país”. Novamente, o documento ressalta a necessidade de atuação de influenciadores digitais.

 


O monitoramento de nº 21 amplia as análises de teor político. O documento destaca a atuação de um político (com tarja) nas redes sociais, que “direciona sua narrativa contra as medidas implementadas pelo governo”. O parecer afirma que “os perfis de esquerda, principalmente no Twitter, já atuam de forma coordenada para desclassificar a pauta econômica de (tarja) podendo ser claramente verificado entre os políticos (…), perfis de jornalistas e blogs de esquerda, bem como personalidades alinhadas com a causa lulista a referida postura digital”.


Ao avaliar a perspectiva no Senado, onde o PL 1645 seria submetido à votação, o parecer identifica os riscos e propõe a estratégia de combate. “Com o cenário político acirrado, novamente o PL 1645 poderá sofrer ataques no campo das mídias sociais com o intuito de desestabilizar o governo”, avisa o documento datado de 14 de novembro de 2019. O parecer alerta para o perigo da aliança entre associações militares e partidos de oposição. E, mais uma vez, recomenda que “influenciadores atuem nas redes sociais”.

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