Diante de um cenário econômico fragilizado, com altas taxas de desemprego, inflação nas alturas, aumento da pobreza e da fome, a condução da política econômica do país estará no centro das atenções dos eleitores na hora de escolher um candidato para apoiar este ano. Pesquisas apontam que o principal problema indicado pelos cidadãos está na economia, que, portanto, deve dar o tom do pleito de outubro.
Para especialistas, inflação, desemprego e diminuição da renda do brasileiro devem ser os temas dominantes dos debates da corrida presidencial, diferentemente de 2018 — quando temas como combate à corrupção, segurança pública e a "nova política" mobilizaram os eleitores. "O que as pesquisas que lidam com as aflições dos brasileiros vêm mostrando é que a pobreza e o emprego se tornaram as principais preocupações. Isso vai guiar a escolha do eleitor", constata o professor de economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Fábio Terra.
Mauro Rochlin, economista e professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), concorda e acredita que, em outubro, o impacto da situação econômica sobre a intenção de voto se dará, principalmente, por conta do momento vivido pelos brasileiros. "O PIB desabou, o mercado de trabalho derreteu, a taxa de desemprego passou de 15%. E, como se isso não bastasse, a inflação ultrapassa os 10%. Esse quadro dramático é o motivo pelo qual a economia ganha destaque nas eleições", explica.
Os economistas reconhecem o impacto da pandemia de covid-19 no desempenho do país. Mas, segundo Terra, a crise sanitária não pode ser apontada como única explicação para as dificuldades econômicas. Ele observa que o desemprego, por exemplo, já estava elevado antes mesmo da disseminação do novo coronavírus.
"Enquanto a questão da fome volta a ser uma preocupação, o desemprego é algo que já vem há algum tempo, mas que a pandemia agudizou. Já estava ruim e piorou. Isso entrará fortemente no radar do eleitor", observa.
Além do desemprego, Rochlin alerta para o impacto da inflação na vida dos eleitores. "Mesmo que, de uma maneira geral, a população seja leiga em economia, ela sente no bolso a alta de preços. O bolso é o 'órgão' mais sensível do ser humano. Então, mesmo que o eleitor não saiba exatamente qual é a taxa de inflação medida pelo IPCA no mês de dezembro, ou no ano de 2021, percebe o que está acontecendo sempre que consome algo", diz.
Terra afirma que, na equação para um bom desempenho nas urnas, o candidato terá de apresentar um discurso que conjugue os interesses dos eleitores e do mercado financeiro. "Quem vota estará, basicamente, pedindo ajuda para escapar da pobreza. Logo, pedirá emprego, que traz renda, que traz segurança contra a pobreza e a fome. O mercado fará as demandas de sempre, como consolidação fiscal e reformas. E os candidatos, nesse meio termo, tentarão costurar um agrado ao mercado e um agrado a quem vota. A pauta da próxima eleição se dá por meio dessa triangulação", analisa.
Mudança de cenário
O discurso de cada candidato estará diretamente atrelado ao cenário econômico dos meses que antecedem o pleito. Segundo o cientista político e vice-presidente da Arko Advice, Cristiano Noronha, "por isso, é que o governo aposta em ações como privatizações e concessões, e acredita que a economia pode responder positivamente para que, eventualmente, o presidente Jair Bolsonaro tenha uma recuperação da popularidade".
Rochlin acrescenta que os níveis de inflação nos meses de campanha eleitoral também serão importantes para definir o voto. "Não adianta dizer que, hoje, a inflação está em 10%, que a população está revoltada e, por isso, o Bolsonaro não conseguiria se reeleger. Acho que é um pouco cedo para afirmar isso. A gente precisa olhar o cenário da véspera da campanha da eleição", alerta. Ele explica que, se a inflação estiver controlada em agosto e setembro, ajudará o discurso do governo. Mas, se isso não acontecer, o discurso da oposição é que se fortalece.
Rochlin aponta que a perspectiva é de queda da inflação até o período da votação. Segundo ele, três fatores explicam essa estimativa: a estabilidade no preço dos commodities — como petróleo, minério de ferro, milho e trigo —, a estabilidade do dólar e a taxa básica de juros da economia.
"Por mais que a gente saiba que o dólar está caro, é o mesmo valor que estava há um ano. Então, o preço do produto importado não deve aumentar e manter uma certa estabilidade. Já com a Selic alta, o consumo fica inibido", destaca.
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