ELEIÇÕES

Mulheres são destaque no setor econômico da corrida presidencial deste ano

Depois de Doria nomear duas economistas e uma advogada para elaborar plano econômico, Tebet anuncia Elena Landau como coordenadora da área

Rosana Hessel
postado em 04/02/2022 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press                         )
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press )

As mulheres estão ganhando espaço de destaque na economia na corrida presidencial de 2022. Depois de o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ter nomeado duas economistas e uma advogada — Ana Carla Abrão, Zeina Latif e Vanessa Canado — para cuidarem da elaboração do programa econômico da campanha, ontem foi a vez de a pré-candidata do MDB, a senadora Simone Tebet (MS), anunciar a economista e advogada Elena Landau para coordenar a área econômica da campanha da parlamentar.

A ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e coordenadora do programa de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) contou que aceitou o convite por considerar ter "ideias convergentes" com Tebet. Ela adiantou que o programa "terá foco no social e no meio ambiente", além da preocupação com o equilíbrio das contas públicas. "A senadora gosta muito dessa questão do liberalismo com olhar social. Essa é uma coisa que concordamos", destacou a economista.

De acordo com Landau, a partir de agora, o papel dela será complementar, dando sugestões ao programa, mas sem tirar o protagonismo de Tebet nas propostas econômicas. Ela enfatizou que a senadora tem boas ideias na área, não sendo necessário, portanto, "um fiador" para tranquilizar o mercado. "Uma coisa importante é que não vai ter a questão de terceirizar a economia. E é por isso que eu me sinto confortável em aceitar esse convite. Há uma convergência do que nós duas pensamos para um país do futuro", acrescentou.

Enquanto isso, Abrão, Latif e Canado realizam reuniões entre elas e o secretário de Fazenda e do Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, todas as quartas-feiras, e, às sextas, com Doria e Meirelles, para a elaboração do programa econômico do tucano. A expectativa é de que o documento fique pronto em abril. Segundo elas, a prioridade será a questão social, principalmente a educação e o combate à desigualdade, com um capítulo especial sobre meio ambiente.

Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP Investimentos e consultora, contou que as propostas serão transversais e complementares e que cada uma do grupo contribui na sua especialidade. "Temos umas linhas mestras para fazer o desenho de políticas públicas sem tratar como um dogma. Vamos buscar a política pública bem-feita, com melhor evidência e diagnóstico. Esse é o ponto essencial, e tem ciência nesse negócio, não ideologia", frisou. Para ela, o fato de haver mais mulheres economistas no mercado tem ajudado nessa guinada das campanhas eleitorais na comparação com pleitos anteriores.

Ana Carla Abrão, por sua vez, avaliou que a maior presença feminina nos programas econômicos dos candidatos é positiva e marca "uma mudança de padrão". "Os candidatos que foram nessa direção e abrem mais espaço para valorizar as mulheres mostram que são mais modernos. Houve uma conquista e ganho de reconhecimento de que esse espaço precisa ser mais diverso, mais moderno e ter uma representatividade equilibrada", ressaltou.

Abrão contou que o governador paulista "fez questão de ir atrás de mulheres para compor a equipe de campanha". Ela adiantou que entre os pilares do programa estarão, por exemplo, a educação básica, a requalificação profissional e a produtividade, com a melhora do ambiente de negócios. A especialista em contas públicas e ex-secretária de Fazenda do estado de Goiás reconheceu que será preciso desfazer os desarranjos recentes na área fiscal, principalmente após a aprovação da PEC dos Precatórios, e aperfeiçoar as regras atuais.

Federação

Os presidentes do PSDB, Bruno Araújo, e do MDB, Baleia Rossi, negociam a formação de uma federação partidária, contudo, ainda não abordam quem dos dois pré-candidatos abriria mão da corrida eleitoral. Para Ana Carla Abrão, do ponto de vista econômico, não seria difícil trabalhar em conjunto com Elena Landau. "Ela é minha amiga. Estou torcendo para que a federação avance, e esses grupos possam convergir lá na frente. Fazer um programa econômico com Elena Landau vai ser mais fácil do que montar a federação, porque as propostas são convergentes", destacou.

A cientista política Carolina Botelho — pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj) — elogiou essa valorização feminina nas campanhas deste ano. "Quando uma liderança política e pública coloca uma mulher entre seus quadros mais importantes, como secretária ou ministra de Fazenda, você dá um recado essencial à sociedade, de que esse grupo é valorizado", frisou. "Além disso, você assegura que aquela é uma pauta importante para seu governo." No entanto, ela sustentou que, apesar de representarem um avanço importante, essas mudanças "são um pingo no oceano". "É um passo importante, mas é preciso, também, que esse tipo de questão seja abordada e desenvolvida em várias outras dimensões da sociedade e grupo sociais." (Colaborou Bernardo Lima, estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa)

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