ELEIÇÕES 2022

Análise: Finalmente caiu a ficha de João Doria; tchau, querido

Tudo o que vem do atual governador de São Paulo, porém, costuma não durar mais do que 24 horas; vejamos, prega o articulista Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman - Estado de Minas
postado em 31/03/2022 11:27 / atualizado em 31/03/2022 11:29
 (crédito: Reprodução/Video )
(crédito: Reprodução/Video )


No país da idolatria e culto às pessoas, em detrimento de projetos e ideais, os políticos demagogos, populistas, autoritários, messiânicos e muito mentirosos — pois mentirosos apenas todos são — reinam fácil e dão as cartas desde sempre por aqui.

Até hoje, clãs políticos dominam seus "currais eleitorais", numa sucessão interminável de avô para pai; pai para filho; filho para neto; neto para bisneto. Vejam, como exemplos, o clã Magalhães, na Bahia. Ou Sarney, no Maranhão. Ou ainda, os próprios Bolsonaros.

A renovação na política brasileira é muito pouca ou quase nenhuma. Quando ocorre, se dá através de personalidades (artistas, esportistas, blogueiros, youtubers, etc.) sem preparo intelectual, em muitos dos casos, e sem a menor ideia do funcionamento da máquina.

Vez ou outra, casos como Alexandre Kalil e Romeu Zema, em Minas Gerais, e João Doria, em São Paulo, parecem querer mudar o rumo da prosa, já que "outsiders", ou no mínimo iniciantes, mas rapidamente, com raríssimas exceções, não vingam em longo prazo.

São Paulo voando

A locomotiva do Brasil está nas mãos dos tucanos desde 1995, com a eleição de Mário Covas, no ano anterior. Há 27 anos, portanto, o PSDB se reveza no poder do estado mais poderoso da nação, executando um belo trabalho, diga-se de passagem.

Se uma parcela minimamente razoável — e justa! — dos impostos gerados em SP permanecem por lá, seria, sem dúvida alguma, um "país" de primeiro mundo. Ocorre, contudo, que apenas 11% do que arrecada, retorna, da União, para seus cofres.

Responsável, atualmente, por mais de 40% dos impostos federais, o estado foi o único ente da Federação que cresceu seguidamente durante estes dois anos de pandemia. Não fosse São Paulo, o estrago no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro seria ainda maior.

João Doria e o sempre excelente Henrique Meirelles, que trocamos por Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, na Presidência da República, realizam uma administração de excelência, tanto na Economia quanto na Saúde; vejam o caso das vacinas contra a covid.

Rejeição e candidatura

Apesar de números positivos e expressivos, e apesar do excepcional trabalho durante a pandemia, o governador Doria, hoje, é espetacularmente rejeitado pela população de São Paulo. Aliás, é espetacularmente rejeitado pelo mundo político, incluindo o próprio partido.

Conhecido por sua vaidade insuportável, pouco espírito de equipe e absoluta falta de fidelidade, além de um gosto duvidoso por marketing pessoal, João, apesar dos bons resultados práticos, atrai muito mais ojeriza que admiração, inclusive fora do estado.

Como sempre bateu pesado em Lula, o meliante de São Bernardo, e no PT (Partido dos Trabalhadores), e após sua adesão oportunista ao bolsonarismo, em 2018, rapidamente abandonada, JD se tornou um verdadeiro pária político, esmagado pelos extremos.

Insistentemente, apesar de todos os "avisos públicos" (partido, capital, interior, imprensa, pesquisas, etc) contra uma possível corrida ao Planalto, Doria peitou o mundo, venceu — sabe-se lá como — as prévias do PSDB e se lançou pré-candidato à Presidência do Brasil.

Choque de realidade

Nesta quinta-feira (31/3), a imprensa de São Paulo dá como certa a renúncia do governador do estado à disputa nacional de outubro e, possivelmente, novembro próximos. Ao que parece, caiu a ficha de João Doria, e o "calça apertada" irá abrir espaço para outro nome.

Neste sentido, volta a ganhar força Eduardo Leite, do PSDB-RS. Em política, meus caros, nada é por acaso. Leite já renunciou ao cargo de governador; declinou do convite do PSD, de Kassab; e voltou a falar como pré-candidato, ainda que tenha perdido as prévias.

Ou seja, age como candidato, fala como candidato, atua como candidato? Então é candidato, ué! O que, a meu ver, é uma ótima notícia, pois não só coloca alguma novidade nesta modorrenta polarização dos horrores, como traz ínfima possibilidade de mudança.

Eduardo Leite, inclusive, poderia compor uma chapa com Sergio Moro, de vice. Aí, sim, estaríamos falando em uma terceira via, se não verdadeiramente competitiva, ao menos um mísero sopro de esperança dentre aqueles que não suportam o quadro atual.

Pesquisas e C'est fini

Doria nunca passou de traços nas pesquisas eleitorais. Brasileiros, como dito lá no início deste texto, estão mais preocupados com as personagens do que com os feitos. Tudo que o governador realizou de (muito) bom, perdeu-se diante de sua imagem pública "chata".

Leite, por sua vez, possui dois predicados eleitorais bastante positivos para o momento: é relativamente desconhecido e possui baixa rejeição. Seu calcanhar de Aquiles, na minha opinião, também são dois: é tucano e é assumidamente homossexual.

O brasileiro não se importa em ver Lula e Geraldo Alckmin, ou Lula e Geddel Vieira Lima, juntos. Não se importa em ver Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto, ou Bolsonaro e Collor, juntos. Mas se importa — muito!! — de ver Jesus Cristo ao lado de Aécio Neves.

O brasileiro, também, de modo geral, não se importa com corrupção, mortes, violência. Ou com saúde, educação e segurança. Mas não tolera adultério, homossexualidade e essas ‘coisas absurdas’, que atentam contra Deus e a família. Aceitará um presidente gay?

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