ELEIÇÕES 2022

Diferente de Lula, aliados do ex-presidente têm dificuldade de "decolar"

Segundo pesquisas de opinião, nos três maiores colégios eleitorais da região os pré-candidatos apoiados pelo petista não apresentam bom desempenho

Victor Correia
postado em 11/06/2022 06:00
 (crédito: Ricardo Stuckert)
(crédito: Ricardo Stuckert)

Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manter sua força eleitoral no Nordeste, isso não tem sido capaz de fazer com que candidatos locais do PT e de partidos aliados despontem nas pesquisas. Isso porque, conforme as pesquisas de opinião, nos três maiores colégios eleitorais da região os pré-candidatos apoiados pelo petista não apresentam bom desempenho.

Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) ocupa o segundo lugar na pesquisa RealTime BigData, divulgada na última quinta-feira, com 18% das intenções. Porém, está muito atrás do primeiro colocado, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), com 56% das intenções de voto.

No Ceará, a disputa pelo governo é liderada pelo bolsonarista Capitão Wagner (União Brasil). O PT ainda não tem candidato próprio no estado, mas tenta sustentar uma estremecida aliança com o PDT regional — controlado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, e que ocupa o segundo lugar nas pesquisas eleitorais.

Ainda não há definição do nome a ser lançado pelo PDT ao governo cearense, se será o ex-prefeito Roberto Cláudio ou a atual governadora, Izolda Cela. Em reunião tensa entre os partidos na última quinta, o deputado federal José Guimarães (PT-CE) deixou claro que seu partido não apoiará o nome de Roberto Cláudio.

Já em Pernambuco, é o "excesso" de apoio de Lula. O presidenciável deixou claro que a candidatura apoiada pelo PT é a do deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE) — que, aliás, ocupa o quinto lugar nas pesquisas locais, com modestos 8% dos votos. Quem lidera é a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade-PE), que deixou o PT neste ano, mas usa a imagem de Lula em sua campanha ao Palácio do Campo das Princesas.

O ex-presidente até que não vê problema nisso. Para ele e outros membros de sua campanha, quanto mais palanques, melhor. Porém, o PSB de Pernambuco quer a exclusividade no uso da imagem de Lula, temendo que o atrelamento de Marília ao petista desidrate Cabral definitivamente.

Liderança

No Rio Grande do Norte, primeiro destino de Lula na semana que vem, os petistas lideram a disputa. A atual governadora, Fátima Bezerra (PT), caminha para a reeleição com cerca de 38% das intenções de voto.

Em Alagoas, há um triplo empate técnico, segundo o levantamento do Paraná Pesquisas divulgado também na última quinta-feira: o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), com 26,9% e o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP); o atual governador Paulo Dantas (MDB), apoiado pelo PT e com respaldo do clã Calheiros, com 25,6%; e Rui Palmeira (PSD), com 24,2%. A distância entre eles está dentro da margem de erro da pesquisa, de 2,6%.

Sindicalistas torcem o nariz para proposta do PT

A proposta de revogação da reforma trabalhista, formulada sem consulta aos partidos apoiadores da pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), rachou também a base de apoio sindical em torno do ex-presidente. Sindicalistas criticam o conteúdo das diretrizes para o programa de governo, elaborado pela Fundação Perseu Abramo, sob coordenação do ex-ministro Aloizio Mercadante.

Com as mais variadas visões sobre as questões trabalhistas, os sindicalistas reclamaram do uso do termo “revogação”. Para contornar as queixas, o PT e aliados solicitaram o posicionamento das centrais sindicais a respeito do tema e farão alterações no texto conforme as sugestões das lideranças. Na próxima semana, os presidentes dos sindicatos se reunirão para construir um texto de consenso.

Até o momento, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não se manifestou. No entanto, segundo fontes internas, não há grandes divergências quanto ao programa que foi apresentado pelo PT. A entidade tem uma proximidade histórica com o partido. Em um encontro com sindicalistas, Lula já recebeu propostas da CUT para o programa de governo.

Insatisfação

No entanto, outras centrais que apoiam a candidatura de Lula demonstram insatisfação com o texto divulgado na segunda-feira. Filiado ao PSD, o presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, afirmou que a reforma trabalhista feita no governo Michel Temer, em 2017, é muito parecida com aquela levada a cabo em 2012, na Espanha, que foi depois revisada pelo governo do PSOE. Ele rechaçou o uso do termo “revogação” para tratar do tema.

“O termo que defendo é repactuar alguns temas com a área empresarial, para o bem do Brasil”, afirmou Patah, ressaltando ser contra a volta do imposto sindical. “Não queremos a volta, e nem simplesmente rasgar a legislação trabalhista. Estamos percebendo que temos que buscar alternativa de crescimento econômico, geração de emprego, qualificação, capacitação diante dessa tecnologia avançada”, assegurou.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, por outro lado, afirmou que a antecipação do debate sobre a reforma ainda no plano de governo pode dividir os sindicatos. “Quando você fala que vai acabar com a contribuição e não coloca que o sindicato poderá ter um financiamento decidido em assembleia, você deixa em aberto que poderá ser plural. Esse debate agora é bobagem. Tem que deixar esse debate fluir, depois, no Congresso, com o empresariado”, observou.

Partidos aliados também demonstraram insatisfação com a prévia do programa de governo e questionaram os petistas sobre a divulgação do documento antes de um acerto entre as lideranças. Houve também insatisfação com as propostas, principalmente com uso do termo “revogação” para tratar da reforma trabalhista e com os autoelogios do PT no tema do combate à corrupção.

 


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