ELEIÇÕES 2022

Bolsonaro no JN: veja os 8 assuntos que permearam a entrevista

O presidente disse não ter corrupção no MEC, exaltou os ministros do governo dele, defendeu o tratamento precoce e criticou o isolamento social, além de ter defendido a aliança com o Centrão

Talita de Souza
postado em 23/08/2022 00:09 / atualizado em 23/08/2022 00:13
Jair Bolsonaro deu entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda-feira (22/8) -  (crédito: Tv Globo/Reprodução)
Jair Bolsonaro deu entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda-feira (22/8) - (crédito: Tv Globo/Reprodução)

A sabatina do presidente da República Jair Bolsonaro (PL) no Jornal Nacional desta segunda-feira (22/8) mostrou um candidato à cadeira de chefe do Executivo muito mais comedido do que em 2018, quando se sentou pela primeira vez em frente à William Bonner e Renata Vasconcellos como um presidenciável.

Por 40 minutos, Bolsonaro rebateu os questionamentos dos jornalistas com feitos do governo e colocou um “ponto final”, como classificou, no embate criado por ele sobre a segurança das urnas. Ele chegou a se comprometer em rede nacional a respeitar o resultado das eleições e incentivar os apoiadores a fazerem o mesmo. No entanto, condicionou a ação. “Será respeitado, se houver eleições limpas”, disse.

O presidente, no entanto, não deixou de reforçar discursos sustentados por ele nos últimos anos, como definir como “liberdade de expressão” as falas perigosas de apoiadores que pedem o fechamento do Congresso Nacional. Além disso, ele reafirmou que era perseguido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e agora presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.

Os ânimos chegaram a ficar exaltados no início da entrevista, quando Bonner questionou Bolsonaro sobre os xingamentos a ministros e o presidente afirmar que o jornalista fazia fake news, porque “não existe” essa fala dele.

Ele voltou atrás, porém, quando Bonner lembrou que, por diversas vezes e em 7 de setembro do ano passado, em um discurso para centenas de apoiadores na Avenida Paulista, chamou Moraes de “canalha”. “Sim, mas porque ele fazia comigo antes”, admitiu ele.

Ao longo da entrevista, Bolsonaro disse não ter corrupção no Ministério da Educação (MEC), exaltou os ministros do governo dele, defendeu o tratamento precoce e criticou o isolamento social, além de ter defendido a aliança com o Centrão — a quem atribuiu a aprovação de propostas legislativas que melhoraram a economia atual.

Ele ainda se defendeu em uma pergunta sobre desestimular a vacinação e afirmou que usou de “figura de linguagem” ao dizer que vacinados com o imunizante da Pfizer contra a covid-19 iriam virar jacaré.

Veja abaixo os 8 pontos da fala do presidente no Jornal Nacional:


1) Perseguição do STF e averiguação das urnas: “Tive que provocar”

O tema de maior tensão do governo de Bolsonaro até então, o embate dele com o TSE e o STF, foi abordado na primeira pergunta da entrevista. O presidente foi questionado se gostaria de criar um ambiente para um golpe com a fomentação de uma fragilidade das instituições democráticas. Bonner questionou Bolsonaro, inclusive, sobre os xingamentos a ministros.

A fala foi contestada por Bolsonaro, mas depois admitiu ter chamado Moraes de canalha. No entanto, ele afirmou que Moraes o perseguia ao instituir o inquérito sobre fake news.

No entanto, Bolsonaro afirma que o embate está “pacificado” e disse que “teremos eleições” e que “tem certeza que o ministro Moraes irá chegar a bom termo nessa questão de eleições”. “Mas eu tive que provocar para chegar nesse lugar”, pontuou.

Ao seguir a resposta, ele disse que queria transparência nas eleições e reforçou a tese de que queria apenas mais uma averiguação para proteger ainda mais o sistema eleitoral. Bolsonaro voltou a dizer que o TSE afirmou que hackers ficaram oito meses “dentro do TSE” e que a Polícia Federal investiga o caso. “Nós queremos evitar que dúvidas pairem nas eleições deste ano. Nada além disso”, afirmou.

2) Palavras de ordem para fechar o Congresso vistas como “liberdade de expressão”

Questionado sobre apoiadores que defendem um novo golpe militar e o fechamento do Congresso Nacional e sobre o silêncio de Bolsonaro sobre essas afirmações, o presidente afirmou que considera as falas como “liberdade de expressão”. “Quando alguns falam de fechar o Congresso, é liberdade de expressão deles, não levo para esse lado. Isso pra mim faz parte da democracia, eu não posso é falar em fechar o Congresso ou o STF. Não vejo nada demais”, declarou.

Bolsonaro também criticou as sanções para apoiadores que falam no Ato Constitucional 5, da Ditadura Militar, que é o mais repressivo de todos e concentrou o poder apenas nos militares, com alto nível de violência para quem não obedecesse às regras impostas pelos ditadores. “Alguns falam em AI-5, nem existe mais AI-5, você querer punir alguém que levanta uma faixinha escrito AI-5 no meio da multidão é uma coisa que não leva a lugar nenhum”, acrescentou.

  • Jair Bolsonaro deu entrevista ao Jornal Nacional nesta segunda-feira (22/8) Tv Globo/Reprodução
  • Bolsonaro levou uma cola na palma da mão esquerda Reprodução/Rede Globo
  • Bolsonaro, Bonner e Renata: presidente alternou bons e maus momentos na sabatina Divulgação/TV Globo

3) Defesa do tratamento precoce, do isolamento social e negação do colapso em Manaus

O presidente foi questionado sobre as desinformações difundidas por ele desde o início da pandemia, como estimular o uso de remédios comprovadamente ineficazes contra a covid-19 e afirmar que vacinas poderiam causar complicações sérias, além de ter demonstrado pouca empatia contra as vítimas da doença, como quando falou “e daí, sou coveiro” e imitar pessoas com falta de ar.

Bolsonaro rebateu a pergunta falando que o governo dele comprou “mais de 500 milhões de doses de vacina” e que “só não se vacinou quem não quis”. “Comprado por mim. E compramos em tempo bem mais rápido que outros países. A primeira vacina do mundo foi dada em 2020, em janeiro nós já estávamos vacinando no Brasil, então nós fizemos nossa parte”, citou o presidente.

Ele não citou, porém, que o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) foi o responsável pelo início da vacinação, que iniciou, de maneira independente, a imunização dos moradores de São Paulo, em um ato classificado pelo então ministro da Saúde Eduardo Pazuello como uma “jogada de marketing”. Doria foi um dos primeiros governadores a iniciarem a compra individual de imunizantes, enquanto o governo federal postergava a aquisição das vacinas.

Bolsonaro criticou, mais uma vez, o isolamento social. “Eu falei no início da pandemia que a gente deveria tratar dos idosos e o resto da população trabalhar. Isso eu falei e não errei. Outra coisa, se falava de lockdown com três meses e durou mais de um ano. Ou seja, lockdown serviu sim para atrapalhar a economia e contaminar mais pessoas em casa”, diz Bolsonaro, sem provas estatísticas. O Brasil, segundo a Fiocruz, foi o segundo país do mundo com maior número de mortes de jovens abaixo de 20 anos.

Sobre a desestimulação da vacinação, quando Bolsonaro chegou até mesmo a chegar falar que vacinados da Pfizer virariam jacaré, o presidente afirmou que usou apenas de uma figura de linguagem.“A Pfizer não apresentou quais seriam os possíveis efeitos colaterais, daí eu usei uma figura de linguagem, jacaré”, disse. Questionado se era um momento de brincadeira, ele falou que não era o caso.

“Não é brincadeira, faz parte da literatura portuguesa. Brincadeira é em um momento difícil do Brasil a imprensa desautorizar os médicos pela sua liberdade de clinicar”, disse em referência ao tratamento precoce.

O presidente também negou que o colapso no sistema de saúde público de Manaus, que passou por 9 dias sem o abastecimento de cilindros de oxigênio, foi por demora de resposta do governo, e disse que em menos de 48h chegaram os objetos no local. “Fizemos a nossa parte”, declarou.

4) “Os números da economia estão fantásticos”

Questionados sobre as promessas de campanha, em que falava sobre inflação, dólar e juros baixos — não cumpridas —, Bolsonaro diz que, comparado com outros países, “os números da economia estão fantásticos”.

“As promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos ano passado e também pelo conflito da Ucrânia com a Rússia. Se você vê os números de hoje, você vê que somos um dos únicos países do mundo com deflação, a taxa de desemprego caindo”, declarou. Ele afirma que pretende continuar com reformas econômicas, que considera “a grande vacina da economia”.

5) Aliado do Centrão, mas sem corrupção: “No meu tempo não era chamado de Centrão”

A mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação ao Centrão, grupo de siglas do Congresso Nacional que reúne grande capital político ante ao Executivo, foi questionada por William Bonner, durante a sabatina do Jornal Nacional desta segunda-feira (22/8). O chefe do Executivo era um crítico ferrenho do grupo durante as eleições de 2018 e, agora, tem os parlamentares desses partidos como base de governo.

Em resposta, Bolsonaro afirma que Bonner está o estimulando a ser "um ditador". "Está me estimulando a ser ditador, porque o Centrão são mais de 300 parlamentares. Se eu deixar eles de lado, eu vou governar com o quê? São 513 deputados, do lado de lá, os 200 que sobram, pessoal do PT, PCdoB, Rede, não dá para conversar. Até porque eles não teriam número suficiente para aprovar sequer um projeto de lei comum", declara o presidente.

"Em 2018, o senhor chegou a dizer com propriedade que governos anteriores fizeram alianças com centrão, e criticou que fez nomeações do centrão. E terminou com ‘por isso não integro com centão’. Mas há dias, o senhor falou com naturalidade, eu sempre fui do centrão. Em nome da clareza, no que o eleitor deve que acreditar? O senhor sempre foi do Centrão ou o, como em 2018, o senhor disse 'eu não sou do Centrão por esse motivo'?", questionou o jornalista.

Em resposta, Bolsonaro desconversa. "No meu tempo não era Centrão. Não existia Centrão. No meu tempo esses partidos que eu já integrei não eram tidos como Centrão", disse. Em seguida, deixa a pergunta de lado e passa a afirmar que o governo dele não tem corrupção e que isso se deve à indicação de ministros com "critérios técnicos".

6) Ibama age com “abuso” para inibir desmatamento

Questionado sobre a desautorização de demonstrar de equipamentos de garimpo ilegal, Bolsonaro diz que o Ibama age com um “abuso” de poder. “A destruição, como está em lei, se dá quando não você não poder tirar o equipamento daquele local. E o que vinha acontecendo, e ainda vem infelizmente, é que o material pode ser retirado e há o abuso de uma parte. E tem locais na Amazônia que é permitido o cultivo”, diz. Ao ser questionado sobre abuso de qual parte, Bolsonaro responde que é o Ibama.

“Por parte do Ibama. O que diz a lei: um trator, por exemplo, você tem que tocar fogo se não puder tirar do local e o pessoal do Ibama taca fogo mesmo podendo ser tirar”, diz. Perguntado o por quê se interessa em proteger equipamentos que derrubam árvores da Amazônia, Bolsonaro gagueja.

“Não tá derrubando árvores da Amazônia. Tá derrubando em áreas…. muitas vezes… mas nem… a lei não fala se o local é permitido ou não. A lei não fala, tem que ser destruído. A minha orientação é que tem que ser cumprido a lei”, diz sem responder a pergunta. Depois, ele afirma que a proteção desses equipamentos é “cumprir a lei”.

7) Sobre trocas dos ministros da Educação: “A pessoa chega e você vê que não leva jeito para aquilo”

Sobre a “dificuldade de escolher um bom ministro da Educação”, já que em quatro anos Bolsonaro indicou cinco, o presidente disse que “muitas vezes, depois que a pessoa chega, a gente vê que a pessoa não leva jeito para aquilo”.

O presidente afirmou, ainda, que na prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, envolvido no escândalo do tráfico de influência com pastores na pasta, ainda não havia “nada contra ele”. “Se tiver hoje em dia, é outra história”, diz. “E se tem um pastor no gabinete dele, qual é o problema? Agora se ele faz besteira…”, acrescenta.

“O ideal não era ter rotatividade nenhuma, mas acontece”, diz. Quando Bonner se referiu ao envolvimento de Milton Ribeiro com pastores como "escândalo do MEC”, Bolsonaro se exalta. “Que escândalo, Bonner? Uma saída é escândalo?”, quesitonou. “Não é escandaloso, presidente, um ministro destinar dinheiro da educação para dois pastores falando que o presidente da República indicou um deles?”, rebateu Bonner.

“Cadê o dinheiro aparecendo? Você não sabe e tá me acusando”, disse Bolsonaro. “O senhor tem direito de não achar um escândalo”, disse Bonner ao encerrar a discussão.

8) Interferência na PF

Bonner leu uma carta feita pela Associação dos Delegados da Polícia Federal com críticas a Bolsonaro. O documento diz que o presidente trouxe “desgastes à imagem da instituição Polícia Federal e aos policiais” e que falas de Bolsonaro “jogaram desconfiança sobre a autonomia e a imparcialidade da Polícia Federal”.

Bolsonaro fez trocas no comando da Polícia Federal e foi acusado, pelo ex-ministro da Defesa Sérgio Moro, de interferir na corporação. O presidente afirmou que ninguém “comanda a PF”, se não “Lula, Dilma e Temer” fariam isso e que a carta da associação é resultado de uma negativa a um reajuste salarial pedido pela categoria.

Sabatinas do Jornal Nacional

Bolsonaro foi o primeiro convidado da série de entrevistas promovida pelo telejornal com os presidenciáveis com melhor desempenho na pesquisa Datafolha de 28 de julho. A ordem das sabatinas, que duram 40 minutos, foi estabelecida por meio de sorteio.

Depois de Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) será entrevistado na terça-feira (23/8); Lula (PT) na quinta (25/8), e Simone Tebet (MDB) na sexta (26/8). André Janones (Avante) seria o quinto candidato a participar da série, mas retirou a candidatura para apoiar Lula no primeiro turno.

 

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