Eleições 2022

Bolsonaro recua e diz que há fome, mas não ‘na proporção que dizem por aí’

Presidente Bolsonaro ainda citou um estudo controverso do presidente do Ipea, Erik Figueiredo, sustentando que a fome no Brasil não aumentou durante a gestão do atual chefe do Executivo

Ingrid Soares
postado em 30/08/2022 14:47 / atualizado em 30/08/2022 14:48
 (crédito: Ed Alves/CB/DA.PRESS)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.PRESS)

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato aà reeleição, afirmou nesta terça-feira (30/8) que “tem fome” no Brasil, mas “não na proporção que dizem aí”. A declaração ocorreu durante sabatina organizada pelo Instituto União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) com candidatos à Presidência da República, quando o chefe do Executivo comentava sobre o comércio de pesca no país.

“Fala-se em fome no Brasil. Tem fome? Tem fome, mas não na proporção que dizem aí — '33 milhões'. Parece o Lula falando, né: ‘25 milhões de crianças abandonadas no Brasil’”, ironizou.

“Os dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que o Brasil tem reduzido o número de famílias que vivem na linha da miséria enquanto isso, no mundo, tem aumentado”, alegou.

Confira a sabatina organizada pelo Unecs:

Retrocesso das políticas de proteção social

O Ipea envolveu-se em uma controvérsia política, em razão de dados apresentados recentemente pelo chefe da entidade. Presidente da fundação desde março e ex-subsecretário de Política Fiscal da equipe do ministro Paulo Guedes, o economista Erik Alencar de Figueiredo assinou um estudo no qual contesta recentes pesquisas que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar. Ao avaliar os impactos do Auxílio Brasil, o documento, divulgado na semana passada pelo Ministério da Cidadania, sustenta que a fome no Brasil não aumentou durante o governo de Jair Bolsonaro.

O estudo chancelado pelo presidente do Ipea contrasta com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e executado pelo Instituto Vox Populi. O levantamento mostrou que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil atualmente, mais do que há 30 anos, em um retrocesso das políticas de proteção social.

O material assinado por Figueiredo não foi discutido nem recebeu parecer de outros pesquisadores, diferentemente do que costuma ocorrer. Em nota, a Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea) afirmou que a divulgação desses dados constitui uma violação da legislação eleitoral, que proíbe a publicidade institucional nos 90 dias que antecedem as eleições. "Na tentativa de produzir efeitos e repercussão, o governo federal utiliza-se da máquina estatal para a produção do que 'aparenta ser', na realidade, uma cara propaganda eleitoral. Custa o preço da democracia, do jogo limpo e do respeito às instituições", criticou a entidade.

Bolsonaro já havia afirmado que "fome para valer, não existe, como da forma que é falado". "O que que é extrema pobreza? Você ganhar US$ 1,9 por dia, isso dá R$ 10. O Auxílio Brasil são R$ 20 por dia. Quem porventura está no mapa da fome pode se cadastrar e vai receber", disse a um podcast.

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