Combate à desinformação

Nobel de Economia sobre fakenews: "Está ruim e deve piorar"

Em evento em São Paulo, psicólogo e escritor israelense Daniel Kahneman afirmou que a regulação do mercado de dados é complexa e apontou que as fakenews devem piorar na próxima década

Henrique Lessa*
postado em 30/08/2022 18:28 / atualizado em 31/08/2022 18:57
 (crédito: Carol Mendonça/Divulgação Neoway/B3)
(crédito: Carol Mendonça/Divulgação Neoway/B3)

O escritor israelense e psicólogo Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia, disse que a democracia deve enfrentar problemas com as fakenews. “Isso só começou, está ruim e deve piorar”, afirmou nessa terça-feira (30/8), durante evento focado em dados para os negócios, realizado pela Neoway e sua controladora a B3 (Bolsa de Valores de São Paulo).

Kahneman destacou que o problema das fakenews deve ser potencializado na medida em que a Inteligência Artificial (IA) já consegue criar imagens e vídeos falsos com uma qualidades muito maior, com mais facilidade e rapidez antes não imagináveis. Para o especialista, a “próxima década será difícil e teremos que enfrentar essa questão”. E assinalou: “Essa é a questão mais importante que nossa sociedade deve enfrentar”.

Quando questionado pelo Correio sobre os efeitos dos dados e das redes sociais na democracia, o professor da Universidade de Princeton disse já haver estragos. Para ele, estamos expostos a muitas opiniões extremas, que ganham espaço na multiplicidade de fontes de informação. Ele pontuou ainda que, “há alguns anos, tínhamos nos Estados Unidos apenas três grandes canais de televisão, CBS, NBC, ABC. Hoje, há uma diversidade e muitas (redes) tendenciosas”.

Algoritmos

Kahneman, que ganhou o Nobel pelas suas pesquisas no campo da economia comportamental, também com trabalhos sobre a psicologia do julgamento e da tomada de decisão, apontou que as crenças vêm mais das emoções do que de um pensamento racional. Para ele, “as pessoas não votam de acordo com seus próprios interesses. Há vários tipos de fontes de erros, e uma das maiores fontes são nossas emoções”.

Ele comentou ainda sobre a função dos algoritmos: "prender o usuário o maior tempo nas plataformas". Para isso, segundo o especialista, usualmente apresentam conteúdos que reforçam o que já se pensa e que isso amplia a polarização da sociedade.

Quando questionado sobre a regulação do mercado de dados, disse ser um tema delicado, na medida em que pode ser uma regulação sobre as liberdades, e reforçou que os desafios gerados pela IA estão apenas começando.

Para Kahneman, a IA deve gradualmente assumir diversos espaços nos quais a decisão, a partir de dados, se mostra ser a mais eficiente, mas que "isso deve enfrentar a grande desconfiança que o ser humano tem por aquilo que não é humano, aquilo que não é natural". E lança o questionamento: “O que acontecerá quando a inteligência artificial adquirir a capacidade de tomar decisões empresariais melhor que os CEOs?”

 

* O repórter do Correio viajou para o evento em São Paulo a convite da Neoway e B3.


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