ELEIÇÕES 2022

Campanhas de candidatos à Presidência lutam contra estagnação

O Correio buscou os resultados de duas pesquisas de intenção de votos de setembro de 2021 e março de 2022, para ter uma ideia das mudanças em dois períodos de um semestre

Vinicius Doria
Victor Correia
postado em 31/08/2022 05:43 / atualizado em 31/08/2022 05:44
 (crédito: Miguel Schincariol/AFP)
(crédito: Miguel Schincariol/AFP)

A pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições, as equipes de campanha se debruçam sobre números e recortes das pesquisas eleitorais e projetam estratégias para esta reta final de campanha. Mas os últimos levantamentos de intenção de voto não ajudam a sustentar previsões de mudanças significativas nas preferências do eleitorado nas próximas quatro semanas. A última pesquisa MDA/CNT, divulgada ontem, repete o cenário relativamente estável para os candidatos mais competitivos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera com 42,3%, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 34,1%. Ciro Gomes (PDT) se mantém em terceiro, com 7,3%, seguido pela senadora Simone Tebet (MDB), com 2,1%.

Na comparação com a pesquisa MDA/CNT feita no início de maio, Lula cresceu um ponto percentual, enquanto Bolsonaro subiu dois pontos, quando ainda estavam na disputa nomes como João Doria, Sergio Moro e André Janones, já fora da corrida presidencial.

Para avaliar o comportamento do eleitorado com base em um período mais longo, o Correio buscou os resultados de duas pesquisas de intenção de votos — Datafolha e Ipespe — feitas em setembro do ano passado e em março deste ano, para ter uma ideia das mudanças em dois períodos de um semestre.

Doze meses atrás, Lula tinha 44% de intenção de votos no DataFolha e 43% no Ipespe. Bolsonaro, em segundo, registrou 26% e 28%, respectivamente. Seis meses depois, Lula seguia na liderança, com 43% nos dois institutos. O presidente registrou, na época, 26% e 28%, respectivamente. Nos últimos levantamentos, de agosto, o petista lidera com 47%, contra 32% de Bolsonaro, pelo DataFolha; e por 44% a 35% no Ipespe.

"Há meses que eu chamo esta eleição de entediante", disse o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro A mão e a luva, o que elege um presidente. Ele lembrou que Lula cresceu "abruptamente" entre março e junho do ano passado, quando teve anuladas suas condenações pela Lava-Jato. A partir de então, se mantém estável na liderança.

Bolsonaro, por sua vez, iniciou, neste ano, uma ligeira recuperação. "Mas tudo muito lento, dentro da margem de erro, de uma forma muito suave, sem emoção", avaliou Almeida.

Nos bastidores das campanhas, quem está atrás luta para levar o pleito ao segundo turno, enquanto a equipe do líder joga para não errar e decidir tudo em 2 de outubro. Por enquanto, os números que as pesquisas mostram não avalizam projeções confiáveis. O próprio candidato Lula costuma repetir, em seus encontros, que "a eleição não está ganha". O aumento do Auxílio Brasil para R$ 600; a queda no preço dos combustíveis, via redução de impostos; e a criação de benefícios para caminhoneiros e taxistas ainda não surtiram o efeito desejado pelos aliados do governo, mas podem contribuir para uma virada de expectativas.

"A avaliação do governo federal é decisiva. Se melhora, Bolsonaro cresce. Se piora, Lula aumenta sua quantidade de votos. Bolsonaro está fazendo o que pode para melhorar essa avaliação. Abriu um rombo fiscal enorme (para bancar o pacote de bondades para o eleitor) e, agora, tem de aguardar a economia reagir. Não há muito mais a ser feito", disse Almeida.

Em março, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), fez uma previsão de que Bolsonaro, embalado pelas medidas econômicas, empataria com Lula nas pesquisas antes mesmo das convenções partidárias, no fim de julho. Não aconteceu. Em entrevista ao Correio, no início deste mês, o ministro recalibrou a expectativa. "Tenho certeza de que Bolsonaro chega ao primeiro turno na frente. Com 15 dias de programa eleitoral, a eleição estará empatada", vaticinou.

A esperança de que as próximas pesquisas captem alguma alteração no humor do eleitorado aumenta a expectativa em relação a elas. Amanhã, está prevista a divulgação do DataFolha, que pode refletir alguma influência dos eventos eleitorais recentes, como as entrevistas dos candidatos ao Jornal Nacional, o debate da Band e o início da propaganda obrigatória no rádio e na tevê.

Azarões

Até os candidatos considerados "azarões" esperam conquistar alguns pontinhos com o eleitorado, aproveitando a superexposição que tiveram. Essa é a aposta da senadora Soraya Thronicke (MS), que disputa a Presidência em chapa puro-sange do União Brasil e espera capitalizar a boa participação que teve no debate da Band (ela não foi convidada para as entrevistas no Jornal Nacional).

"Na campanha de 2018 (ao Senado), eu só fui aparecer nas pesquisas na última semana, em quinto lugar. No domingo, eu estava eleita. As pesquisas estão erradas? Eu não sei te dizer, acredito que não. A pesquisa é uma foto do dia, a gente tem de prestar atenção no filme", afirmou a candidata ao Correio.

Simone Tebet (MDB-MS) também espera converter em votos os elogios que vem recebendo pela participação no debate. Como meta, a equipe de campanha mira o terceiro lugar — ocupado desde o início da corrida sucessória por Ciro Gomes.

"De fato, nós teremos segundo turno. Não há como não ter", prevê a presidenciável. "Eu não estou medindo muito se vai ser agora ou daqui a uma semana. A gente tem a perspectiva, sim, de, chegando ao terceiro lugar, em uma semana dobrarmos essa pontuação. A gente passa a ser o voto útil. Se isso vai acontecer em 10, 15 dias, a gente não sabe", comentou.

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