Desafios 2023

"No Brasil, o político se orgulha quando gasta muito", critica economista

Juliana Damasceno, da Tendências Consultoria, afirmou que a métrica para as políticas sociais deveria ser o resultado e não a quantidade de gastos

Raphael Pati*
postado em 15/12/2022 16:36 / atualizado em 15/12/2022 17:12
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)

A economista Juliana Damasceno, da Tendências Consultoria, afirmou que falta planejamento para cumprir a responsabilidade fiscal no país. Para ela, o planejamento é "básico em qualquer contexto que você queira imaginar para além do amanhã".

“Quando a gente fala em responsabilidade, um dos pilares que a gente consegue ver, pelo menos no meu ponto de vista, que não tem sido muito respeitado e que tem sido bastante esquecido é o planejamento. O planejamento é básico em qualquer contexto que você queira imaginar para além do amanhã”, disse, nesta quinta-feira (15/12), no seminário Desafios 2023 — o Brasil que queremos. Organizado pelo Correio Braziliense, o evento é realizado de forma semipresencial no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, com transmissões nas redes sociais e no site do jornal.

  • Participação do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no painel especial sobre credibilidade para o crescimento durante o seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’ Khalil Santos/CB/D.A. Press
  • Seminário 'Desafios 2023 - o Brasil que queremos', promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, Zeina Latif, economista. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Seminário 'Desafios 2023 - o Brasil que queremos', promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, Jorge Arbache, vice-presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Seminário 'Desafios 2023 - o Brasil que queremos', promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto (e/d), Tony Volpon, Vicente Nunes e Jorge Arbache. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, abre o seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’, promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, abre o seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’, promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, abre o seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’, promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da Ryo Asset. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’, promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, o correspondente internacional, Vicente Nunes. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Seminário 'Desafios 2023 - o Brasil que queremos', promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, José Roberto Afonso, economista e um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Seminário 'Desafios 2023 - o Brasil que queremos', promovido pelo Correio Braziliense, no Centro de Convenções. Na foto, José Roberto Afonso, economista e um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal. Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press
  • Juliana Damasceno, economista da Tendências Consultoria participou do primeiro painel do seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’, que discutiu responsabilidade fiscal e social Reprodução/Youtube Correio Braziliense
  • Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, abre o seminário ‘Desafios 2023 — o Brasil que queremos’ Reprodução/Youtube Correio Braziliense

Para a economista, esse planejamento passa pela questão da sustentabilidade econômica. Ela sustentou também ser importante lutar para corrigir os erros do passado e teceu críticas ao sistema de emendas de relator, chamado popularmente de "orçamento secreto". Para ela, a correção desses erros deve passar pela questão cultural dos políticos do país.

Falta um pouco da cultura, de reavaliação de gastos, algo que lá fora é constantemente aplicado, Se formos ver a literatura e as boas práticas orçamentárias internacionais, existe toda uma metodologia muito bem elaborada. O Brasil deveria se espelhar para voltar em programas que são ineficientes, corrigir esses problemas e fazer com que os recursos sejam melhor gastos”, considerou.

Poucos resultados

Damasceno aproveitou para afirmar que “o político se orgulha de quando ele gasta muito, quando a métrica não deveria ser o gasto, mas o resultado”, e também argumentou ser necessário alocar bem os recursos, ainda mais se forem escassos.

“Enquanto a gente não mudar esse olhar e os políticos não colherem méritos porque estabilizaram as condições macroeconômicas, conseguiram gerar crescimento através de juros baixos, incentivos à produtividade, reformas microeconômicas, enquanto o gasto for responsável por ser, sozinho, esse motor do crescimento, a gente vai continuar incorrendo nos mesmos erros e tendo problemas de cultivar essa sustentabilidade”, avaliou.

Entre os exemplos, a economista destacou o Auxílio Brasil. Segundo ela, o governo falhou ao mudar a forma de distribuir os recursos. Em vez de repassar os valores segundo a quantidade de membros na família, como no antigo Bolsa Família, o programa do governo Bolsonaro passou a adotar o modelo de distribuição para as famílias, em geral, sem considerar o número de membros.

“Desde novembro do ano passado, quando começou a vigorar esse novo formato, nós vivemos uma explosão considerável na quantidade de famílias unipessoais. Ou seja, as pessoas estão se registrando de forma separada, simplesmente para acumular benefícios. De quem é o problema? De quem é o erro? É do governo, que não sabe desenhar uma política eficiente, bem localizada e que não fiscaliza isso”, criticou.

Responsabilidade não é austeridade

Além disso, Damasceno trouxe ao debate a realidade de haver um entendimento de que a responsabilidade fiscal se resume em austeridade com o fisco. Para a economista, o importante é garantir que os recursos sejam gastos da maneira mais eficiente possível.

“Existe essa noção um pouco distorcida de que responsabilidade fiscal é austeridade fiscal, mas não é simplesmente você gastar menos, é você gastar melhor. Nós temos recursos escassos e a qualidade desses gastos deveriam ser prioridades”, disse a economista.

Correio Debate

O seminário Desafios 2023 — o Brasil que queremos reúne grandes especialistas, executivos, autoridades e integrantes da equipe de transição de governo para abordar as novidades e as transformações no próximo ano.

O formato do debate do Correio tem quatro painéis de discussão de temas que dominarão o cenário econômico do próximo ano: Responsabilidade fiscal e social, O crescimento passa pela infraestrutura, Educação: a sociedade quer ser ouvida e A saúde como fonte de sustentabilidade da nação. O encerramento do evento será feito pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

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