Novo Governo

Julgamento das RP9 soma tensão entre Legislativo e Judiciário

Boa parte dessas articulações envolvem o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cuja influência tem muito a ver com as emendas de relator

Raphael Felice
Taísa Medeiros
postado em 19/12/2022 05:56 / atualizado em 19/12/2022 05:57
 (crédito: Pedro Gontijo/Agência Senado)
(crédito: Pedro Gontijo/Agência Senado)

O julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade do orçamento secreto será retomado hoje e está sendo acompanhado com lupa pelo Congresso. O placar, por enquanto, está 5 x 4 para torná-lo inconstitucional e a decisão da Corte tem tudo para determinar os rumos das alianças que estão se formando para a próxima legislatura.

Boa parte dessas articulações envolvem o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cuja influência tem muito a ver com as emendas de relator. Ao Correio, um aliado do governo Jair Bolsonaro afirmou que a relação entre Legislativo e Judiciário não é e nunca foi boa, pois, segundo ele, o Supremo "atropela constantemente" prerrogativas da Câmara e do Senado. Mas podem piorar caso a Corte determine a inconstitucionalidade das emendas de relator.

"Vão querer proibi-las? O voto da ministra (Rosa Weber) não foi uma decisão, ela estava legislando. Se eles querem legislar, mande-os (os ministros do STF) votarem o Orçamento na semana que vem", desafiou o deputado, que preferiu não se identificar.

Transparência

Na cúpula do governo eleito também há o entendimento de que as RP9 são uma prerrogativa do Congresso. Apesar de entender que, caso o STF determine a inconstitucionalidade da medida será "bom para a República", um cacique petista no Congresso entende que o Parlamento tem o direito às emendas de relator, já que a falta de transparência foi solucionada após a aprovação, na última sexta-feira, do substitutivo do senador Marcelo Castro (MDB-PI) ao Projeto de Resolução do Congresso (PRN) 3/2022, que dá publicidade ao modelo de repasse.

"O STF é autônomo, vai tomar a decisão dele. Como dizia Rui Barbosa, o Supremo tem o direito de errar por último, mas, com todo respeito, não estamos descumprindo nenhum preceito constitucional. Não vejo, hoje, com a votação do Congresso, o STF ter razão ao declarar a inconstitucionalidade", comentou Castro, após a aprovação do PRN.

O cientista político André César acredita que a definição do rumo das emendas de relator é uma questão fundamental para as relações políticas. Ele avalia que a resolução aprovada pelo Congresso indica na direção de uma votação mais apaziguadora no STF.

"É uma tendência dos dois ministros que ainda irão votar, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, não acompanharem integralmente o voto de Rosa Weber. Resolvido esse impasse, pode votar a PEC do Bolsa Família na terça", avalia.

Para o mestre em ciência política e professor do Ibmec-DF Danilo Morais, o julgamento não deve azedar a relação com Congresso. "O tribunal deu sinais claros de capitulação quanto ao tema. Com um placar de 5 x 4, os dois votos pendentes são abertamente favoráveis à manutenção do arranjo. No fim, a Corte deve impor alguns retoques cosméticos, que ampliem a publicidade das emedas de relator, como, aliás, já fizera antes, sem que disso resultasse qualquer melhoria objetiva", critica.

Nesse sentido, Morais defende que é possível que a nova resolução sobre a matéria, editada na semana do julgamento e a toque de caixa, tenha facilitado as negociações nos bastidores.

"Há ampla convergência entre parcelas majoritárias do Parlamento e do governo eleito pela manutenção desse arranjo, que se tornou central na governabilidade da coalização, diante da debilidade crescente dos poderes presidenciais", lamenta.

Cobertura do Correio Braziliense

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Correio Braziliense nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram, no TikTok e no YouTube. Acompanhe!

Newsletter

Assine a newsletter do Correio Braziliense. E fique bem informado sobre as principais notícias do dia, no começo da manhã. Clique aqui.

 


Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.