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Aliados atacam política monetária e fazem ofensiva contra BC

Governo coloca parlamentares na linha de frente dos ataques a Campos Neto para forçá-lo a abrir mão da política monetária

Ingrid Soares
Rosana Hessel
Raphael Felice
Taísa Medeiros
postado em 09/02/2023 03:55
 (crédito: Billy Boss/Câmara dos Deputados)
(crédito: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu uma cruzada contra o Banco Central, colocando, agora, os parlamentares na linha de frente dos ataques. Ao mesmo tempo em que bate, coloca o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para assoprar.

Após reunião do Conselho Político, ontem, no Planalto, essa estratégia ficou evidente, e o objetivo, apontado por analistas, é forçar a renúncia do presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, nomeado pelo antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Especialistas lembram que o chefe do Executivo poderá trocar dois diretores da instituição em 2023, e, nos quatro anos do terceiro mandato, oito.

Os mandatos do diretor de Política Monetária, Bruno Serra Fernandes, e do diretor de Fiscalização, Paulo Souza, vencem no fim deste mês e ambos podem ser reconduzidos por mais quatro anos. Porém, tudo indica que Souza, servidor de carreira, continuará no cargo, mas Fernandes, oriundo do mercado financeiro, como metade da diretoria (de oito integrantes), será substituído.

Campos Neto é o primeiro presidente do BC autônomo, com mandato fixo até dezembro de 2024. Na avaliação do economista e ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, dificilmente ele abrirá mão do cargo da instituição fundada por seu avô, Roberto Campos, com o risco de jogar no chão a credibilidade do BC independente por conta das pressões do novo governo.

O sócio fundador da Tendências Consultoria considerou que Lula está dando "um tiro no pé" ao encampar essa briga com o BC e adiantou que a Tendências acaba de elevar de 12% para 13% a previsão para a taxa básica da economia (Selic) para o fim deste ano, como reflexo do aumento de incertezas nessa atual conjuntura.

"Uma demissão do presidente do Banco Central seria uma catástrofe. Haveria um colapso na confiança dos investidores, porque nenhuma regra que é exemplo em vários países prevalece e é destroçada diante de um movimento imediatista", alertou Nóbrega.

Ele lembrou que, na Argentina, quando o BC de lá conquistou autonomia, o presidente do órgão acabou saindo quando houve troca de governo e, "deu no que deu". O país vizinho nunca conseguiu estabilizar a moeda e, em 2022, fechou o ano com inflação pouco acima de 90%.

No Congresso, contudo, as críticas ao BC estão ganhando eco e provocando mais polêmicas. A Federação PSol/Rede, aliada do governo, apresentou um projeto para retirar ou reduzir a autonomia da instituição, mas o PT e as lideranças da base aliada sinalizam que não articulam a aprovação de um projeto nesse sentido.

Apesar das críticas de Lula à taxa Selic de 13,75% ao ano, que prejudica o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), Nóbrega lembrou que, no primeiro mandato do petista, a Selic estava em 26,5% anuais (quase o dobro), mas a conjuntura era outra, com boom das commodities e cenário externo favorável.

"Agora, com o mundo podendo entrar em recessão, o PIB do Brasil, na melhor das hipóteses, vai crescer 1,2%, neste ano, e 2%, nos seguintes. Lula sabe disso e está buscando um bode expiatório para colocar a culpa quando esses números se confirmarem", resumiu. "O BC está no seu papel de fazer alertas e interpretar os efeitos de uma trajetória expansionista e irresponsável no campo fiscal e sobre a inflação, que afeta as expectativas, as decisões de investir", emendou.

"Não sei quem o Lula tem escutado, mas me preocupa essa interlocução. Ele precisa ser mais bem assessorado, até para pensar se é válido ingressar nesse tipo de debate. Não acho producente politizar diretamente um tema tão delicado", destacou Julio Hegedus, economista-chefe da coreana Mirae Asset.

Negativas

O ministro Padilha, por sua vez, negou que o governo esteja fazendo pressão para que o Senado antecipe o fim do mandato de Campos Neto ou que ele seja convocado para prestar esclarecimentos sobre a taxa de juros.

"Não existe nenhuma iniciativa do governo de mudança da lei atual do Banco Central e nenhuma pressão sobre qualquer mandato de qualquer diretor", reforçou. A base do PT e do governo confirmam o que foi dito por Padilha, mas admitem que o desejo do Executivo é de que Campos Neto "jogue" de acordo com o governo que venceu as eleições e não "contra".

No mesmo evento de ontem, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o objetivo do governo é chegar ao fim deste ano com a taxa Selic em 8% ou em 7% ao ano. No entanto, analistas lembram que as projeções de inflação sobem há oito semanas e estão acima do teto da meta, de 4,75%, enquanto o mercado espera que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresente um novo arcabouço fiscal crível para ajudar a evitar uma piora nas estimativas de inflação.

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