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Na véspera da reunião do Copom, governo sobe o tom contra taxa de juros

Na guerra aberta pelo governo para tentar baixar a Selic, Alckmin diz, em evento do BNDES, não haver justificativa para o índice de 13,75%, 8% acima da inflação. Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz afirma que patamar é "chocante"

Victor Correia
postado em 21/03/2023 03:55
 (crédito: BNDES/Divulgação)
(crédito: BNDES/Divulgação)

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) — que começa hoje e vai deliberar sobre manter ou alterar a Selic, a taxa básica de juros —, um evento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi palco, ontem, para uma série de críticas ao patamar da taxa, de 13,75%, que o governo tenta reduzir. O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse não haver fundamento para o atual valor. Convidado como palestrante, o professor da Universidade de Columbia e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, afirmou que a taxa é "chocante" e equivale a uma "pena de morte".

"Não há nada que justifique ter 8% de juros real acima da inflação quando não há demanda explodindo e, por outro lado, quando o mundo inteiro tem praticamente juros negativos. Mas acreditamos no bom senso e que a gente vá, com a nova ancoragem fiscal, superar essa dificuldade", discursou Alckmin na abertura do evento, no Rio de Janeiro, do qual participaram, também, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante; a ministra da Gestão e Inovação dos Serviços Públicos, Esther Dweck; e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes.

Alckmin classificou os juros altos como "um problemão", por dificultar o consumo, inibir investimento e aumentar a dívida do governo. Ele aproveitou para exaltar o novo arcabouço fiscal, que o governo prepara. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem reforçando que quer anunciar a medida antes da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, no próximo sábado.

"Acho que o governo encaminha, nos próximos dias, o projeto de ancoragem fiscal, que vai, também, combinando a curva da dívida: de um lado, superavit; de outro lado, o controle do gasto. Uma medida inteligente, benfeita, que vai trazer bastante segurança na questão fiscal", avaliou Alckmin.

Mercadante, por sua vez, passou o recado de que o BNDES não será um "banco acanhado", como no passado. "Estamos aguardando o novo arcabouço fiscal. O ministro Haddad pode esperar de mim e do banco total lealdade e parceria. Não temos expectativa de substituir ninguém e nem de competir", discursou. "Agora, não nos peçam para deixar de dizer o que pensamos e ajudar o governo a acertar, a encontrar o melhor caminho, a buscar as melhores práticas. Aquele banco acanhado do BNDES acabou. Ele vai debater, investir e impulsionar o crescimento do país."

Em linha com a ofensiva do governo contra a Selic elevada, Joseph Stiglitz se disse surpreso com o fato de o país conseguir se manter economicamente com uma taxa de juros em tão alto patamar. Em sua avaliação, isso só foi possível graças à atuação dos bancos públicos brasileiros.

"A taxa de juros de vocês é, de fato, chocante. Uma taxa de 13,75%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte", ressaltou. "Parte da razão de vocês sobreviverem a essas taxas de juros é que vocês têm bancos estatais, como o BNDES, que têm feito muito com essas taxas de juros, oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores."

O americano vê as taxas de juros historicamente altas no Brasil como uma "desvantagem competitiva". Ele frisou que o país teria um crescimento muito maior caso adotasse uma "política monetária mais razoável".

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