O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, ontem, na frente do governador Cláudio Castro, a Polícia militar do Rio de Janeiro, acusada da morte do menino Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, em uma operação na Cidade de Deus, domingo. Em evento em Campo Grande, zona oeste da capital fluminense, Lula deu as costas para o público e defendeu, olhando diretamente para Castro, que a PM precisa ser mais bem preparada para não matar inocentes. O governador ficou visivelmente incomodado. O presidente, porém, amenizou logo a seguir afirmando que não estava "jogando a culpa em nenhum governador", e que o Executivo federal também tem responsabilidade.
Lula participou da cerimônia de início das obras do Anel Viário de Campo Grande, que terá financiamento de R$ 702 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ao evento também estava presente o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD).
Apesar da crítica à violência policial, Lula fez acenos a Castro e chegou até mesmo a rebater um princípio de vaia de seus apoiadores ao governador.
"Não é só Copacabana, Ipanema. É o povo pobre, negro, da periferia, que precisa ser tratado com respeito. Para que nunca aconteça o que aconteceu com um menino de 16 anos (Thiago tinha 13), que foi assassinado por um policial despreparado, irresponsável. A gente não pode culpar a polícia, mas tem que dizer que um cidadão que atira em um menino que já estava caído é irresponsável e não estava preparado, do ponto de vista psicológico, para ser policial", frisou.
Thiago foi atingido por cinco tiros, segundo seus parentes. A PM afirmou que vai "averiguar as circunstâncias do caso" e que os policiais revidaram fogo de dois homens em uma moto — o adolescente teria sido atingido supostamente no fogo cruzado. Relatos dos moradores dão conta que os policiais ainda tentaram remover o corpo do menino do local após constatar a morte, mas foram impedidos.
Olho no olho
Ao comentar o episódio, Lula deu as costas ao público e falou diretamente a Castro. "Precisamos criar condições, governador, e o presidente da República quer ter responsabilidade, junto com você, de a polícia ser eficaz, pronta para combater o crime. Essa polícia tem que saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua. E, para isso, precisa estar bem informada", enfatizou. Castro concordou, com os braços cruzados.
Mas, em seguida, Lula amenizou. "Não estou jogando a culpa em nenhum governador. O governo federal tem que assumir a responsabilidade de ajudar os governadores no combate à violência, porque o crime organizado está tomando conta do país", frisou.
Castro é correligionário de Jair Bolsonaro e o apoiou à reeleição. No evento, que contou com ministros e aliados de Lula, o governador foi vaiado — mas o presidente contornou a situação anunciando que "a eleição acabou". Paes, aliado de Lula, também chamou a atenção do público. "Aqui, ninguém tem problema com filiação partidária".
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.